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cronicas-->.ZÉ BAZAR -- 11/04/2008 - 15:11 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Próspero comerciante de Brasília de Minas, José Alves de Santana herdou de seu pai o apelido Bazar.Zé Bazar começou sua atividade comercial ainda menino como vendedor de pães da padaria de seu João, por pouco tempo, depois, trabalhou na Quitanda de Dona Mariinha e na padaria da Dona Olegária, mas seu aprendizado no comércio se deu mesmo, quando se mudou para a Fazenda de Lezim Dias, na Lapa do Espírito Santo. Lá o fazendeiro tinha uma mercearia e confiava os serviços de compra e venda ao Bazar.
Os homens da família Bazar tinham a fama de namoradores, mas morando na roça, Zé não podia dar continuidade a essa tradição de família, devido à escassez de moças, pois as filhas dos ricos fazendeiros estudavam em Montes Claros. Assim, depois de trabalhar durante seis anos com Lezim Dias. Bazar pediu as contas ao patrão e voltou para Brasilinha, onde abriu um pequeno negócio.
Logo nos primeiros anos como empresário, demonstrou ser bom comerciante, formou um círculo muito grande de clientes, muitas amizades e já contava com cento e dezesseis afilhados de batismo. Como a maioria dos viventes, Bazar gostava de tomar uma caninha e largava o bazar nas mãos dos empregados. Com o decorrer do tempo, não foi difícil perceber que o estoque estava diminuindo, mas como vendia fiado, seu dinheiro deveria estar em boas mãos, nas mãos dos compadres. Em cinco anos de semi-abandono, as prateleiras estavam vazias e as contas a receber eram poucas, sua vida de comerciante bem sucedido, durou pouco mais de dez anos. Dizem que foi roubado pelos empregados - essa é apenas uma versão - pois como tinha muitos afilhados, quando o compadre vinha pagar a conta, José dizia: "Deve nada não compadre, a comadre já pagou."
Sua saída de Brasília de Minas era iminente, os amigos se afastaram e a freguesia desapareceu toda. Foi fácil para a família convencê-lo a mudar-se para Montes Claros, lá ele tinha muitos irmãos formados e bem empregados que poderiam ajudá-lo. De fato, os parentes adquriram um jipe e entregaram a Zé, para recomeçar a vida e pagar o veículo, quando Deus desse bom tempo. Com esse jipe, ganhou alguns trocados fazendo frete e mais tarde, como Caixeiro Viajante. Para os jovens de hoje, talvez a expressão caixeiro viajante, não tenha sentido, mas, significava vendedor, representante de vendas.
A bebedeira, no entanto, debilitou seu potencial de grande comerciante, e não póde se tornar, sequer um bom vendedor, por fim, vendeu o jipe e passou a fazer suas viagens de ónibus, negociando com arroz em Mirabela, Brasília de Minas e São Francisco.
Naturalmente, fazia também a praça de Montes Claros, onde conheceu Dona Raimundinha, uma comerciante e freguesa que se tornara também sua amiga. Certo dia a Raimundinha manifestou o desejo de conhecer, São Francisco, famosa pelo mais belo pór-do-sol das redondezas.
- Não tem problema não Mundinha, vou comprar duas passagens de ónibus para nós. Viajo amanhã.
- Nada disso Zé, nós vamos em meu carro, convide Sinval para ir conosco.
Viajaram os três e no mesmo dia, a noite já avançada, Bazar chega em casa e encontra Dona Dora varrendo a calçada.
- Mulher, varrendo a calçada onze horas da noite, para que isso?
- Estava te esperando, seu mulherengo, acaso pensa que não sei que levou a Raimundinha?
-Sê besta mulher! Levei mesmo, mas Sinval foi "mais nóis".
Zé sentiu o impacto de um objeto pesado sobre a careca. Nada menos do que um cabo de vassoura aplicado com muita raiva e força. Pós a mão na cabeça calva de seus sessenta e nove anos, dos quais, mais de cinquenta passou trabalhando, entrou em casa, olhou no espelho e viu um galo enorme na testa.
- Mulher, você nunca tinha feito isso comigo, nem no tempo em que eu bebia.
- Pois é, pra aprender não me enganar mais. Você além de me trair, vem com a desculpa "esfarrapada" de ter levado Sinval. Eu sei que levou mesmo, mas Sinval é cego de escuridão.
No decorrer da pesquisa de campo, percebeu-se que Bazar escondia algum fato relevante ocorrido em sua vida e insistimos nos casos das comadres. Por fim, ele forneceu mais alguns fragmentos de sua história de vida.
- O povo fala que minha falência foi por causa dos fiados, sem dúvida o rol era grande, mas não me arrependo. Eu tinha boa clientela: fregueses que trabalhavam no DNOCS, na Rede Ferroviária, gente da cidade, da roça, e grandes fazendeiros dos distritos Santa Justa, Fernão Dias, Mangaí, Jacu, Ubaí, que se abasteciam em meu comércio e pagavam em dia. Os funcionários públicos,bastava receber o pagamento do mês, mandavam somar a caderneta. A única coisa que vendi fiado e me arrependo, foi um revólvel.
-Ora, Zé! Pelo que se sabe, seu estoque de outras mercadorias era muito grande, que falta fazia um revólver no meio de tudo aquilo.
- Não, não é tanto por causa do valor. Foi o medo e a vergonha que passei depois. Fiquei sem jeito de cobrar a conta.
- Como assim?
-Não sou valente, mas nunca tive medo de nada. Esse negócio de visagem, assombração, nunca me assustou, mas uma noite tive que correr e nessa carreira medonha, perdi a cabeça do dedão, do dedão direito da mão. Até hoje minha mulher acredita ter sido um acidente com facão, quando eu cortava uma costela de boi para um freguês, mas não foi.
Naquele dia, tarde da noite, acordei compadre Ozório da farmácia para tratar de meu dedo. Ele levantou sonolento, meu dedo sangrava muito, quis saber o acontecido, eu contei.Tratou do ferimento e fui pra casa. No dia seguinte, tive que ouvir calado a história de um compadre, que dizia ter atirado de noite num lobisomem, dentro do quintal de sua casa. "Compadre, se o bicho morreu, eu não sei, mas tenho certeza que acertei nele. Vi uns `pingo` de sangue no chão. O bicho era preto e fedia a enxofre. Era uma figura do capeta, pode não ter morrido, mas saiu furado de bala"
Esse compadre nunca me pagou a conta e fiquei sem jeito de cobrar..Só um amigo de minha confiança, sabia da verdade, o compadre Ozório sabia, mas guardou segredo até morrer..
- Uá, Zé esse caso é interessante, pena que não posso publicá-lo.
- Pooode, moço! Naquele tempo, não podia, porque eu era novo e o compadre,ainda vivo, podia querer tomar satisfação comigo, mas agora, ele morreu, eu já fiz setenta anos... não consegui me aposentar pelo INSS, mas minha "ferramenta" de trabalho se aposentou faz tempo... Dona Dora pode ficar zangada comigo, só por uns dias, não adianta o tamanho do calundu, o ciúme não vai fazer levantar minha "estima"! Nem viagra dá jeito naquilo mais. Acabou o regalo tão farto do tempo de nossa mocidade.

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Notas do autor.
Montes Claros, Mirabela, Brasília de Minas e São Francisco> Cidades do Norte de Minas Gerais.
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