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Artigos-->O ENGANO DA MULHER -- 23/03/2003 - 14:56 (Marta Helena da Mata Almeida) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A gente vem pra cá cheia de esperança e ilusão. A gente chega e se assusta, se amedronta, se retrai. A Itália não é nada daquilo que pensávamos; nada aqui tem a ver com a gente, nem tampouco com o que acreditávamos sobre a vida nesse País. Pensávamos a Itália como um país caloroso, romântico, alegre e sentimental, quase um irmão do Brasil; da forma que os italianos emigrados nos descreveram. Mas a Itália que eles deixaram já não é mais aquela, mudou com o tempo, assim como os seus filhos de além-mar, que ficaram meio brasileiros. E também se sabe que o ser humano tende a supervalorizar o que não tem mais, lembra-se só das coisas boas. Do mesmo modo que, daqui, o Brasil nos parece melhor do que é de verdade. O nosso país parece ser melhor, exatamente, por ser nosso, por fazer parte da nossa história, do nosso caráter, da nossa cultura.

Tão logo se bota o pé na Itália, se leva, de cara, um belo bofetão: a discriminação. Se você é negro essa lambada chega imediatamente, se é branco chega quando você abre a boca e eles percebem o sotaque.

No Brasil, não somos preparados para esse tipo de relacionamento, pelo menos não em relação ao estrangeiro. Aliás, só quando a gente sai do País é que descobre como é exagerada e até nojenta a gentileza que dispensamos aos estrangeiros. Será a nossa herança tupiniquim que trocava pedra preciosa por paus de fósforo, será o eterno sentimento de inferioridade que nos incutiu os nossos colonizadores, devidamente sustentados pela Igreja da Fé Católica, será uma grande falta de vergonha, mesmo. A nossa herança de colônia permanece implícita e imutável em nosso comportamento e a gente se comporta como macacos de auditório quando recebemos turistas ou parentes que chegam do exterior. Somos invadidos por uma certa (estúpida) preocupação de que talvez eles não se sintam muito à vontade e de não estarmos à altura das expectativas. Mas, como seria possível? Eles se sentem em casa desde que Colombo atracou nas ilhas do Caribe e os seus seguidores varreram milhões de nativos do mapa das Américas!

Os estrangeiros vão pro Brasil e fazem o que querem, se comportam como se tudo lhes fosse devido e, nós, pela maneira como os recebemos justificamos esse comportamento. Se prestarmos atenção, eles começam a fazer pouco caso da gente lá mesmo. Para eles somos aborígines muito mansos e de extrema gentileza, uma espécie de cãezinhos vira-latas. Mas não pensem que isso é privilégio nosso, eles fazem a mesma coisa com os orientais, os árabes e os africanos.

O que realmente assusta é a maneira como nos tratam, aqui. já de cara nos pregam uma etiqueta na testa: extracomunitários! Que equivale a: não bem-vindo, indesejável, incômodo. Somos extras, não no sentido de super, mas de fora, estranho, exótico, diferente.

Se somos negros, somos neri (pretos), ou pior: di colori, e eles têm um medo tremendo de que a nossa negrura pegue neles; se somos mulatos, somos ainda negros; se somos morenos, somos mulatos e, se somos brancos, não somos brasileiros!

O negro, do ponto de vista deles, deve ser evitado, separado; mas, ao mesmo tempo é objeto dos mais recônditos desejos, símbolo sexual ardente, irrefreável e, principalmente, casual. E pra quem jamais resolveu direito a sua sexualidade, nada melhor que um negro, ou melhor, uma negra, para uma noite de sexo inesquecível.

Um siciliano, nada branco, contando a sua história com uma mulata brasileira me descreveu muito bem a situação: - “Sabe, vivi com ela por três anos. Foi ótimo. Mas, um belo dia ela veio me dizer que desejava ter filhos. Me separei. Viver com uma negra é uma coisa: bonita, gostosa, fogosa! Ter filhos negros já é demais!”.

Esse é um exemplo clássico do que é, na grande maioria dos casos, a relação entre mulheres estrangeiras (atenção: originária de um país pobre) e homens europeus.

