Porque a gente não grita
Às vezes é difícil entender
Porque a gente não grita.
Calamitosas andam as coisas,
Desastrosas as políticas, insensatas
As medidas de profilaxia social.
E a gente não grita.
A gente não grita, de jeito algum.
Corrompem-nos corpo e alma,
Espoliam-nos as casas, as áreas de lazer,
Afastam-nos de Deus, dos deuses,
Das belezas sagradas herdadas da Terra,
E a gente não grita.
Sufoca na garganta o grito reprimido,
A boca cerrada comprime o peito
A insana voz de protesto emudecida
Alucina a mente entorpecida.
E, diabos, só resta uma certeza:
A gente não grita.
Armagedon, 1 de maio de 1999
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