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Cartas-->Lembranças (para meu pai) -- 08/08/2004 - 17:18 (Martha Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para todos os pais do universo, neste e em qualquer outro plano. Com carinho.


Sei com certeza, pois acredito no que vou dizer, que meu pai nos olha, cuida, guia e protege cada momento nosso aqui neste plano.
Ou se não está mais lá, alguém deve estar fazendo isso por ele, ah com a maior tranqüilidade eu digo isso. Sou espírita, de formação católica, e sempre aprendi que em algum lugar nossas almas se abrigam depois da partida do corpo físico, sei que não perdemos o laço espiritual, pois este se fortifica a cada reencarnação, portanto... Estamos seguros, ligados e eternamente entrelaçados.
Somos também responsáveis pelos laços estabelecidos aqui neste plano a cada reencarnação, e sei também que todos que de alguma maneira interagem conosco também estão envolvidos, por isso, sempre trato meus amigos, reais porque de virtual pouco temos já que manifestamos nossas idéias, sonhos, tristezas, alegrias, perdas e ganhos, com todos e para todos.
Houve um tempo que eu tinha ciúme de quem tinha pai, presente, de carne e osso, com sorriso e lágrima e muito amor demonstrado a seus filhos; houve um tempo que culpava Deus porque isso me fora tirado, tão cedo, e olhava meus irmãos e me perguntava seguidamente: porque? Somos tão pequenos e tão desprotegidos, porque Deus?
Mas a vida nos empurra, ou nos puxa para a realidade (até hoje ainda não descobri bem qual das duas maneiras, mas que ela, a vida faz isso, ah faz), nos cobra posturas, posicionamentos, atitudes, realizações, empenho para ser produtivo e tudo aquilo que a sociedade nos oportuniza, ou não.
Desse tempo de cobranças, eu sempre lembro que nas vésperas de dia dos Pais, eu estudante de colégio Franciscano, era estimulada a produzir homenagens, presentinhos, a meus padrinhos. Segundo a orientação que eu tinha: eles substituiriam meu pai nestes momentos em que ele não poderia ser presença física.
E eu nunca contestava isso, era natural, muitas colegas tinham este probleminha. E eu engolia minha frustração, e fazia o que me mandavam. Com uma diferença: nunca entregava a ninguém os meus “presentes” para os pais, eu não achava isso justo comigo, nem com meus irmãos, nem com minha mãe, afinal eles não eram o PAI que eu queria. E ponto final, eu não fazia mesmo, sempre fui teimosa e durona quanto às minhas decisões, talvez um defeito de caráter, sei lá, ou não aprendi direitinho a educação que minha mamãe nos ensinava arduamente.
Bem, quando eu estava terminando o terceiro ano do segundo grau, prestes a realizar meu primeiro vestibular, no dia dos pais daquele agosto de 1975, ainda estudando na escola franciscana, eu ganhei de uma colega filha de pais espíritas, um evangelho, Kardecista, e comecei a ler.
Surpresa total, tudo que havia na Bíblia estava ali, explicado de outra forma, escrito para ser entendido, ser praticado, ser vivido intensamente: AMOR AO PRÓXIMO, puro, total, irrepreensível porque verdadeiro, contumaz, perfeito em cada palavra.
Meu pai sei que era Maçom, ou pelo menos o pouco que sei dele costumava participar destas reuniões, mas eu pouco sabia disso, e procurava entender a miscelânea de coisas que compunham minha vida.
Hoje, após ter demorado muito para realmente definir minha orientação religiosa, escolhi o Espiritismo, optei pela palavra de amor, que cabe em qualquer religião séria, e entendi que nunca é tarde demais para se fazer o bem, e procurar um caminho de paz e luz.
Neste momento da minha vida eu posso entender claramente porque eu não aceitava a substituição que me era imposta naquela época: eu tive um pai, e só a ele eu amei como pai, e só a ele eu continuo amando até hoje.
Sei o quanto é duro aceitar a perda, a partida, e ainda hoje as lágrimas me vem aos olhos ao lembrar disso, mas aprendi também que o pouco tempo que ele esteve entre nós, foi muito amado e respeitado, não só pela família, mas por amigos que lembram dele como um homem muito especial e justo, que fazia de seu trabalho e de sua vida uma linha reta de ações boas, que não temia os poderosos, que ficava ao lado dos que precisavam, sem olhar a conta bancária ou os bens destas pessoas.
Um amigo antigo, dos que mais conviveu com ele, tem hoje a idade que ele teria, 81 anos, e este amigo especial um dia deste ano de 2004, contou-me que meu pai era tão destemido quanto aos princípios que defendia, que quando alguém o ameaçava, ele reagia e não se deixava intimidar, dessa forma intimidando o outro.
Perguntei a este homem o que isso significava para ele, ele respondeu sinceramente: sabe Martha, teu pai se estivesse vivo ainda hoje, seria alguém muito mais respeitado do que era, porque ele não se deixava subornar, e isto é algo importante no caráter e na vida das pessoas.
Eu ainda lembro dos dias em que ele chegava em casa com uma bandeja de doces, sentava na cadeira da mesa de jantar e nos colocava ao redor, e a gente saboreava os doces, e ria, e ele nos olhava.
Hoje, eu creio que ele sabia que não demoraria muito por aqui, e precisava deixar uma impressão em cada um de nós seus filhos.
Acredito que ele conseguiu: meu irmão tem um caráter e uma honestidade ímpar, um homem que rege sua vida pelos preceitos da verdade, no trabalho ou em sua casa; minha irmã recebeu dele a organização profissional, a retidão de caráter de alguém que transita no meio de todos sem nada temer, que faz seu trabalho sem máculas; e a mim ele legou a capacidade de expressão, a herança de falar e escrever, argumentar sem a menor hesitação, e a vontade de fazer deste um mundo melhor para todos.
Hoje dia dos PAIS, eu resgato um momento importante da minha trajetória neste plano de existência, senti verdadeiramente que era hora de colocar para fora todo este sentimento de dor que por 35 anos guardei bem trancado dentro de mim. Por todos estes anos, sempre abracei minha mãe e sempre procurei dizer a ela que era a verdadeira PÃE... E pronto.
Hoje, 35 anos depois do primeiro dia dos PAIS, sem o meu, tenho a coragem de dizer: meu querido pai, onde tu estiveres, minhas lágrimas são de alegria e desabafo, porque hoje exatamente sei o quanto tu está, esteve, e estará junto de nós, porque tua partida foi física, a espiritual nunca acontecerá, porque te amamos muito, e temos conosco toda a tua história de vida e lutas. Obrigado por ter a coragem de enfrentar meu avô e casar com minha mãe, esta talvez a mais importante decisão da tua vida terrena. Beijo e saudade eu te amo.
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