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Poesias-->Diário das Visões -- 08/07/2001 - 21:27 (ANTONIO ELSON RODRIGUES SIQUEIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que vejo, então...

Um casal de amantes passageiros

Em um navio sem leme, sem capitão,

Em plena Avenida Paulista,

Reduto de saiotes e gravatas

E de batons caprichosos feito garoa.



Vejo pedaços de sonhos em fuga

Pela Via Terminal do Tietê,

Testemunha maior das tristezas

De guerreiros capazes de suportar um sol

Nas enrugadas palmas de suas mãos,

Mas sem “Pátria amada” que os acolha.



Vejo um feiticeiro encapuzado

Esculpindo um dragão alado

Na Praça da Catedral Sé,

Com pedras caídas da lua,

Com tintas misturadas nas lágrimas

Dos abandonados filhos de Deus.



Vejo almas de poetas inumados

Pelas ruas vagando em desassossego.

Tudo é barulho, poluição,

Tudo é simplório, vazio de expressão,

Tudo é desvalor, tudo, tudo...

Por muito pouco inda conseguem escrever.



Vejo valas repletas de sangue

Provindas dos arrabaldes da Cidade

Atingindo o Centro das vaidades,

Alimentando o coração metropolitano

E retornando envilecidas, cansadas,

Repousando no Cadafalso Rotina.



Vejo e ouço uma soprano

De beleza e voz incomparáveis

No proscênio do Theatro Mvnicipal,

Flertando com a vida, beijando a morte,

Sobalçando, para além dos umbrais citadinos,

Seu canto pungente, lancinante:



“Não se esqueça nunca

Dos mistérios da noite paulista

Do encanto das velhas ruas

Da breve nostalgia recolhida

Em cada construção de luz

De luz... luz... luz...”



Vejo e não quero ver

Se é a mim que a mim vê:

Eu transição, cego, inconseqüente,

Eu cidade, povo, sertão,

Eu poeta, queixume, saudade,

Saudade do que não fui, nem escrevi.

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