Volta às aulas
O momento da "Volta à s Aulas" é um marco interessante no calendário, época de agitação que influi na vida das cidades. Todos regressam das férias, o movimento nas papelarias e livrarias fica uma loucura. O trànsito de carros e bicicletas aumenta consideravelmente. Comerciantes enfeitam vitrines com todo tipo de acessórios, desde lancheiras incrementadas, agendas chamativas, estojos da hora e até mochilas que não entortam a coluna.
Se perguntarmos aos jovens se estão contentes, muitos dirão não gostariam de voltar nunca mais, que a escola é a coisa mais chata do mundo, devia ser abolida. Mas isso não é verdade, eles gostam da escola, o que não gostam é de estudar. E gostam mais ainda do primeiro dia de aula, porque é uma festa.
É o dia oficial do encontro, dos abraços, das novidades. Os colegas são os mesmos, mas as classes não. Os professores são outros, os livros diferentes. Eles também estão diferentes, mais crescidos, mais amadurecidos. O curto espaço das férias de verão é capaz de transformar menininhas em moças e rapazes desengonçados em gatos atraentes. Ao se reencontrar fazem a maior gritaria, dão pulinhos de alegria, não estão nem aí para as regras do colégio. Até os mestres menos considerados são recebidos com entusiasmo, o pessoal da limpeza é festejado e os inspetores de alunos são vistos com mais simpatia. Os diretores ganham, por alguns dias, o conceito de "gente fina".
Isso tudo sem falar do orgulho que sentem em estar uma série acima da anterior. Todos contentes, entusiasmados e, mesmo que não admitam, curiosos para desvendar os mistérios que o novo ano lhes reserva. Não conheço aluno que não goste de começar um caderno, caprichando na primeira folha, fazendo mil propósitos de continuar assim para todo o sempre. Não conheço aluno que não fique admirando os novos livros, que não goste de comprar a imensa lista de material. Todos gostam, desde os pequeninos até os grandalhões. Algumas crianças choram porque o material do irmão é mais volumoso que o seu. Os grandes se orgulham porque seus livros e cadernos são mais importantes.
As novas matérias são aparentemente desdenhadas, que chato, este ano tenho que estudar Literatura. No íntimo, a curiosidade intelectual fala mais alto, eles estão querendo é saber o que vem a ser afinal essa tal de Literatura.
Nos primeiros dias todo mundo vai arrumadinho para a escola, as meninas capricham no penteado e os garotos exibem sem modéstia os tênis de marca. Se usarem uniforme, arranjam um jeitinho de ficar diferente. Se não, o que se vê é um desfile de fazer inveja ao mundo fashion. E todos ficam reparando naquilo que os outros vestem. Grifes famosas passeiam pelos corredores fazendo de conta que é muito natural. Só as cores não variam muito, vão do indigo blue ao pretinho básico. Dependendo da época, as calças podem estar rasgadas, com a cintura mais baixa ou ainda com a barra varrendo o chão, mas nunca do tipo São Tropeito.
O entusiasmo dos primeiros dias não se restringe aos alunos, entre os adultos também há um clima diferente. Professores chegam descansados, bronzeados. Também fazem auê ao rever os colegas e a moçada, sonhando com um ano melhor, feito de classes pequenas e alunos disciplinados.
Os menores nem dormem direito na véspera desse grande dia. Pulam cedo da cama, pegam a mochila e ficam perguntando se já está na hora de ir para a escola. Lá chegando, os mais tímidos se agarram à saia da mãe e desatam a chorar. Os desinibidos entram correndo e nem olham para trás, deixando as mamães com lágrimas nos olhos e um forte sentimento de culpa no coração.
Para aqueles que acabaram de passar pela cruel etapa do Vestibular, o primeiro dia de aula é uma grande incógnita. O que será que os veteranos vão fazer de mim? A ansiedade agora é outra, diferente daquela que antecede os exames. Ao mesmo tempo que lhes corrói a alma, vem acompanhada de uma sensação de imenso prazer. Com a cara pintada, pedindo dinheiro no meio da rua, podem mostrar ao mundo que entraram na Faculdade !
A volta à s aulas é, realmente, uma festa.
Pena que essa empolgação toda dure apenas algumas semanas.
Beatriz Cruz
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