Usina de Letras
Usina de Letras
82 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13266)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10369)

Erótico (13570)

Frases (50639)

Humor (20032)

Infantil (5440)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140811)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6198)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Comendo o leitão -- 26/04/2008 - 15:51 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Comendo o leitão


Fernando Zocca


A baranga velha, segurando aquele gato empesteado, na altura do rosto, tentava mostrar para a vizinha octogenária, as semelhanças existentes entre os seus olhos de baranga antiga, com os do felino bichado.
As duas arcaicas, paradas defronte ao portão da velha professora aposentada, comentavam também sobre a macaca Chica sumida do quintal do vizinho carroceiro. Ele tentara criar o animal, mas por desconhecer os hábitos do bicho, relaxara nos cuidados provocando assim a situação, que favoreceu a fuga.
Num determinado momento do encontro, a vovó mais idosa (ambas eram avós), iniciou uma arenga sobre o tempo em que fora professora, no Fazendão Oligárquico da cidade.
Na fazenda oligárquica antiga, usada pela elite tupinambiquence como escola de agricultura, mas que servia mais como foco pustulento de fofocas, de onde saiam campanhas homéricas de ondas irracionais de mentiras e falsidades, a octogenária mestra fora funcionária por apenas dez anos, tendo ingressado nos quadros de professores, por obra do tráfico de influência.
Agora aos 82 anos, percebeu que viveu mais tempo aposentada sem ter o que fazer, além de enviar e-mails fajutos a familiares enfadados, do que trabalhando. De fato, a morbosa ingressou no Fazendão Oligárquico aos 20 anos, trabalhou 10, aposentando-se quando tinha 30. Então na oitava década de vida póde perceber que recebeu salários, na maciota, por mais de 50 anos.
Quem pagava a "recompensa dos serviços" da velha senhora era o governo de São Tupinambos, que colhia da população, os impostos convertidos em "gratificações" daquele tipo.
A tal injustiça social não parava por ai. Fazendo parte de um grupo enorme de privilegiados, verdadeiras castas de funcionários e professores, com peso decisivo nas eleições municipais que culminaram na eleição do Jarbas, o caquético como prefeito da cidade, essa elite participava, há mais de 60 anos, dos governos municipais.
Os atrasos educacionais da população, percebidos pelo sucateamento das escolas municipais, pela deterioração do corpo docente, e debandada geral do discente, faziam de Tupinambicas das Linhas um lugar onde a superstição, e a magia dominavam.
Os entendidos afirmavam que se não houvesse a disseminação dessas crenças, presságios e crendices, o governo do Jarbas não se sustentava.
O prefeito, quando precisava decidir sobre um assunto importante, ou o local da construção de uma nova ponte, consultava os falecidos, incorporando-os ele mesmo alguns.
Diziam, portanto que a cidade era, na verdade, conduzida pelos mortos. E quem afirmava isso, não deixava de ter muita razão. Logo o governo do Jarbas não era deste globo dos viventes, mas das trevas, das tumbas, do além.
As duas velhas conversavam distraídas quando de repente, uma manada de porcos surgiu no meio da rua, vindo de uma esquina onde um funileiro louco atirava pedras num vizinho.
Os suínos todos, como que recebendo uma carga demoníaca, desembestaram indo atirar-se num lago artificial, rodeado por arbustos, árvores e folhagens ornamentais que ficava no fim da rua asfaltada.
Atrás da manada, vinha a macaca Chica, antes sumida, que voltava emitindo gritos de alegria e satisfação.
Uma das mulheres olhou para a outra e disse:
- Nossa que coisa mais esquisita, comadre! Como é que pode acontecer coisas desse tipo? Nunca vi isso na minha vida.
- Esquisita nada comadre. Esquisito é a banana comer o macaco. Mas deixa pra lá essas coisas. Venha almoçar comigo. Aproveite que hoje tem leitão à pururuca. A colega não vai querer?
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui