Alon Feuerwerker - Jornal do Commercio, de 11/04/2008.
Enquanto Lula viaja pela Europa, na Amazónia a Polícia Federal procura pela enésima vez colocar em prática uma das mais desastradas decisões presidenciais desde a posse. Tenta retirar da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol produtores de arroz e índios que se negam a esvaziar propriedades que cultivam, em alguns casos, há décadas.
A PF está sozinha na empreitada, já que as Forças Armadas justificadamente se recusam a participar da operação. O Exército não tem mesmo por que ajudar a enfraquecer a presença do Estado brasileiro na fronteira Norte do País nem por que se dobrar a interesses estrangeiros que operam por meio de organizações não-governamentais de fachada.
Felizmente, o Supremo Tribunal Federal interveio lá para suspender a insana operação e parou toda e qualquer ação de despejo até que sejam julgados os recursos sobre o tema na Suprema Corte. Ganha-se, portanto, tempo para tentar uma saída que atenda ao interesse nacional.
A crise em Roraima era perfeitamente evitável. Bastava fazer convergir as diversas demandas e aprovar a demarcação do território indígena excluindo dele as áreas já há muito tempo absorvidas pela civilização. Alguns anos atrás, os dois lados estavam próximos de um acordo, que, entretanto, foi bloqueado devido à s intransigências fundamentalistas encasteladas na Esplanada dos Ministérios.
Ou seja, a crise foi exportada de Brasília para Roraima. Tivéssemos um Congresso Nacional menos omisso, certamente as autoridades responsáveis pela criação do impasse já teriam sido obrigadas a prestar contas aos representantes do povo. Talvez já estivessem fora de suas cadeiras. Mas não. Num Brasil em que infelizmente o patriotismo virou palavra fora de moda, os brasileiros que lutam para manter a bandeira verde-amarela hasteada no nosso extremo norte são tratados pelo governo federal como bandidos.
É uma atitude que rende aos nossos líderes palmas no Primeiro Mundo. Infelizmente - e isso não começou neste governo - há entre nós quem prefira ouvir o aplauso do colonizador do que escutar a voz dos cidadãos que aqui lutam para proporcionar um futuro melhor aos seus filhos e ao País.
Enquanto Lula discursa na Holanda sobre a necessidade de produzir mais alimentos, aqui dentro a sua polícia quer a todo custo tornar improdutivas terras em que a vegetação natural já foi há muito tempo removida e que há anos serve para cultivar arroz. "Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço." Sintomaticamente, Lula nunca foi ao Estado desde que se sentou na cadeira presidencial e não manifesta a menor vontade de colocar seu prestígio a favor de uma solução negociada para o problema. E age como se Roraima fosse um estorvo.