Usina de Letras
Usina de Letras
308 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62176 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Humor-->É o Máximo - Parte 1 -- 14/11/2001 - 16:15 (ANGEL DRAVEN) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

É o Máximo - Parte I


"Mais valem dois marimbondos voando
do que um na mão."
( Filosofia Popular )


Como dizia o velho deitado...

Nunca soube ao certo o nome dele. Assinava: J. Max. Alguns diziam que se chamava João Maximum; outros, José Maximiliano.
O certo é que havia nascido em Itú, cidadezinha(?) do interior paulista, com mania de grandeza. Ninguém sabia também como havia ganho a alcunha de “Máximo”, se foi em função do nome, ou de sua cidade natal, ou de seu hábito de citar frases ou “máximas”.
A mania de citar “velhos-ditados” ou frases célebres já vinha do seu avô. Era uma herança genética, cultural e acompanhada de uma pequena biblioteca. Foi uma mania aperfeiçoada por seu pai e um hábito que atingiu o auge, o ponto de máximo, com J. Max, que criou uma nova arte: a AXIOMANTURA, ou a arte de dizer axiomas. Alguns diziam que era uma ciência: a CITACIOLOGIA, ou o estudo das citações.
Eu preferia chamar de “MAXIMANCIA”, ou a arte e a ciência de usar máximas.
J. Max nunca se casou. “Casamento se fosse bom, não precisava de testemunha”, parodiava ele enquanto ia se mantendo um solteirão convicto. Nunca se interessou por política e conversava pouco com os vários políticos e candidatos que sempre o procuravam para escrever um pronunciamento ou para convidá-lo a discursar num evento cívico. “A Política é melhor que muitos políticos”, diziam, “juntos é que não funcionam”.
Tirava seu sustento das aulas particulares que dava, sobre todo e qualquer assunto a todos aqueles que o procuravam. Cada um pagava como e quando podia, hora com uma galinha e mantimentos, outras vezes em serviços ou produtos de seus comércios. Deste modo, ao longo dos anos, Max tinha tudo que precisava e precisava de muito pouco. “Não tenho tudo que quero, mas amo tudo que tenho”, diziam dele.
Ia vivendo a vida de sua cidade de interior, como assíduo freqüentador da principal praça, onde todos os fins de semana uma “feirinha” de artesanato era montada. Todos os bares o conheciam e ele a todos freqüentava, mais como um contador de histórias e estórias do que como freguês. “O Max é nosso principal cliente”, todos diziam, em praticamente todos os estabelecimentos. Só o padre se queixava: “Vem muito pouco à missa”, só freqüentando casamentos. Não compartilhava os momentos tristes, pois não acreditava neles, sabendo tirar uma lição de todas as situações, de modo a transformá-las sempre em algo positivo. Por esta característica, era sempre convidado para todas as festividades da cidade, onde normalmente discursava, a convite e pedido da assistência, que sempre aplaudia, efusivamente, as palavras e ensinamentos.
Tinha o dom de escrever e falar de forma clara, objetiva e simples. “A arte está em suprimir as idéias intermediárias ”, diziam.
Sua vida, como a de todos em Itú, seguia a margem do progresso e da loucura das cidades grandes e do mundo, como um oásis de tranqüilidade e simplicidade. Tudo dentro da mais perfeita ordem e da mais justa calma, sem sofrer os efeitos da globalização.
Pelo menos até o dia que lá chegou o Mister Pôu, vindo da América, uma cidade muito distante, com uma língua que quase ninguém entendia. Só J.Max parecia compreender o tal Mr. Paul.
Paul Sullivan, o “Mister Pôu” para Itú, era o executivo que representava a GGII, que se imaginava significar “Gigantesco Grupo de Investidores Internacionais”, em busca de novas oportunidades e regiões para explorar ao redor do mundo.
Tinha um ligeiro defeito na face que o deixou com a boca levemente torta para a esquerda. Somente se notava quando não estava com um charuto, seu eterno e fedido acompanhante.
Como dizia o velho Tonho que vivia deitado no banco da praça, “quem tem boca vai prá Roma, e esse tar de Mister Pôu tem a boca torta e acabou errando a mira e vindo aqui prá Itú”. E se buscava um Papa, encontrou, diziam todos, referindo-se a J.Max, o papa dos ditados.
Mas o que a GeeTwo procurava era lucro, liquidez, baixo risco e alta rentabilidade. O setor de entretenimento parecia atender a quase todos estes fatores.
E um sofisticado sistema computacional com inteligência artificial e processamento paralelo apontou o Brasil e mais especificamente o interior de São Paulo como a localização ideal para mais um novo mega empreendimento da corporação. Mr. Sullivan foi também selecionado por este complexo programa de inteligência supra-artificial e nomeado o responsável para escolher e negociar o local definitivo, pois o avançado sistema computacional não se preocupava com meros detalhes.
