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cronicas-->Metáforas em tudo -- 14/04/2008 - 18:52 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há uma brincadeira de crianças ou de casais apaixonados que consiste em tentar dizer como o outro seria visto se fosse um ser ou coisa diferente: "se você fosse uma fruta, seria um morango"; "se você fosse um lugar, seria Paris"; "se você fosse uma música, seria Eu sei que vou te amar". A brincadeira pode mudar de acordo com o humor e a intenção dos participantes. Morango, que é gostoso, pode ser trocado por melancia, indigesta. Em vez de Paris, o outro pode ser visto como Poços de Caldas num feriadão. E a música escolhida talvez esteja mais para uma marcha fúnebre. Tudo vai depender da vontade de seduzir ou repudiar. Se nunca brincou disso, volte a ser criança ou se apaixone e experimente.
Nessa brincadeira o que se faz é um exercício de construção de metáforas. Fazer uma metáfora consiste em selecionar dois seres, encontrar características que ambos possuam e fazer a substituição de um pelo outro com base nessas semelhanças. É o que se faz quando se diz que uma rapariga é uma "gata". É pouco provável que o galanteador esteja interessado em dizer que a moça em questão é peluda, mia alto e tem bigodes. Ela é gata pois, assim como o felino, é charmosa, fofa, em forma. O mesmo mecanismo está presente quando se ofende uma senhora chamando-a de "canhão". Certamente ela não solta tiros por aí, mas talvez seja capaz de produzir algum tipo de estrago, talvez visual.
A metáfora é a figura de linguagem mais usada na literatura. Quanto mais poético for um escritor, mais ele fará uso de metáforas. Poderia escolher muitos outros, mas me lembro muito bem de algumas metáforas de mestre criadas pelo neobarroco Guimarães Rosa. Em vez de afirmar que a lua estava cheia e intensa, em Sagarana, Rosa escreveu: "De noite, saiu uma lua rodoleira, que alumiava até passeio de pulga no chão". Quem está sobrando, deslocado num ambiente, parece um "ovo depois de dúzia". Quem levava a vida de um jeito inútil, para Rosa, "aproveitava para encher, mais um trecho, a infinda linguiça da vida", daí a origem da metáfora "encher linguiça" ainda muito usada.
A música, a exemplo da poesia, não vive sem metáforas. Não é preciso pensar muito. Basta dar play no CD com os maiores sucessos de João Bosco e, na voz de Elis Regina, ouvir a mais que reprisada "O bêbado e a equilibrista". A começar pelo título, a letra é uma longa construção metafórica. Só um trecho: "Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos. A lua, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel. E nuvens, lá no mata-borrão do céu, chupavam manchas torturadas...". E segue a leitura crítica sobre a ditadura, sem que qualquer referência específica a qualquer regime político seja feita.
Metáforas são poderosas. A possibilidade de dizer algo, dizendo outro algo é uma ferramenta indispensável para o artista. O efeito de conotação, o tal sentido figurado, quando bem usado, eleva um poeminha à categoria de poesia. Além disso, o "não-dito" que é percebido no "dito" duma metáfora, caso seja necessário, pode ser negado: "não foi isso que eu disse, nem isso que eu quis dizer, Vossa Excelência entendeu mal ". Fica o dito pelo não-dito e o artista escapa da degola, da prisão, da tortura ou do exílio. Metáforas são, também, bons escudos estilísticos.
Outra qualidade da metáfora, importantíssima para os vestibulandos, é a contribuição que ela pode dar para a memorização de certos conteúdos. Em tempo: memorizar é importante e nada tem a ver com decoreba. Por exemplo, se os livros da FUVEST fossem um lugar, que lugar eles seriam? Como seria a casa "Dom Casmurro"? Certamente seria um lugar sombrio, com fotos antigas na parede, uma mesa grande na qual o narrador-personagem se sentaria para escrever suas memórias. Como seria a casa "Iracema"? Uma casa de praia com redes em lugar de camas, com jandaias nas janelas, na qual uma índia triste esperaria pela volta do amado. Parece brincadeira de criança, mas, considerando a grande força das metáforas, exercícios assim podem ajudar muito na segunda fase dos grandes vestibulares. E se uma e outra metáfora aparecerem nas respostas dissertativas, melhor ainda.
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