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cronicas-->A estrela no chapéu -- 28/04/2008 - 09:17 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estrela no chapéu

Fernando Zocca

Assistindo ontem o Domingão do Faustão, vi uma reportagem sobre uma família interiorana, de um estado nordestino, que pensou estar no estudo, a saída da penúria em que se encontravam.
De fato, o chefe da família, um leitor voraz da Bíblia e a mulher, também adepta da leitura dos bons textos, conduziram seus filhos por caminhos que levaram um deles a ingressar na faculdade de medicina, estando ainda com 17 anos.
A história comoveu alguns presentes ao programa, entre eles o jornalista Renato Machado, que apresenta o Bom dia Brasil, e a atriz e também escritora Maitê Proença.
Quando os pais do jovem estudante ingressaram no palco, para a entrevista com o Faustão, um pequeno detalhe no chapéu do senhor baixo e atarracado, com longas barbas brancas, chamou-me a atenção: era uma estrela de David.
O símbolo do judaísmo lembrou-me, uma sinagoga que havia na Rua Ipiranga, entre a Governador Pedro de Toledo e a Boa Morte, quando eu ainda era pré-adolescente, em Piracicaba.
O imóvel abandonado, sempre fechado, apresentava sinais de deterioração. As janelas e portas estavam apodrecidas, a pintura gasta, e o reboco da parede frontal fragmentava-se por causa da aridez.
Mas no pórtico, bem lá em cima, havia a mesma estrela de David, semelhante a do chapéu preto, do pai do estudante.
Quando éramos ainda criança, não sabíamos que no cemitério da Saudade, havia três ossadas de crianças judias, falecidas no final da década de 20, do século passado. As crianças chamavam-se Ana, Caio e Arthur. Viveram pouco tempo, sendo que a que mais resistiu, faleceu com um ano e pouco.
Recentemente houve o traslado - mais de oitenta anos depois do enterro - dos restos mortais, das crianças, para o cemitério israelita do Embu.
Mas, no final da década de cinquenta, quando eu ainda tinha nove anos, e residia num imóvel pertencente ao espólio do meu avó paterno, José Carlos Zocca, ocupado por meus, pais em 1954, antes da partilha formal, frequentava muito a casa de uma das irmãs do meu pai.
Então, lembrando-me de tudo, como se tivessem os fatos ocorridos ontem mesmo, estando eu, numa tarde, na sala da casa da tia L., sentado à mesa hexagonal marrom, coberta com uma toalha branca de renda, sobre a qual havia um vaso de vidro azul, vi aproximar-se de mim o tio C.A., que bastante alterado, e sentando-se ao meu lado direito passou a me hostilizar dizendo que eu ficaria louco.
Eu não conseguia entender o motivo da ira daquele adulto. Lembro-me que tentava recordar qualquer coisa que tivesse feito e que pudesse ter magoado aquela pessoa, mas não me ocorria nada.
Sei que em 1962, quando o Brasil tornou-se bi-campeão mundial de futebol no Chile, esse mesmo tio, que tinha uma irmã professora catedrática da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), e outro, vereador por longa data em Piracicaba, completamente embriagado, e usando muita violência, arrastou-me pela mão, até a esquina das ruas Governador Pedro de Toledo e Ipiranga, onde gritando intensamente, batia com uma colher num poste de ferro, existente no local.
Esse tio C.A. (hoje falecido em decorrência do càncer), sabia que quando eu era criança de colo, minha mãe levava-me, com frequência, para defronte o portão do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, onde me dando papinhas, tentava conter minha inquietação, causada pelo desconforto do gesso, que envolvia minha clavícula, fraturada numa queda.
Todas essas lembranças vieram-me por causa daquela estrela no chapéu.
Podemos perceber que ainda nos dias de hoje, da mesma forma que naquele tempo, ainda se praticam violências contra crianças, indefesas. Não é preciso citar o caso da Isabella Nardoni.
O que espanta é a covardia. A indefensabilidade da vítima pode tornar o agressor menos temeroso, menos inibido, mais à vontade, para praticar os delitos.
Um criminoso covarde, jamais atacaria alguém capaz de defender-se à altura. O traiçoeiro só investe contra quem ele julga ser incapaz de reagir, de forma que possa repelir o ato injusto.
Você pode perder um celular ou um guarda-chuva, não faz tanta diferença, pois poderá adquirir outros mais tarde; mas perder a saúde, ou a vida por causa da violência dos poltrões, isso não pode; é necessário a aplicação das penas da lei, a fim de que o exemplo nefasto não se multiplique.



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