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cronicas-->Alguma Loucura -- 14/04/2008 - 18:46 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você é louco? Se a resposta é não, é mesmo uma pena. Sem um pouco de loucura, meu caro, você vai acabar enlouquecendo de vez. Parece-me que o melhor remédio contra a loucura patológica é dar vazão a alguma loucura sadia que nos permita desafiar o mundo real em defesa de uns bons moinhos de vento. Desvairar aos poucos e sistematicamente. Coisa de louco.
Na minha infància e também na sua existia sempre o louco da rua. Normalmente uma pessoa singular, imprevisível e, por isso tudo, interessantíssima. Lembro-me bem da Nancy, uma adolescente sarará que, embora muda, nunca deixava de registrar sua opinião sobre os movimentos da vizinhança com gestos e sons guturais. Havia também o filósofo da esquina, mais velho de uma família de muitos filhos. Era tão louco que chegava a antever fatos. Até hoje não entendo como aquele rapaz de óculos fundo-de-garrafa foi capaz de adivinhar a hora em que o Corinthians iria fazer um gol num jogo. Na época, já louco de pedra pelo Timão, eu não deixava de acompanhar uma partida pelo radinho de pilha, mesmo que estivesse cumprindo a missão de comprar alguma coisa na venda ou de levar um recado a uma vizinha. Foi num desses dias que o tal adivinho maluco me avisou: "Quando você chegar no portão da sua casa, o Curintia vai marcar um gol." Dito e feito: mal pisei na calçada do número trinte e três da Barbosa Calheiros e o Corinthians registrou um tento. E era um gol de empate. Que loucura!
Para o senso-comum, louco é todo aquele indivíduo que escapa aos padrões. Gente que não reza o catecismo à risca. Bastou ser autêntico para levar ao rótulo de doido. Pode ser o apaixonado que ouve as estrelas, os tresloucados que certo perderam o senso de Bilac. Ou o outro que é louco por ser feliz e pensar "assim", na música dos Mutantes. No terreno da loucura na MPB, Raul Seixas é referência fundamental com o seu "maluco beleza" que resume bem a receita do primeiro parágrafo: controlando a minha maluquez misturada com minha lucidez vou ficar maluco beleza. É o carinha que escolhe o próprio caminho. Onde já se viu ser autêntico! Ser autêntico é coisa de gente louca!
Vai daí que quem segue as regras é lúcido. Quem faz tudo igual é normal. Quem não diz o que pensa é civilizado. Pessoas assim merecem pouco lugar na literatura, na música, no cinema. São sem sal, sem sol, sem cio. Comuns. Os irritantes politicamente corretos de plantão. Mas (sempre um mas...) são eles que conseguem os cargos de chefia, gerência, supervisão. Somos comandados por seres sãos e você poderia dizer "graças a Deus, já pensou um louco mandando em mim?". Mas (aí ele outra vez...), segundo a minha teoria, quem não se deixa levar um pouquinho pela loucura vai acabar louco. Isso explica por que as coisas não andam tão bem no mundo: quem faz tudo certinho é louco patológico potencial e nós estamos entregando o volante para esse povo. Um dia, fatal,: apertem os cintos, o piloto sumiu e pare o mundo que eu quero descer.
Tá me achando meio louco? Obrigado. Tenho me esforçado para manter a sanidade no lugar certo, como um fundo constante para a loucura gostosa do viver. Acabei de tomar banho de chapéu após um debate sobre Carlos Gardel. Não precisa ficar preocupado que a minha dose de loucura é controlada. Estou bem longe de queimar o meu dinheiro. Para essa tarefa, há muitos políticos lúcidos se esforçando nas Càmaras, no Senado e no Planalto. Louco sem cura é quem vota neles.
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