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Cronicas-->Rigoletto, Schopenhauer e a minha inveja -- 14/04/2008 - 18:48 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vivemos a Semana Rigoletto em Rib City. Pelo Quarteirão Paulista, sopraram os ventos da Petit Paris e as paredes do Pedrão tentaram loucamente fazer uma síntese entre o La donna è móbile (que reverbera em minha cabeça até hoje...) e o teto modernoso da Oh!take. Toda essa movimentação em torno da montagem local de um espetáculo tradicional da ópera mundial já foi comentada pelo professor Cassoni e pelo jornalista Eduardo Batista aqui mesmo no Tribuna. Todos ficaram e ficamos surpresos com a boa qualidade geral da montagem e tal e qual.
Fui assistir ao espetáculo na terça-feira. Se existe inveja boa, foi isso que eu senti. Sobretudo em relação à beleza da combinação da orquestra com as potentes vozes de tenores, barítonos, sopranos e cia. Não sou músico, uma frustração comum a muitos de minha geração, mas sou capaz de separar boa música da música ruim. Você também é. Minha inveja vem dessa constatação: por que a música permite que qualquer um, mesmo aquele que não é crítico profissional, desvende sua qualidade? Música boa é música boa. Música ruim é música ruim.
Ah! Peralá, dirá você. E os axés, os pagodes, os RAPs? Mesmo se considerados esses gêneros mais, escrevamos, populares, é possível definir com um certo consenso aquilo que é melhor que aquilo outro. Sertanejo: Chitão e Xororó fazem música melhor que (esforço!) César Menotti e Fabiano; Samba: Paulinho da Viola é maior que (ai, ai, ai!) Só Pra Contrariar; RAP: sei lá, não conheço rappers. Mas deu para entender o meu argumento. Nas artes, é mais fácil sacar o que é música bem feita e mais difícil estabelecer o que é boa literatura, ou boa escultura, ou boa arquitetura. Ai, que inveja!
Antes de ser artista, é preciso dominar a técnica. Qualquer um pode dominar a técnica, basta dedicação. Seria razoável concluir que, técnica adquirida, qualquer um seria artista. Nas letras, é assim que é: dominou a língua e suas regras de escrita, resolveu publicar, é escritor. As pessoas que "escrevem bem", cada vez mais, ganham espaço em blogs, jornais, revistas e livros. Quem garante que esses supostos escritores não são apenas bons tocadores de instrumento? Se fossem músicos, será que seriam apreciados? Seriam ouvidos num teatro? Soariam desafinados? Os leitores mortais não sabem. Só os críticos. E ficamos assim: para definir o que é boa música, ouvidos; para definir o que é um bom livro, lista da Veja. Ai, que inveja!
Filosofemos. Schopenhauer era um cara pessimista. Achava que viver era sofrer. Nessa filosofia meio pesadona, o filósofo que influenciou Freud indicava algumas formas de diminuir a penúria do viver, algumas maneiras de ter um pouquinho de prazer, ainda que passageiro. Um desses "refrescos" era a contemplação das artes. As artes revelariam idéias eternas passando por diversos graus. Em ordem crescente de capacidade de proporcionar a libertação do homem de sua própria vontade estariam: arquitetura, escultura, pintura, poesia lírica, poesia trágica e, a mais importante de todas as artes, música. Se os olhos são as janelas da alma, os ouvidos seriam as portas e a música, a chave perfeita. Ai, que inveja!
Então, sob as vibrações do Rigoletto de Verdi e da filosofia pós-kantiana de Schopenhauer, peço a benção do maestro e do literato para declarar os meus desejos para 2008. Primeiro, um voto egoísta: que a minha inveja da música se transforme em consciência de que o escritor deve imitar o músico e praticar, praticar, praticar sua arte para buscar a perfeição inatingível (com a unção do paranóico Flaubert: sai, preguiça!). Depois, para todos que escrevem: que nós consigamos produzir algo que tenha um pouco do vigor do Rigoletto, que nossos textos possam, conforme disse o poeta mineiro, "acordar os homens e adormecer as crianças" e que cada frase por nós escrita seja música. Desejo isso já sabendo que, sem querer ser pessimista (Ah, Schopenhauer!), "lutar com as palavras é uma luta vã", pois palavra também é "móbile quai piuma al vento".
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