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cronicas-->Aprendendo com os búfalos -- 04/03/2008 - 11:13 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aprendendo com os Búfalos

Luís Mauro Ferreira Gomes (*)
Em 3 de março de 2008


É sempre muito proveitoso procurarmos, na Natureza, resposta para os nossos problemas. Quase todos os fenómenos que ocorrem nas sociedades humanas acontecem, também, nos bandos de animais que se organizam em grupos hierarquizados. Às vezes, as soluções que eles adotam, mercê da experiência acumulada pelas sucessivas gerações, são melhores do que aquelas que insistimos em criar, individualmente, a cada vez que nos deparamos com dificuldades semelhantes.

Temos recebido muitas mensagens com criticas severas aos colegas da Ativa e aos Comandantes das Forças Armadas, aos quais os missivistas eletrónicos acusam de omissão ou de ações que consideram inadequadas.

Julgamos que esse comportamento é desastroso e tentamos, por todos os meios, mas com resultados fracos, convencer os nossos interlocutores de que é fundamental - um imperativo de sobrevivência - a união de todos os militares.

Para tanto, usamos, repetidas vezes, entre muitos outros, os seguintes argumentos:

- Todos nós já estivemos no Serviço Ativo, quando não tínhamos a liberdade que a Reserva ou a Reforma nos dão agora, não sendo, portanto, nem razoável nem justo exigirmos que outros façam o que não podem e nós mesmos não fizemos antes;

- Um dos Princípios de Guerra mais importantes é o do Objetivo, assim, é contraproducente desviarmos o foco das nossas ações, direcionando-as contra os amigos que não conseguem fazer tudo o que deles esperamos, enquanto deixamos agir livremente àqueles que verdadeiramente nos ofendem;

- Sempre que nos hostilizamos com fogo amigo, tornamo-nos mais fracos no conjunto, e facilitamos a atuação dos que nos querem destruir;

- Para nada serve desestabilizarmos os Comandantes, cobrando-lhes a renúncia ou tentando forçar-lhes a demissão, simplesmente, para reiniciarmos o processo, pouco depois da nomeação dos substitutos;

- As vítimas desses ataques autofágicos são os nossos herdeiros, aqueles que nos sucederam, que aprenderam conosco e que não são diferentes de nós. Eles são a nossa continuidade e não merecem, justamente por isso, o nosso rancor;

- Se, realmente, queremos que defendam, com mais energia, as nossas aspirações, que são as deles também, devemos, primeiro, fortalecê-los, prestigiando-os, apoiando-os, tornando bem claro que contam com a nossa solidariedade absoluta e que uma ofensa a qualquer um será uma agressão a todos nós.

Tendo-se esgotado o estoque de alegações sem que tivesse havido qualquer mudança significativa na situação, consideramos a causa perdida e resolvemos dedicar-nos a outras atividades mais produtivas, consciente de que as dificuldades seriam, ainda, maiores, por estarmos desunidos.

Uma mensagem do General Lessa, porém, trouxe-nos de volta a esperança.

Nela, um elo (http://www.youtube.com/watch?v=LU8DDYz68kM+) remetia para um vídeo amador, feito por turistas que participavam de um safári na África. A gravação foi feita em uma área próxima a um riacho, de onde se tinha boa visibilidade da outra margem, na qual se desenvolveu a ação que passamos a descrever.

Quatro búfalos adultos caminhavam pela savana, a grande distància da manada, tendo um filhote mais afoito entre eles. A càmara se desloca e mostra, bem à frente, no caminho que seguiam, alguns leões, cerca de seis, completamente mimetizados no terreno. Os búfalos continuam a caminhada, até que, a apenas uns vinte metros, o líder percebe a ameaça e dá o alarme. Os cinco disparam na direção da manada, mas o filhote foi alcançado pelos perseguidores e desviado até cair dentro do riacho.

Os caçadores começam a puxá-lo para a margem, onde pretendiam devorá-lo, quando aparece um crocodilo, também muito mal intencionado, que tenta tomar a presa dos primeiros predadores, puxando-a, novamente, para dentro d´água. Seguiu-se uma disputa feroz entre o réptil e os mamíferos, que finalmente, saíram vitoriosos.

Parecia que o azar do filhote não teria fim, quando a manada se aproxima e faz um cerco em volta dos leões. Eram tão numerosos que ocuparam toda a área visível da tela. Nenhum dos outros integrantes da manada participou diretamente da ação. Somente os quatro machos α+ destacaram-se do grupo e passaram a atacar os leões, um a um. Assustados, os felinos ainda tentaram proteger a caça, mas acabaram tendo de fugir, depois de algumas chifradas bastante convincentes. Os búfalos os perseguiram na fuga, mas assim que se afastavam um pouco da manada, desistiam e voltavam rapidamente, pois sabiam que, sozinhos, seriam presa fácil para qualquer dos perseguidos.

Expulsa a última fera, os búfalos se retiraram altivos, com o filhote novamente protegido no seio da manada.

Chego a ter inveja desse bufalozinho de sorte, que pertence a uma grupo capaz de agir coordenadamente, cada um fazendo a sua parte com desprendimento, arriscando a própria vida, para defender um dos seus.

O leitor pensou no que teria acontecido se, ao chegarem à manada, os quatro precursores tivessem sido recebidos com uma saraivada de acusações, por terem fugido diante do inimigo, deixando, ainda, o filhote para trás?

A esta altura, a alcatéia já teria terminado o banquete e, quem sabe, ainda faria algumas refeições extras, aproveitando-se de alguns búfalos feridos no conflito interno.

Bem, a maioria de nós não tem os meios para defender os nossos interesses, mas alguns do grupo se destacaram e vão à nossa frente. Sozinhos, igualmente pouco podem fazer diante das adversidades, que não muitas, contudo, não lhes precisamos oferecer muito, basta dar-lhes a nossa solidariedade maciça, ostensiva e irrestrita, para que afastem os leões que nos perseguem.

Reclamar é fácil. Será que estamos fazendo, pelo menos, o mínimo que nos cabe?

A realidade é simples assim: se formos capazes de aprender a lição que os búfalos nos deram, vencermos, caso contrário, seremos todos devorados.


(*) Luís Mauro Ferreira Gomes é Coronel-Aviador reformado.


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