POEIRA CÓSMICA
Texto e Tradução de Maria José Limeira
(Para Shalamael Ariel)
Irmão dos meus dias vazios.
Charco de sofrimento e solidão.
Tua voz débil e distante me chama.
Tua lágrima se estraçalha
no peito que não agasalha.
Teu vagido se perde na imensidão.
A poeira cósmica que envolveu
Gagarin na nave enfeitiçada
que o abraçou no espaço
ainda é apta para alçar
teu vôo impreciso e teu amor
no espasmo-útero-regaço, onde dormes.
Ainda não nasceste, feto fedorento.
Mas teu débil grito faz-se ouvir
no éter da História dos Mil Dias,
quando o Deus que contestas
planeja-te e faz festas
para o teu natalício devir.
Ou já nasceste e és criança,
violentada ainda no peito.
Sem saber direito
que opção escolher no teu destino.
Menino torturado, menino,
solto em desatino.
Ou já és homem, barbudo,
Cabeludo, pleno de ti,
Em todo o vigor do sexo.
Sorrindo para o futuro.
Sem ligar pra escuro.
Plexo, amplexo e convexo.
Ou és homem-mulher,
Hermafrodita sem-vergonha.
Gozador, irônico, sardônico,
Sem conseguir matar
o menino primitivo dentro de ti,
que ainda salta e brinca.
Não és ninguém, e és tudo.
És o galo-de-campina
que conquistou o mundo.
Perdeste luz, visão, asas.
Ainda assim, sobrevoas
os telhados das casas.
Com o corpo em chagas,
os membros mutilados
no troar da última guerra,
pelas tuas mãos escorre a terra
da vala onde serás sepultado,
como cadáver desconhecido.
Não és nenhum bandido
És poeta. Tua estrelinha,
Musa que criaste, dona de ti,
ainda ficará aqui com o recado:
o Céu onde estarás é bom.
Cantarás no mesmo tom...
Poeta, amargo e dolorido.
Canta junto ao meu ouvido...
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Tradução para o Espanhol:
POLVERO CÓSMICO
Maria José Limeira
(Para Shalamael Ariel)
Hermano de mis días vacíos.
Pozo de dolor y soledad.
Tu voz débil y distante me llama.
Tu lágrima rasgase
en el pecho sin abrigarse.
Tu gemido perdiese en la amplitud.
Polvero cósmico que envolvió
Gagárin en una nave encendida
Que lo ha alzado en el espacio
eres aún capaz de erguir
tu vuelo imperfecto y tu amor
en el espasmo-cuelo-útero a donde duermes.
Non eres nacido aún, feto hediondo.
Pero tu latido se oye
en el éter de la Historia de Miles Días,
cuando el Dios que niegas
planea y hace fiestas
en tu navidad futura.
O he nacido y eres niño,
Violado en el pecho.
Sin saber derecho
que opción menguar en el destino.
Niño torturado, niño, niño
Liberto en el desatino.
O eres hombre, barbado
y piloso, lleno de ti,
En el vigor de tus genitalías,
sonriendo al mondo
sin sujetarse al oscuro.
Teso, abrazado, cóncavo. .
O eres hombre-hambre,
Hermafrodita sin pundonor.
Guasón, sátiro, mordaz
Sin conseguir matar
el niño prehistórico dentro de ti
que aún salta y brinca.
Eres nadie y eres todo.
Eres diminuto pajarito
que conquistó el mondo.
Perdiste luz, visor, alas,
Y mismo así vuelas
sobre los tejados de las casas.
Con el cuerpo en chagras
y miembros mutilados
en el estruendo de la ultima guerra,
por tus manos desliza grano de tierra
del solo donde serás sepultado
Como cadáver desconocido.
No eres ninguno bandido.
Eres Poeta. Tu estrellita,
Musa que criaste, dueña de ti,
aún fijará cuy con un recado:
el Cielo donde estarás eres bueno.
Cantarás en el mismo tono...
Poeta amargo y dolorido.
Canta cuy junto al mi oído...
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