As mulheres do terceiro mundo, muito miradas pelos machos italianos frustrados, ignorantes e decadentes, são usadas como objeto e basta. A mesmíssima condição das escravas que serviam de válvulas de escape ao patrão branco, só que agora, há um pouco mais de alegoria.

As brasileiras, habituadas ao confronto com o homem brasileiro, em geral, machista e pobre, porém menos hipócrita, vêem no europeu uma espécie de príncipe encantado, o latin lover dos seus sonhos. Principalmente, quando o primeiro contato acontece em uma de nossas praias ensolaradas, sensuais e toda Eros; onde aportam anualmente milhares de machos à procura de sexo fácil, onde descarregar séculos de frustração que nenhum capitalismo foi capaz de liberar.

- Por que não? Sexo fácil é a nossa especialidade!

Quando nos deparamos com este espécime masculino, em geral, de bom aspecto, charmoso em suas roupas de linho impecáveis, parece que vivemos um conto de fadas. Tal aventura seria perfeita se não fosse aquela aliança que ele tenta, em vão, esconder e aquele ranço, nada agradável, que denuncia a escassez de banho à que o nosso príncipe é habituado.

- Mas, e daí? Foda-se! Nem tudo é perfeito!

O grande problema, é que esse príncipe tão logo beijado, ou melhor, fodido, ao contrário do que acontece na fábula, começa lentamente a transformar-se em sapo. Transformação que se completa quando nos casamos ou mudamos para a casa dele, quando já estamos irremediavelmente envolvidas. Cai-se o véu da fantasia e descobrimos o que são realmente: machistas, mammistas, estúpidos, grosseiros e verdadeiros unhas de fome!

Quantos milhares de nós não largaram tudo: família, casa, amigos e até filhos e saíram correndo, orgulhosas, atrás de um deles e de um futuro azul celeste que logo se transformou em pesadelo. O pior é que, mesmo descobrindo o engano, a maioria não tem coragem de voltar, desistir. Acham impossível reconhecer o erro e recuar, acham-se incapazes de recomeçar uma vida sem grandes pretensões, mas limpa, honesta, onde a riqueza ou mesmo o simples bem-estar fica sempre ao longe, num horizonte distante, mas sabem que a alegria de estar viva compensa qualquer sacrifício. Mas não, preferem arrastar-se por uma vida inteira de amarguras e desilusões, em um relacionamento equívoco. Muitas se enganam na tentativa desesperada de fazer aquela poupança que permita uma volta para casa, mais ou menos, digna. Porém, uma poupança, por quanto magra seja, significa menos comida; a única coisa poupável neste país. Luxos como cabeleireiro, manicure, depilação, restaurantes, a cervejinha no bar, já deixaram de fazer parte da nossa rotina, quando pisamos no aeroporto.

Aí começa aquela longa e interminável pesquisa nos famosos “Discounts” e feiras de rua, onde você pode comprar quase tudo, por quase a metade do preço. É claro que você não vai mais tomar Coca-cola, mas tem aquela espécie de laranjada bastante passável. Não há lugar em sua mesa nem mesmo para um bom vinho italiano, mas pode ter certeza que um monte de gente vai te convencer que o vinho da caixinha de papel é excelente. E depois, ali você encontra de tudo, devidamente pertencente a sub-marcas de origem duvidosa, mas muito econômico; principalmente para os padrões europeus. No Brasil, você comeria como um rei, durante o mês inteiro, com o mesmo que gasta aqui, em uma semana pra viver, decididamente, como POBRE!

Quanto às roupas, sapatos e móveis, ah, nada melhor do que a feirinha semanal: tudo muito baratinho! Você entra por aquelas ruas intermináveis e passa banca, após banca, com toda aquela roupa pendurada, que parece não acabar mais. Sabe por que? São todas iguais. O que pode variar um pouquinho é o preço, mas, do primeiro ao último camelô, você vai encontrar sempre a mesma coisa: blusinhas, calças, saias e casacos, de material decadente, cor marrom, preto, azul marinho, marrom, preto, azul marinho, marrom ... O estoque das feiras nada mais é do que toneladas de fundo de loja que a ninguém interessou, nem mesmo na liquidação e, roupa usada, muita roupa usada! Tem gente que gasta mais por um blazer Valentino com 10 anos de uso, que por discreto blazer vendido na Rinascente ou na Upim.

