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Cronicas-->O PRIMO BOLIVAR -- 09/04/2008 - 23:35 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Muitas pessoas procuram reunir os antigos colegas de escola, de quartel, de trabalho, e por aí vai. O objetivo maior desses reencontros é, sem dúvida, reviver as alegrias de fatos comuns ocorridos entre eles, em determinados momentos da vida. Com o primo Bolívar, não tivemos a oportunidade de repassamos as páginas de nossa história, porque se foi muito cedo para o outro lado da vida. Agora, depois de sua morte, resta apenas refazer na imaginação os caminhos que percorremos juntos.
Fomos colegas no Exame de Admissão ao Ginásio, quando éramos alunos da Escola Estadual "Justino Luz".. Na verdade, o exame de admissão era uma prova que se fazia, para ingressar no curso ginasial, permitido aos candidatos que houvessem concluído o 5º ano primário. Era uma espécie de vestibular da época e muitos dos reprovados abandonavam os estudos.
De manhã cedo, tomamos a Rua São Benedito em direção à escola. Durante a caminhada de dois quilómetros, trocávamos informações, partindo, principalmente da parte dele que morava a mais tempo em Picos, tinha maior acesso aos jornais que seu pai assinava e era entrosado como os amantes de futebol. Isso, por certo o colaria mais a par das notícia que circulavam na cidade, então, enquanto caminhávamos, ele me perguntou:
- Você soube que mataram Miltom Belo?
- Não, não soube. Nem sei quem é Miltom Belo.
- Ora! - disse ele. Miltom Belo era o maior seresteiro de Picos, cantava fazendo seresta sem nenhum instrumento profissional, apenas batendo uma caixa de fósforos na palma da mão, só andava de branco e tinha um vozerão de fazer inveja. Decerto, foi morto por engano de algum pistoleiro contratado para matar alguém que se parecia com ele, pois ele mesmo, nunca fez mal a ninguém..
Dizem que o tolo calado passa por sábio. Sem entender o que significava ser seresteiro, fiquei calado, até que no final da história, pelo contexto, pude acrescentar mais uma palavra nova a meu vocabulário, tão pequeno e frágil, trazido da comunidade rural onde fui criado até os doze anos de idade.
Meu primo Bolivar era um epecurista também afeito a um bom prato de cultura. Com quinze anos de idade, arrastava cento e dez quilos de sabedoria em sua massa muscular e não se fazia de rogado se precisasse demonstrar seu potencial, quer fosse enfrentando uma luta corpo a corpo com o Nego Manezim, nosso primo e , um ano mais velho do que ele, ou me enfrentando em debates de conhecimentos gerais e língua portuguesa.
No final da segunda metade da década de 60, o amigo José Omar, correspondia através das páginas de uma revista, com uma alagoana, nascida na capital. Mas Zé Omar tinha pouca leitura e muita dificuldade para escrever.
Naquele tempo, uma revista brasileira, publicou em suas primeiras páginas que a bandeira do Piauí era um couro de bode, ruída de muquiranas e por outros insetos perniciosos, coisas mais ou menos desse tipo, se não foi exatamente assim, perdoe-me o editor, pois não tenho mais o exemplar de sua revista.
A alagoana leu a matéria e resolveu escrever a José Omar, sugerindo que ele saísse do Piauí. Nervoso, chega o correspondente com a carta na mão.
- Adalberto, vamos dar uma resposta adequada a essa alagoana? Olha só o que ela diz do Piauí.
A carta recebida estava recheada de advertências sobre o perigo de morar no Piauí, por certo, informações colhidas da revista "O Cruzeiro" que havia publicado uma matéria difamatória contra aquele estado nordestino. .Estávamos nessa conversa quando chega Bolívar e depois de lhe dar conhecimento do conteúdo da carta, veio a pergunta:
- Você topa me ajudar a responder essa carta?
- Vamos responder - disse ele.
Zé Omar e Bolívar ditavam a carta, enquanto o datilógrafo acionava as teclas da velha máquina Ollivetti. A carta, finalmente, ficou pronta e incluia alguns pitacos do jovem burocrata amigo de Zé Omar. Bolivar então, fez subir seus 110 quilos sobre uma frágil escrivaninha Armazém Flor-de-lis, e leu o conteúdo da carta, impostando a voz como um bom advogado de defesa e gesticulando em grande discurso demagógico de mau político.

... Estamos ao dealbar de um Piauí crescente e desenvolvimentista, não é o Piauí que a revista "O Cruzeiro" retratou em suas páginas ferinas, de notícias distorcidas...
Aqui não há insetos perniciosos nem a bandeira do Piauí é um couro de bode. O repórter daquela revista, com certeza,, queria arrancar o dinheiro dos cofres públicos para patrocinar uma matéria sobre as maravilhas do Piauí, como o Delta do Parnaíba e a fantástica Sete Cidades de Piracuruca. Não conseguindo extorquir dinheiro do Estado,teve que comer couro de bode porque não tinha meios de sobreviver ganhado a vida honestamente.
Tenho dito.

Bolivar desceu de seu púlpito improvisado, sorrindo para a juventude de seus quinze anos e mais tarde, ingressou na Faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco. Agora, Dr. Bolivar Lima Batista, prepara discursos para São Pedro ler na homilia do céu.

...

Adalberto António de Lima




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