Só pra comemorar
Depois de algum tempo em Paris, o Zé Eduardo, marido da minha colega Verrá Costá, deu para emagrecer. De início, até ficou contente, pois começou a tornar-se mais elegante. Aos poucos o barrigão foi diminuindo, o corpo afinando, a disposição melhorando. De andar mais leve, subia e descia as escadas com mais facilidade. Rejuvenesceu. Verrá estava gostando do novo visual do marido, quando este começou a preocupar-se. As roupas já não lhe serviam, tudo estava grande, as calças lhe caíam da cintura. No cinto de couro não havia lugar para mais furos.
Nunca tinha perdido o apetite, não sentia dor em lugar algum. Comia bem, dormia bem. Aparentemente tudo estava normal. Por que será que emagrecia tanto? Só podia ser doença e coisa boa não era.
Perdidos doze quilos, começou também a perder o sono. Pouco depois, foi a vez da comida que já não lhe apetecia como antes. Rapidamente começou a se desesperar. Tinha família - mulher e três filhos - todos vivendo lá na França, naquela situação precária que ele mesmo havia inventado. Como seria o futuro deles, caso viesse a morrer logo?
No começo sofreu sozinho, depois resolveu contar suas aflições à mulher. Vera assustou-se, mas alguém precisava conservar a cabeça fria e no lugar. Não podiam continuar naquela angústia. O primeiro passo era consultar um médico, naturalmente. Apavorado, ele relutou, mas acabou cedendo. Afinal de contas, tinha que enfrentar a realidade. Marcou a consulta e foi.
O médico examinou, examinou minuciosamente tudo o que devia ser examinado. Não pediu exame de sangue, radiografias, nada. Antes de dar a sentença final, pós-se a conversar sobre o Brasil, o que ele fazia, o que deixava de fazer. Zé Eduardo descontraiu-se e foi contando.
O médico perguntava uma coisinha e outra e ele ia respondendo. Até que o doutor se levantou, estendeu-lhe a mão e disse:
_ Seu problema, meu rapaz, é a cerveja.
_ Mas como? Nunca mais tomei cerveja desde que vim para a França!
_ Justamente. Aqui você tem bebido vinho, não é? Além disto, o dinheiro anda mais curto agora, não é mesmo?
_ É...
_ Pois foi muito bom. Você perdeu o excesso de peso que era obrigado a carregar e agora está em perfeitas condições de saúde. Parabéns! Continue assim, magro e elegante.
Zé Eduardo ficou nas nuvens. Foi correndo para casa contar a novidade a Verrá.
No caminho, porém, não se conteve. Entrou no supermercado e comprou uma cervejinha.
Só pra comemorar...
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