Roupa usada, tem coisa mais pobre? Ah, Caco Antibes encheria um caminhão de inspirações, se passasse por aqui.

Voltemos à nossa fadinha doméstica, melhor dizendo à gata borralheira. Porque é isso que você vira quando chega aqui. Tirando alguns exemplares de Greta Garbo de Angola que você encontra nos teatros ou em recepções na Embaixada, daquelas que te olha por cima do salto alto, com um misto de desinteresse e desprezo, como a dizer: essa racinha de brasileiros...

É que ela, quando abandonou o barraco da favela, com aquela malinha chinfrim, deu adeus ao submundo. Esqueceu a malinha no aeroporto, tomou um banho de água sanitária e escondeu muito bem o passaporte. Hoje, desfila com um careca baixinho que, em público mais parece o seu mordomo, em privado... deixo à tua imaginação.

Bom, tirando as Gretas Garbo, a grande maioria vira gata borralheira. É lavar, cozinhar, fazer faxina, passar dezenas de camisas (que devem ser impecáveis), lavar cuecas, engraxar sapatos e carregar enormes sacolas de supermercado; seja você pós-graduada ou semi-analfabeta, o destino é idêntico. Você passa tanto tempo limpando que nem sobra energia e pra, pelo menos, um cineminha.

O marido, bem, o marido nada tem a ver com aquele Adônis que você conheceu na praia. Aquele ficou lá, aqui tem o clone dele. É um cara que, em público, é alegre, bonachão, simpático e cheio de demonstrações de generosidade. Em casa ele conta os centavos, vigia a bolsa da mulher (pra controlar que ela não o esteja roubando), reclama da conta do telefone e da mania que ela tem de deixar as luzes acessas, come como um porco, está sempre cansado, mal-humorado e de saco cheio de tudo.

Gente, eu vi marido que não permite à mulher ir sozinha ao supermercado, que é pra controlar o quanto ela gastou realmente e vive no terror que ela esconda dinheiro dele.

Mas são ótimos maridos, até elogiam o quanto a mulherzinha deles mantem a casa sempre limpa, passa as camisas de maneira perfeita e o faz encontrar a roupa pronta para ele vestir, pela manhã.

Também, todo o erotismo, que o nosso Adônis exibia, ficou lá na praia; em casa ele se joga na cama fedendo, sem vontades sexuais e, se tudo correr bem, vai te procurar no sábado (dia nacional de fazer sexo), vai dar pouco de si e virar do outro lado, roncando. E considere-se felizarda, se ele não for daqueles que passam a semana atrás das prostitutas.

Para aquelas que já tiveram um casamento precedente, cito uma deliciosa frase de João Bosco: “E o relacionamento ... continua a mesma bosta!”.

Algumas, mais corajosas, deixaram os filhos no Brasil e vieram correndo atrás de um homem que resolvesse a sua vida, e ficam esperando que a situação se estabilize e para poder trazê-los. Aí é economizar até a unha pra mandar um pouquinho de dinheiro todo mês, renunciando a qualquer prazer e, principalmente, renunciando ao direito e ao prazer de ser mãe e ter ao lado a sua prole tão querida.

É uma realidade muito cruel, estar longe dos filhos; mas elas fazem isso para o bem deles.

Pelo amor de Deus, a quem queremos enganar? Experimente perguntar pra eles, que bem é esse. Comprar um tênis da Nike?

Há uma outra categoria de mulheres brasileiras, aqui na Itália: aquelas que se casam, têm filhos, se separam e se tornam prisioneiras dos ex-maridos. Realmente, não sei qual das situações é a pior. A lei italiana permite que um dos cônjuges impeça o outro de viajar, quando há filhos menores, mesmo em caso de divórcio, com guarda das crianças. Mas, alguns maridos bonzinhos estão até dispostos a deixar a ex-mulher ir embora para o Brasil, desde que deixe os filhos com ele, ou melhor dizendo, com a mãe dele.

