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Cronicas-->Mariana -- 08/02/2001 - 23:02 (FAUTH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Trabalho numa biblioteca e vivo cercado de livros. Muitos passam pelas minhas mãos e não leio nenhum. Há livros para arrumar, cadastrar, pessoas para atender, mais uma infinidade de coisas que não deixam vagas no tempo. Leio sim, em casa, à noite, quando não há outra atividade premente. Mas a quantidade de livros bons e interessantes que passa por mim é grande. E isso causa certa depressão. É como o bancário que vê passar milhares de reais por suas mãos e, depois, vai para casa com aquela nota amassada de dez reais no bolso que mal dá para um lanche.

Outro dia uma menina bem jovem apareceu aqui para devolver dois livros. Não pude deixar de perguntar se foi ela mesma que leu, pois vem muita gente pegar livros para terceiros. A resposta positiva encheu meu coração de alegria, assim, repentinamente. Era uma menina franzina, cuja simplicidade denotava sua origem humilde onde, sabemos, a leitura não é muito estimulada.

A escola que pediu para você ler esses livros? Perguntei descrente na leitura sem obrigação, baseado em estatísticas de minha experiência. Tenho visto a grande maioria que vem em busca de resolver um "trabalho de escola". São muito poucos os que aparecem para simplesmente ler sem compromisso algum. E a mais uma resposta positiva reagi com uma profunda alegria. Ali, na minha frente, a personificação da esperança. Esperança de que nem tudo está perdido. Em meio a computadores e joguinhos, televisões a cabo, banheiras do Gugu e poquemongos, a mocinha acabava de entregar "Inocência" de Visconde de Taunay e "Cinco semanas em balão" de Júlio Verne. Não sei por quem fora orientada, nem me lembrei de perguntar, mas eram leituras apropriadíssimas para a idade. Cresceu em mim uma felicidade indizível. Eu sabia que, no silêncio de suas leituras, aquela menina adquiria cultura, vocabulário, experiências de vida. Eu sabia que aquela moça desenvolvia sua imaginação, suas idéias, bebia, enfim, de uma das mais maravilhosas fontes do saber: a leitura. Perguntou-me se havia algum livro sobre Napoleão e, novamente subestimando a sede de conhecimentos da pequena leitora, julguei que fosse - agora sim - para trabalho escolar. Novamente me enganava. Ela ouvira falar "desse" Napoleão em outras leituras e queria saber algo a respeito dele. Uma leitora nata! Agora, todas as vezes que a vejo entrar na biblioteca, meu coração se abre num sorriso que extravasa. E sei que extravasa porque ela sorri de volta, como quem responde a um cumprimento.

Ontem ela saiu com "A chave do tamanho" de Monteiro Lobato, talvez sem saber que tem carregado consigo uma chave mais especial a cada vez que leva para casa uma obra literária. Nem sabe, também, que meu sorriso não é de saudação, mas de transbordamento por vê-la, tão jovem, com tamanho gosto pela leitura. Siga em frente, Mariana, que o caminho é esse.
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