Foguinho
Aroldo Arão de Medeiros
Foguinho ganhou essa alcunha ainda garoto. Era um capeta. Rei das diabruras e traquinagens, vivia aprontando com os amigos. Baixinho não temia os maiores que ele, muito menos os de seu tamanho. Menores quase não havia.
Foguinho crescia e o espírito maligno crescia junto com ele. Quando chegou à adolescência, costumava namorar duas garotas ao mesmo tempo. Dava cano em uma para sair com a outra e vice-versa.
Vanildo era o seu nome de batismo. Mas creio que ele até esquecera disso, porque gostava era de ser tratado pelo apelido. Mas o fogo dele, o facho, certo dia apagou. Conheceu Daniela, que o colocou nos eixos. O rapaz, antes alegre, que adorava curtir a vida com os amigos, se transformou. Passou a sair somente com Daniela e a sorrir menos, apesar da alegria que dizia sentir por estar em companhia da namorada. Seu sorriso era fechado, pois se lembrava das brincadeiras que outrora fizera e, por culpa do amor, não podia mais praticá-las.
Casou-se, teve um casal de filhos, crianças lindas que puxaram sua esposa. Se fossem parecidos com ele não seriam agraciados com a beleza que o padrão determina.
Sua vida passou a ser enfadonha e para não perder a graça , frequentava o boteco do Geraldo. Bebia pinga pura acompanhada de uns bons goles de cerveja. Tornou-se exímio jogador de dominó, dificilmente alguém ganhava dele Daniela foi percebendo o distanciamento do marido, foi notando o fim do romance, o abandono da casa, dos filhos. E resolveu dar um basta.
- Vanildo, ou tu paras de beber e cuidas melhor da casa, dos nossos filhos e nos dás mais atenção e amor, ou eu vou para a casa da mamãe.
Foi o que Foguinho nunca imaginara que poderia acontecer. Nunca sequer pensara perder aquela beldade. Daquele dia em diante transformou-se num outro homem. Trabalhava mais que o normal, chegava cedo em casa e, sempre sorridente, agradava à mulher e aos pimpolhos que já estavam bem crescidos.
Mas como ninguém muda assim tão rapidamente, com Foguinho não podia ser diferente. Logo teve uma recaída. Numa das viagens a serviço apaixonou-se por outra mulher. O caso foi duradouro, mas Foguinho sofria constantemente com o medo da traição ser descoberta por Daniela. Certo dia, desconfiado que a mulher estava sabendo de algo, resolveu acabar o romance com a outra que, segundo ele, já estava ficando sério demais.
Mas, sem coragem de terminar o romance pessoalmente, deixou um bilhete para a amante.
- Marli, apesar da demora de minha decisão pretendo com este bilhete terminar o nosso romance. Nunca escondi de ti que era casado e que jamais iria abandonar minha esposa. Chegou o momento de nos separarmos. Você merece ser feliz com outro homem. Juro que nunca vou esquecer os momentos que passamos juntos. Você só me proporcionou alegria e deixará somente boas lembranças. Fique com tudo que te dei, porque foi com amor que foram doados.
Marli, ao ler o bilhete, não sabia se chorava ou se sorria. Os motivos para as duas alternativas tinham justificativas bem diferentes. Chorar representava dizer que o tinha amado muito. Sorrir significava que ficara contente com tudo o que ele lhe deu: uma casa mobiliada, um saldo bom no banco, um carro e nenhum filho.
Ficou com a última alternativa e, após exibir um pequeno sorriso, soltou uma boa gargalhada.
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