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Contos-->Com que roupa eu vou? (minicontos) -- 16/03/2019 - 10:19 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
  
Belas tardes de domingo velejam na lembrança de auroras que se foram“ Com que roupa eu vou?” Indaga Raquel para si mesma, ao receber do filho o convite  para jantar à noite  em Cachambi.
Naquele dia, Raquel reviveu memórias de sua carreira  meteórica (curta) e glamour explodindo na beleza seminua das  passarelas. Agora, era ela a mesma pessoa, mas os tempos, outros. Bons tempos aqueles!... Lembranças do passado, que tão rápido, se foi.
Escolheu a melhor roupa, nem tanto glamorosa  como em seus tempos de estrela, nem de tão pequeno gosto. Cuidou ainda de não se dirigir a Ravenala, chamando-a de Nathalie. Com certeza, qualquer desalinho de raciocínio, causaria desconforto irreparável aos companheiros de noitada. Refez cenas e cenários, contemplou  cinco anos de glamour, somados a  meio século de  posterior anonimato: duas faces a vida lhe ofereceu: a primeira, tecida com fios  mágicos de encanto e beleza,  aplausos, fama e beijos; a segunda, indiferença, solidão  e desprezo.  No entanto, e apesar de tudo, ainda era seu o Cadilac vermelho-acetinado com o qual, no passado, esbanjara elegância e beleza na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. 
— A senhora guarda muitos traços de beleza e fino trato, dona Raquel.
— A mão poderosa do deus tempo, triturou-me os ossos. Sou estrela que o vento soprou. O resto, bem o resto, é o que sobrou de mim. 
As linhas do rosto revelavam as noites mal dormidas, jornadas de glamorosa fama que hoje a verdete  trocaria por uma velhice saudável. Para que lhe serviram os holofotes e as noites agitadas, se agora só tinha o negrume e a solidão? Não tinha sequer azeite para reacender a estrela que se apagou.
Após o tilintar de delicadas taças de cristal, o discurso da mãe de Fernão dá ao encontro um clima de tranquilidade e paz.
— Meus filhos!  Nesta vida, em tudo que fazemos e somos, deveríamos ser como a brisa suave. Ela fala da rosa, e nada diz dos espinhos. 
— Muitos desejam a felicidade, poucos a procuram aonde ela pode ser encontrada — disse Ravenala no intervalo de uma e outra garfada — canhoto,  Fernão? Não sabia que você era canhoto!
— Sinistro. 
Ravenala sorriu.
— Nem tanto sinistro. Dizem que os canhotos são mais  hábeis em determinadas atividades  que os destros.

A  noite cai imensa e pesada. 

No ar pairavam dúvidas e incertezas: alguma coisa  sobre o filho, Raquel escondia. Fernão era muito calado. Talvez suas queixas fossem menores do que a dor. Fora casado e pensava confessar tudo a Ravenala, mas,  o medo de perdê-la sugeria  que deixasse a sombra se desfazer, lentamente, na presença da luz. 

Ele arrastava em seu histórico muita tristeza. Doídos momentos de uma situação que não estava a seu alcance modificar. E tudo veio à lume, quando, no decurso do processo de nulidade, o defensor do Vínculo admitiu que, Fernão, ocultara doença grave, para se casar com Nathalie. Só isso bastou para que  Nathalie conseguisse a Declaração de Nulidade do Matrimônio. Então, Fernão era solteiro. Ravenala  também. Ele estava disposto a assumir novo relacionamento, desde que não dependesse de assinar papel nem no  cartório nem na Igreja. 
Trocaram olhares e  sutis afagos, enfim, muita rosa e pouca prosa.
— Queres me dizer algo?
— Não, não! Estou só pensando em uma viagem que preciso fazer à França.
— E nem me convidas, talvez eu possa ir junto.
—  Não vou a passeio. Não tenho boas lembranças das tardes de Paris.
 — Que dia viajarás?
— Amanhã.
— Passou de meia-noite. Então, viajas hoje.
— Tens razão. 
Ravenala sentiu os ventos elísios congelarem seu coração. ‘Com que roupa eu vou?... Não vou a lugar nenhum’ E se conteve em apenas levar Fernão até o aeroporto.
 ***
Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."
 
 
 
 
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 16/03/2019
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