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cronicas-->O Sonho de Valsa -- 23/03/2008 - 14:33 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Sonho de Valsa

Fernando Zocca

Van Grogue não era pá mas também consideravam-no largo e chato, tal e qual. E quando ele começava a falar, meu amigo, saísse da frente, pois ele emendava um assunto no outro, e não parava enquanto não se visse exaurido.
Seu interlocutor poderia demonstrar, pelas feições, estar já cansado da lenga-lenga, mas nosso amigo não se importava muito com o conforto alheio. Na verdade Van falava muito, para não ouvir o que o outro poderia dizer-lhe. Ele sentia um medo terrível de escutar algo que o comovesse ou lhe causasse sentimentos desagradáveis.
Grogue tinha dificuldades para lidar com aquelas sensações desconfortáveis. Ele não digeria os mal-estares tão facilmente e, por isso mesmo, evitava a passividade numa interação.
O matuto, que era chegado num cigarro de palha, pensava e agia como pensam e agem os boxeadores num ringue: "Aquele que está batendo, não está apanhando".
Naquela tarde, dirigindo um Chevette branco 78, no qual atrelara uma carroça, feita de carcaça de geladeira velha, para catadores de papelão, mas que trazia cheia de tijolos, Grogue incomodava-se com a sede que sentia e buscava, firmando a vista fraca, pelas ruas em que passava, onde poderia haver, naquela hora do feriado, um boteco aberto.
Para desespero do Van, ele contava e contava os quarteiróes, percebendo só a somatória da sede que se multiplicava. Bar aberto, que era bom mesmo, nada.
Quando bêbado Van Grogue confundia guarda-livros com blibliotecário e diletante com de ler tanto. Alguns arriscavam dizer até que a mente do Grogue passava agora, por um processo conhecido pelos psiquiatras como concreção, cuja cabeça era mesmo dura, de bagre louco e cabeçudo.
Todos os demais inúmeros enganos, somados ao analfabetismo, verdadeira indigência espiritual, que lhe garantia a pecha de mendigo mental, depunha contra o conceito de fidalgo que ele se auto-outorgava.
Durante uma parada, na esquina movimentada, naquela rua que o levava à Prefeitura, Grogue viu a menina balofa vestida com uma blusa amarela e short preto, saindo da padaria, desembrulhando um Sonho de Valsa.
Então sua cabeça de bêbado começou a funcionar; ele pensava: "Sonho de Valsa... valsa... dança, compõe a palavra mudança. Mas por falar em dança, não seria melhor mesmo, botar aquela sobrinha, numa escola onde aprenderia a dançar?"
Quem poderia explicar ao Grogue, durante aquelas crises confusionais, sobre a falsidade da noção "Mentir é natural e faz bem?"
Quase ninguém acreditava ser o Van um sujeito valentão, o legítimo diro, espanta-patrulha. Mas era. Quando sozinho ele mirrava em valentia, mas em bando, meu amigo, saísse correndo, porque ele avançava até dar-lhe uns sopapos.
O Chevette velho do Grogue queimava óleo, deixando um rastro de fumaça branca por onde passava.
Além do barulho exacerbado, produzido em decorrência da dezena de furos, no escapamento enferrujado, ele temia ser parado pela fiscalização, que poderia incriminá-lo, por agressão ao meio ambiente.
O ronco forte do carro impediu-o de ouvir a saudação que lhe devolvera o especialista em filtros de piscina, ao ser cumprimentado com um "Fala aí, paneleiro!" seguido por duas buzinadas. "Big Mano, um bom rapaz!", pensou Grogue.
Quando Van passava defronte a padaria do gorducho bexigoso, situada na rua Boa Vida, uma das mais movimentadas de Tupinambicas das Linhas, sentia um ramo de nostalgia e lembrava que as 312 pizzas que deixara de produzir, naquele final de semana, quando era ainda pizzaiolo contratado, por causa de um toco que lhe caíra no dedão, fora mesmo o pomo da discórdia, motivador da sua demissão por justa causa.
Um fato porém era inconteste: Van Grogue era macho! Macho até debaixo d´água. Afinal quem poderia fazer o que ele fazia, fumando do jeito que fumava? Suas ações eram semelhantes à de quem movimentava valores e praticava operações bancárias, submerso numa piscina.
Alguém, faria isso se não tivesse as características de peixe-cabra que ele tinha?
Van Grogue era tiro e queda.
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