Mister Pôu tinha tudo escrito e definido, tim-tim por tim-tim num livro especial, escrito pelo próprio sistema artificialmente inteligente, que ele carregava para cima e para baixo, como uma bíblia, e nunca deixava ninguém ler. Somente o título conseguiram ver e alguns diziam que o livro se chamava “Bizinesplam”. Esse livro contava a estória de um tal de Guliver e parece que deu origem a série “Terra dos Gigantes”. Os investidores da GGII agora queriam construir um tal Parque Temático, do tamanho de uma cidade, chamado LILIPUTI, com brinquedos e atrações imitando a Terra dos Gigantes e as aventuras do tal Guliver.
Qual não foi a surpresa de Mr. Paul quando descobriu que os antigos habitantes de Itú já haviam tido essa idéia, muitos anos atrás, e que, portanto, tinham descoberto antes um tal de “copirraite”, que era uma espécie de tesouro e que valia muito dinheiro. Ninguém sabia dizer onde poderia estar esse tal de copirraite. Só Mister Pôu e Max pareciam fazer uma idéia. E Mister Pôu já havia se decidido e não abriria mão de Itú, pois “mais vale uma cidade na mão do que duas voando”, diziam.
Depois de uma semana conversando com muitas pessoas influentes de Itú, ficou muito claro o que o Mister Pôu estava encarregado de fazer: ele precisava comprar Itú, toda a cidade e todos os habitantes, para poder ter o copirraite só para ele, e assim, a Jejeí poder transformar tudo na “Terra dos Gigantes made in América”. O misterioso Bizinesplam tinha até desenhos de como a cidade iria se transformar num parque temático internacional, repleto de turistas do mundo inteiro. E também quanto lucro a GeeTwo e Mr. Paul iriam realizar. Para tudo isso só era preciso convencer a população a assinar uma tal de “léterovi enténdi”, que era uma espécie de contrato da GGII, que ninguém entendia.
Como o único que parecia entender tudo era J.Max, pois parece que já vira os tais parques temáticos e até mesmo conhecia o tal Guliver, a população o nomeou como representante para conversar com Mister Pôu. E o gringo até mesmo deixou que J.Max lesse o tal Bizinesplam, mas só depois de Max assinar um tal de “nôdesclo zeriagrí mênti”. Era um documento que garantia que Max só iria comentar sobre tudo com os habitantes e não poderia mentir. As pessoas da GGII pareciam gostar mesmo de latim e até mesmo o padre, que reclamava que Max ia pouco a missa, deu o braço a torcer: “Max conhece melhor esse latim dos americanos do que nós, que estudamos o latim de Roma”.
E assim terminaram os dias calmos de Itú, de seus habitantes e de J.Max, o rei dos ditados, homem culto, que iria negociar com Mister Paul, o representante da GeeTwo, a venda da cidade para a construção do “parque liliputiano dos gigantes”, em pleno coração do Brasil.
Estranhamente Max mudou. Ficou mais calado e já não citava tantas frases. Andava cabisbaixo e pensativo. Diminuiu sua freqüência em todos os bares e já não contava mais estórias, só histórias. As vezes tomava alguma bebida e se calava de vez.
Passou até a ir a igreja e muitos o viram como que rezando. Se afastou totalmente das várias mulheres que o procuravam e agora - todos diziam - é que não vai se casar mesmo.
Os amigos mais próximos que freqüentavam sua casa, o viam lendo mais do que nunca, no entanto, não os livros que gostava, mas livros técnicos, de economia e outros complicados que mandou vir da Capital.
Agora passava mais tempo conversando com a Prefeitura, com outros políticos, pequenos empresários e comerciantes da cidade, do que com os amigos, e acabava saindo mais cabisbaixo ainda após cada conversa.
Ninguém sabia ao certo por que J.Max estava desse modo, mas achavam que era porque não estava entendendo direito o latim dos gringos. Muitos na cidadezinha já haviam entendido. Era simples – diziam: todos iam ganhar muito dinheiro e todos ficariam ricos. Até mesmo o Max. Não entendiam por que ele se preocupava tanto em explicar tudo para todos. Pois ele parecia não ter entendido, e todos já haviam entendido tudinho. Os gringos já tinham explicado. Distribuíram aqueles panfletos que mostravam desenhos da cidade – depois da reforma, claro – toda modificada e bonita. Parecendo aqueles condomínios de gente rica, com crianças e casais loiros sorrindo e se divertindo. Não tinham muitos loiros em Itú, mas isso era só um detalhe sem importância.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui