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Artigos-->Conversa sobre a liberdade -- 25/03/2000 - 00:01 (Vera Lucia Soares da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos dias de hoje é comum que se use a palavra liberdade a qualquer pretexto: como amuleto, como panfleto, como escudo, como salvo-conduto, como tabu, como troféu, como mercadoria, e até mesmo como objeto de troca. A liberdade tornou-se uma palavra a ser usada como qualquer outra, sem nenhum significado especial.

Mas, o que significa a liberdade para as pessoas?

Refletindo sobre isso, comecei a perceber que há pelo menos três maneiras de pensar a liberdade. Um grupo de pessoas parece pensar que liberdade é "fazer aquilo que se quer", não importa o quê. Outro grupo parece pensar que "a não - existência formal de censura é o limite da liberdade". Outro grupo pensa que liberdade é "cada um poder escolher o que é melhor para si".

Embora essas três maneiras possam parecer muito semelhantes, há uma grande diferença entre os três grupos, como vamos tentar mostrar.

Fazendo o que quer

Quem pensa que ser livre "é poder fazer aquilo que quer" pode advogar o direito de expressão para os nazistas e para os racistas na Internet, por exemplo. Tal como crianças imaturas, imaginam que está correto aquilo que eles consideram ser correto, e, seguindo esse raciocínio, pensam que "se eu sou bom, tudo o que eu quero é bom, assim, aquele que discorda de mim é mau, e não me ama".

Esse comportamento autoritário é muito pouco diferente da psicose. Exemplificando: "O outro não existe, enquanto separado de mim; a minha existência justifica a dele(a)", pensa esse grupo de pessoas; exatamente como pensa um psicótico. O outro é apenas um escravo do desejo dessa pessoa.

Como resultado, confundem autoridade com autoritarismo e pensam que é possível haver liberdade sem igualdade e sem fraternidade. É o que chamamos de um liberticida. A liberdade em suas mãos corre risco de vida.

Confundindo ausência de censura com liberdade

Quem pensa que, quando não há censura, há liberdade total, considera que a igualdade e a fraternidade se originam da liberdade. Essas pessoas acreditam que se um povo é livre para fazer o que a lei permite, podendo falar o que quiser e ir aonde quiser, este povo estaria vivendo em igualdade de condições e de fraternidade; se não as alcança, é porque não se esforça, porque é burro ou incapaz de pensar corretamente.

Esse grupo não consegue perceber que, quando todas as pessoas não têm acesso a todos os caminhos, as escolhas não são iguais e não há espírito de fraternidade. A fraternidade somente se desenvolve num ambiente de igualdade e é indispensável para que a igualdade se mantenha. São interdependentes, portanto.

Por não perceber que a democratização da informação é o caminho da liberdade, tal grupo advoga a divulgação dos preconceitos, do uso de menores em sites sexuais, do marketing televisivo dirigido às crianças, do trabalho precoce de menores como atores e modelos na TV e no rádio etc. Confundem a existência dos meios de comunicação com o uso democrático da comunicação.

Da mesma maneira, confundem o desenvolvimento nacional com o desenvolvimento de sua classe social. São pessoas que consideram bom o governo que constrói viadutos, onde seus carros poderão passar sem engarrafamento, mesmo que a grande maioria da população não disponha sequer de ônibus para ir ao trabalho ou à escola.

Tais pessoas são utilizadas como massa de pressão pelos liberticidas, pois não conseguem perceber que aquilo que a sociedade decidiu, nas leis, que é crime, não pode ser praticado com base na liberdade de expressão, ou sob qualquer outro pretexto.

Escolhendo o que é melhor

O terceiro grupo de pessoas, ao contrário, define liberdade como "cada um poder escolher o que é melhor para si". Ser livre é escolher, entre várias opções desejáveis, aquela que a pessoa considera a melhor para a sua vida presente e futura.

Esse grupo de pessoas entende, inclusive, que este é um direito natural e universal de cada ser humano. Dessa forma, não compreende que o seu desejo possa ser um obstáculo ao desejo de outro, nem que o desejo de outro impeça o seu. Entende também a necessidade da disciplina como o fator que permite o próprio exercício da escolha pessoal.

A democracia, para essas pessoas é um modo de vida e não apenas um marketing pessoal. Aceitam que não é possível viver livre num mundo onde há tantos miseráveis, excluídos dos benefícios de sua própria produção. Consideram que é criminosa a desigualdade de oportunidades, e que, os que cometem crimes desse tipo, devem ser rigorosamente punidos, dentro da lei.

Concluindo

Infelizmente, não é essa a liberdade que temos hoje no Brasil. A dificuldade de conviver com aquilo que é diferente parece ser nossa marca registrada. Talvez porque confundimos a igualdade de oportunidades com a igualdade de ações.

Até nosso presidente mostra sentir esta dificuldade, quando se põe a fazer críticas pessoais aos seus opositores, em vez de criticar-lhes as idéias; quando parece impaciente para colocar em prática suas idéias, trazendo-as prontas para que as engulamos; ou não é isto que significa a existência da famigerada medida provisória?

Quando pequena, ouvia meus pais ensinarem que o exemplo vem de cima, de quem é autoridade. Acrescento: o exemplo vem de quem tem espaço na mídia, na cátedra, no congresso, no palácio, no tribunal, no palco, na roda de bate-papo.
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