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cronicas-->Introdução ao FEBEAPA do Futebol -- 09/02/2001 - 08:49 (Gustavo Fernandes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não resta nenhuma dúvida! O grande Stanislaw Ponte Preta estava literalmente com a macaca ao denunciar o universo de imbecilidades nacionais, em seu Festival de Besteiras que Assola o País. Seu trabalho é tão inspirador que hoje, décadas depois, decidimos ampliar os horizontes de sua obra ao que se tornou cada vez mais fundamental em nossa vida cotidiana: o aclamado esporte das multidões. Mas, para iniciar projeto de tal ambição, é preciso saber como foi o início de tudo. E sem aquelas bobageras de Charles Miller e acessórios! O que queremos não é cronologia, mas simplesmente compreender o àmago da origem do futebol em terras brasileiras. Através de árduas pesquisas, finalmente nosso objetivo foi satisfeito, como revelam as linhas que se seguem.
Em seus primeiros chutes, o futebol era tido, no Brasil, como uma modalidade de polo sem cavalos, praticado exclusivamente pelas castas sociais mais abastadas. A classe média tinha que se conformar com esportes de menor status, como tênis e golfe. Negros, então, só como gandulas. Eram tempos em que as idas ao football nos finais de semana constituíam assunto obrigatório em qualquer coluna social. Imaginem só: "Ritinha Albuquerque Mendes Campos se delicia acompanhando a performance do marido, Pedro Affonso Mendes Campos, que marcou dois goals numa única partida. Simplesmente um luxo!" Com tanta frescura, não é de admirar que a seleção nacional fosse o saco de pancadas favorito dos vizinhos uruguaios e argentinos.
Enquanto nossos atletas arianos desfilavam sua elegante mediocridade, uma revolução proletária se iniciava na Europa. Idéias perigosas eram importadas em progressiva escala, alcançando os ouvidos dos humildes ex-escravos. Havia chegado a hora de se revoltar! E que atitude seria mais desafiadora do que praticar justamente o esporte dos opressores? Os sinhozinhos iam ver só...
Não foi muito complicado aprender as regras. Jogar, por sua vez, requereu um pouco de tempo, mesmo porque eles não dispunham do objeto essencial. Tiveram que improvisar uma bola com meias e toucas de cabelo, até que alguém tivesse a grande idéia de ira ao depósito de lixo, pegar algumas que os brancos jogavam fora e costurá-las. Logo estavam sabendo atuar tão bem ou melhor que os inimigos, mas faltavam campos decentes. Jamais se permitiria que praticassem em locais abertos ao público. Como fariam para reverter a desvantagem?
Se não era possível superar a alta roda nesse quesito, o jeito era se juntar a eles. Quilos de pó-de-arroz foram usados para transformar afro-americanos em distintos cavalheiros capazes de ingressar nos clubes mais conceituados da época. Bem que a súbita melhora no nível das partidas gerou desconfiança, mas o esquema só foi descoberto quando o verão se aproximou, as maquiagens foram derretendo e os estoques de pó se esvaindo. Contudo, anos de derrotas para os rivais platinos, infinitamente superiores, já haviam feito com as boas maneiras fossem mandadas a lugares impróprios, afastando, assim, o glamour dos primórdios futebolísticos. Já era tempo de equilibrar a disputa, o que só poderia ocorrer com a até então inadmissível miscigenação.
Seduzidos pela repentina mudança de atitude dos cruéis capitalistas, os revoltosos acabaram aceitando o gentil convite. Com o progresso e a popularização do esporte, surgiram os dirigentes, tendo na cola os primeiros empresários. Juntos, organizaram a famosa Lei do Passe e, assim, a escravidão foi legitimamente reproclamada - como já dizia o Samba do Crioulo Doido. De todo modo, o plano teve seus resultados, já que o Brasil foi, aos poucos, equilibrando os confrontos sul-americanos.
Contudo, quando o assunto passava a ser títulos, ainda éramos coadjuvantes. Isso fez com que surgissem até mesmo teses acadêmicas com o intuito de provar que os negros e mulatos podiam ter a habilidade, mas careciam de alma de vencedores. O ápice da complexa teoria sobre o complexo foi mais uma derrota para os uruguaios, em casa, em plena final de Copa do Mundo. Os dias de glória sonhados pelos servis futebolistas pareciam estar definitivamente enclausurados pela sina da senzala. Mas como a elite intelectual brasileira de qualquer tempo só faz propagar inutilidades, logo haveria de ser desmascarada pelas vias práticas. Na Copa seguinte, a seleção clareou e o futebol, seguindo a mesma tendência, empalideceu de vez.
Na busca de um meio-termo, os dirigentes optaram por levar um psicólogo para a Copa de 1958. Tratava-se de profissional tão brilhante que vetou a escalação de dois dos melhores jogadores do time, um negro de 17 anos e um caboclo com uma deformidade nas pernas tortas. Aos olhos racionalistas, seria tão insano escalá-los, ainda mais numa competição realizada na gélida Escandinávia, que nem o mais perfeito futebol poderia justificar o risco iminente de uma pane mental.
E foi assim até que um empate contra os ingleses colocou novamente a comissão técnica numa encruzilhada. Respeitariam o irredutível analista, mantendo a base supostamente mais madura, ou se renderiam aos anseios da técnica irresponsável justamente contra o avançadíssimo esquema tático da próxima oponente, a fria e poderosa União Soviética? Sabendo em quem ia estourar a bomba por mais uma frustrante campanha, coube aos próprios atletas colocar a perfumaria freudiana para escanteio. O que veio depois, de bom e de ruim, vocês já sabem e não convém ser repetitivo. Mas acreditem: foi exatamente assim que aconteceu!
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