Outro pânico de viver aqui: as sogras. Oh, racinha desgraçada!

Uma sogra é capaz de fazer desaparecer toda aquela paixão que você sentia pelo seu homem, em menos de 15 dias.

As pobres coitadas que vivem com a sogra, podem estar certas que pagarão todos os pecados cometidos nesta vida, em todas as outras passadas e os de todos os parentes.

A sogra consegue ser pior que o Chato, na visão de Tancredo Neves: “É aquele que não te faz companhia e não te deixa curtir a tua solidão”.

A sogra: “Não te faz companhia, não é tua amiga, te despreza, dá palpite (errado) em tudo, controla até o que você come e quer ser chamada de MAMMA!”

É aquela velhinha, enchedora de saco, que agarra no seu pé como um carrapato falante, manda nos seus filhos, foi tremendamente infeliz, mas te ensina a viver, que você odeia e tem vontade de matar, mas que se comporta como tua vítima e pior, de quem você acaba tendo dó.

Gente, tá tudo errado!

O que estamos fazendo aqui? Brincando de vítimas? Testando a nossa capacidade de afundar na depressão?

É hora de acordar e mudar esta situação. É hora de botar as cartas na mesa e, se não der certo, arrumar as malas e se mandar pra casa! Melhor ainda, nem arrumar malas, deixar tudo pra trás. Ir embora sem esse ranço que grudou na nossa pele. Rever e retomar posse do que é nosso: um sol maravilhoso, aquela areia branquinha e fresca da praia, aquele modo de viver cheio de humor e alegria e a capacidade única de rir dos próprios problemas.

Ou então, fique e mude, mude você!

Deixe de se mandada e comece a ditar as regras. Passe a ser dona do próprio nariz e comece a fazer uma coisa fantástica: ensinar o povo daqui a viver, a começar pelo marido, passando pela sogra, até chegar nos vizinhos.

Mas, o principal é reservar-se pequenos prazeres, horas de lazer e de intimidade só pra você, num momento e lugar que ninguém possa incomodar, mesmo que seja preciso ir até o parque mais próximo. Leia bons livros, escute muita música, cante e dance, sempre que puder; dê vida à criança alegre que existe em você.

Aproveite o máximo, pois pode ser muito prazeroso viver aqui, são muitas as coisas que o País nos oferece: poder viajar e conhecer um continente belíssimo (se você não pode ir a Paris, vá até Veneza ou Florença, ou Pavia), conhecer mentes iluminadas que não são italianas ou francesas ou alemãs, são universais e circulam mais freqüentemente por aqui, ter acesso a um vastíssimo acervo cultural e artístico e falar bem uma língua maravilhosa.

Invista na sua pessoa, estude, prepare-se para um futuro melhor. Não caia na desculpa de que não há dinheiro ou tempo suficientes, arranje-os. Arrume-se todos os dias e vista-se bem, mesmo que tenha poucas roupas; prefira pouca coisa que lhe esteja bem, ao invés de encher o guarda-roupa de porcaria.

Afinal, somos mulheres brasileiras, as mais lindas do mundo! Seres cheios de riqueza humana e vontade de viver bem!

O grande problema das mulheres brasileiras, e de quase todas do mundo, é a falta de auto-estima, falta de acreditar em si mesmas, de se aceitarem como pessoas íntegras e cheias de beleza e talento.

Se você se amar, todos lhe amarão. Se você não abrir mão dos seus direitos, todos acabarão lhe respeitando.

Se tem gente sofrendo de amor, não é amor, é engano, é humilhação. Porque ninguém merece o nosso sofrimento ou uma vida arruinada. Por quanto importante seja uma pessoa na nossa vida, o melhor que ela possa merecer é a nossa felicidade, não o contrário.

Ensine o seu homem a lhe amar e, se ele não aprender, dê o fora nele!

Afinal, é sempre melhor estar sozinha que muito mal acompanhada. Talvez você descubra que aquele sonho de amor eterno e perfeito foi apenas um delírio de uma noite de verão.

O importante é saber que existem homens melhores, muito melhores, que somos capazes de enxergar somente quando paramos de procurar alguém que cuide de nós.



Marta Helena da Mata Almeida

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