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Cronicas-->O anjo torto -- 14/04/2008 - 18:59 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OOs seres humanos são competitivos. Talvez por isso tenhamos evoluído, embora, vez ou outra, fique a dúvida de que o atual estado das coisas do mundo seja mesmo um avanço. Mas é clara a preocupação dos homens com a posição em que chegam nas corridas do viver. Todo mundo quer ser o primeiro, esquecendo até que essa meta é algo pouco possível para mais de um. Pouco importa se é ilusão! Ninguém quer ficar para trás e parece que o lema do super herói é cada vez mais pertinente: para o alto e avante!
Com o eco do Homem de Aço nos ouvidos, resta-nos obedecer e subir aos céus por entre as nuvens até encontrar um pobre anjo sentado num canto de um cirro, meio cabisbaixo, meditabundo, macambúzio, sorumbático, um caídão em pleno éden. Esse mensageiro é a prova que temos de que até nas hostes celestiais impera a meritocracia e a necessidade de buscar sempre a excelência. Pode acreditar: no céu também há competição! Anjos querem sempre o melhor lugar à direita do chefão e para isso cumprem as tarefas mais esdrúxulas que a mente do todo-poderoso puder inventar. Há candidatos até para tarefas inglórias como deve ter sido convencer José de que a sua esposa estava grávida era do Espírito Santo e não de algum Ricardão Latino. Deve ter sido um deus-nos-acuda. Mas alguém tem que fazer o serviço sujo e quanto mais cabeludo, mais pontos ganha o anjo que encarar e fizer bem feito.
Era isso que entristecia o anjo que encontramos em nossa ascensão. Por mais que tentasse, não conseguia agradar aos arcanjos supervisores. Nem como protetor de vaso de samambaia ele tinha êxito: todas morriam atacadas por pulgões. Olha que outras tarefas mais difíceis foram dadas ao pobre coitado. Durante o grande dilúvio, dois anjos foram encarregados de ajudar os casais de bichos a seguir para a arca de Noé. Miguel foi exemplar. Em poucos dias, todos os pares dos animais que conhecemos hoje estavam embarcados ou arcados, melhor escrevendo. Percebeu? Apenas os animais que conhecemos hoje. Havia uma dúzia e tanto de outros que acabaram extintos, pois o anjo torto que protagoniza essa história pisou na bola. Por mais que se esforçasse, por mais invocasse o poder do Pai, foi difícil fazer os dinossauros que ainda existiam na época tomarem o rumo da salvação. Covardia. Miguel ficou com os bichos menores!
Mas nosso anjinho não fazia isso por mal. Na verdade, o que faltava de competitividade nele, sobrava de distração. Sabe o "sem-jeito-mandou-lembrança"? Era ele de asas. Um verdadeiro gauche atrapalhado. Mesmo tentando fazer o certo, saía o torto. Não adiantavam os cursos de aperfeiçoamento, os seminários de motivação ou as jornadas de workshop. Os supervisores já não sabiam mais o que fazer. Havia rumores fortes vindos de mais acima. A tristeza do anjinho procedia: o nome dele estava na lista dos anjos que cairiam no trimestre. Mas ainda havia uma última tarefa. Deus é misericordioso.
- Zonanael?
- Sim, senhor arcanjo!
- Por que estás triste?
- Meu senhor, estou triste pois acho que não sirvo para ser anjo. Não consigo cumprir as ordens divinas. Juro que tento...
- Sim, sim. Nós percebemos seu esforço, mas realmente tem sido complicado, Zonanael...
- Então, senhor. Penso que deveria mudar de ramo. Talvez cuidar de algo mais administrativo...
- Não será possível, meu filho. Em verdade, tua queda é quase certa.
- Cair? Para Lúcifer?
- Sim, para o mundo dele?
- Era só o que me faltava. Com todo aquele fogo, não quero pensar nos desastres que poderei causar com essa minha falta de jeito...
- Mas ainda tens uma última chance.
- Uma missão?
- Sim, uma última missão e muito mais simples
- Não é nada com água, não é? Depois da tsunami, estou meio traumatizado.
- Não. É uma missão em solo firme: estás vendo aqueles homens vestidos de preto e branco lá embaixo?
- Aqueles jogadores de futebol?
- Esses mesmos. É o time do Corinthians.
- Sei.
- Sua missão é simples: irás cuidar para que o Corinthians não caia para a segunda divisão do campeonato brasileiro. A partida que vai começar é decisiva. Vá e ajude aqueles homens
- O senhor acredita que eu serei capaz?
- Tudo podes naquele te fortalece.
- Irei então.
O anjo ficou até mais alegre. Voou rápido para o estádio, crente de que iria operar finalmente um milagre. O arcanjo supervisor respirou fundo. Olhou para o alto e fez uma queixa que deve ter lhe custado ao menos um sermão no fim do expedinte:
- Oh, senhor! Melhor seria mandares outro dilúvio.

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