Em um belo dia de verão americano em 2002, estava eu atrasado para uma das muitas palestras de integração organizadas para novos alunos da Universidade de Chicago. Nesse instante, entrei no elevador extremamente apressado e me deparei com um sujeito magro, de sorriso expressivo e esbanjando simpatia. O mesmo com um voz bem serena fez questão de me acalmar: "Fique tranquilo a palestra ainda não começou".
Agradeci o comentário, saí rapidamente do elevador e ao sentar em um dos últimos lugares vazios no lotado autitório da Universidade percebi que havia acabado de subir de elevador com o palestrante da vez.
Comecei a prestar atenção em suas palavras e logo sua história de vida me cativou. Natural do Havaí, filho de pai africano (literalmente nascido no Quênia), mãe do Kansas (que passa longe de ser um estado de prosperidade económica e social nos Estados Unidos), começou a vida estudantil fazendo trabalhos comunitários em Illinois, depois estudou e se formou com bolsa integral tanto na Universidade de Chicago com em Harvard, aonde se tornou advogado. Enfim,"subiu" na vida.
Logo, curioso, indaguei ao meu colega americano que sentava ao meu lado, "mas, afinal quem é este sujeito?" e a resposta caiu com uma surpreendente afirmativa: - "esse é o nosso futuro Presidente, Senador Barack Obama de Illinois. "Nossa !" pensei, acabara de conhecer o Presidente dos Estados Unidos.
A candidatura Obama quando se faz conhecida, cativa bastante um eleitorado adormecido e descrente com anos de politica conservadora da Era Bush. Obama tem 46 anos, entende a revolução tecnológica que o mundo atravessa e conversa de igual para igual com os jovens (pude testemunhar isso naquele dia em Chicago). Entre os eleitores de 18 a 29 anos, ele conseguiu 52% dos votos até agora nas primárias. Ao mesmo tempo em que desperta o interesse juvenil, traz de volta em seus discursos a razão de viver dos hippies yankees que agora são sessentóes.
Apesar de ser "afro-americano", faz a campanha sem falar em direitos dos negros, e faz menção contínua a fatos que trazem de volta à memória da coalizão entre negros e brancos que garantiu os Direitos Civis nos anos 60. Todas essas caracteristicas o posicionam como um conciliador numa sociedade que já demonstrou estar cansada de polarização.
(*) MAURICIO MOURA é economista, Mestre pela Universidade de Chicago, escreve de Washington, DC, USA. (www.diariodeguarulhos.com.br)
