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Contos-->Um conto com dois Finais -- 16/06/2001 - 14:38 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aviso: Este conto possui dois títulos e dois finais. Para ler a história com o segundo final (título: Pense duas vezes), retire os dois últimos parágrafos da primeira versão (título: O sonho concretizado), onde está simbolizado (...).

O sonho concretizado

Entrei na tabacaria, mas não demorei muito tempo. Até que fui rápido! Comprei duas carteiras do cigarro que fumo. Uma marca italiana. Dois charutos. Cubanos, ótimos. E dois isqueiros. Sempre compro tudo em dobro, não importa o preço. Sempre levo dois. Se tiver um só? Não levo e pronto.
Continuei andando pelo mesmo lado da rua. Se fosse possível, eu andaria pelos dois. Continuei andando, distraído. Bem feliz. Contando meus próprios passos. Um atrás do outro, direita esquerda, um dois, um dois. Oi oi! Cumprimentei meu barbeiro (o que mora perto de casa, o outro é lá no centro). Já estava perto de casa, só saí para comprar meus cigarros.
Dobrei a esquina da delicatessen e avistei o meu cunhado sentado numa mesa, tomando um suco. Não gosto muito dele. Ele deveria ter um irmão. Mas eu não o culpo por isso. A culpa é do meu sogro e da minha sogra. Deviam ter três filhos. Daí eu teria dois cunhados. Mesmo que fosse um cunhado e uma cunhada seriam dois cunhados. Daí tudo bem. Melhor ainda se fossem dois cunhados e duas cunhadas.
Ele me chamou. Senta aqui, me acompanhe neste suco. Sentei e chamei a garçonete. Uma menina bonita com os cabelos longos presos na altura da nuca com um laço bonito, tinha duas pernas morenas e dois olhos castanhos. Lindos. Pedi mais um suco e um copo. Com duas pedras de gelo, por favor.
Não posso demorar, sua irmã me espera. Ficarei só dois minutos. Meu cunhado não se importou. Conversamos um pouco sobre trabalho, sobre como vão as coisas em nossas duas casas e bla bla bla. Estas coisas que todas as pessoas sem assunto falam. Depois pagamos nossas contas. Dois reais tudo. Fiz questão de pagar.
Ele foi para um lado e eu fui para outro. Se pudesse eu iria para os dois. Continuei. Passei pela venda de frutas. A banca de revistas. A agência do correio. A funerária. A floricultura. A papelaria. A lanchonete. O cinema. O teatro. Adoro esse teatro. Tem duas salas, uma do lado direito e outra do lado esquerdo da entrada. Tudo perto de casa.
Ainda feliz e distraído, passei pela entrada do beco. É um beco sujo onde o mal educado do restaurante chinês joga o lixo dele. O lugar fede peixe cru. Não sei se peixe cru é comida chinesa, mas que fede... fede! Na frente do beco, ouvi um choro. Alto e desesperado. Parei para tentar identificar de onde vinha o som. Acendi um cigarro.
Era um choro de criança e vinha lá do fundo do beco. Lá do meio do lixo do japonês. Aquele safado. Tentei identificar o local exato do choro, mas não consegui. Fui até lá dentro. Seguindo o som. Estava ali, do lado de um filete de água suja que escorria dos sacos de sobras podres de comida sem gosto. (...)
Eram duas crianças. Dois bebês gêmeos. Lindos apesar de sujos. Um menino e uma menina. A pobre menininha era quem chorava, mas quando me viu com aqueles dois olhos gigantes e encantadores parou na hora. Pareceu-me assustada e feliz ao mesmo tempo.
Pensei: poderia ser dois meninos, ou duas meninas, mas tudo bem. Realizei meu sonho e o de minha mulher de adotar gêmeos.

Segundo Final
Pense duas vezes

(...)
O choro era alto. A criança estava deitada com a barriga para cima. Toda suja. E fedia muito mais do que o lixo do porco chinês. Não sabia o que fazer. Pensei em tocá-la, mas eu poderia pegar uma doença. Uma não, duas. Retirei, com os pés, uns jornais velhos que estavam cobrindo parte do corpo dela. Era uma menina e não tinha o braço esquerdo.
Fiquei com muito nojo quando senti falta do braço e percebi que tinha acabado de nascer. O cordão umbilical ainda estava ali, preso. Me virei de costas e vomitei todo o suco que tinha tomado. Ela tossia junto com o choro, acho que foi por causa da fumaça do meu cigarro. O choro começou a me irritar. Eu olhava para a rua, mas não via ninguém passar.
O que ia fazer? Eu não sabia como ajudar e, no momento, não via esperança alguma para aquela bastarda deficiente.
Pensei que poderia ficar com ela, mas não achei que suportaria o olhar triste desta criança infeliz que, ainda por cima, tem só um braço... e principalmente este choro infernal. Como é irritante este choro de criança recém nascida!
Então, sem raciocinar muito, peguei as folhas de jornal do chão, enrolei a criança e com toda a minha força joguei contra a parede. Pronto, parou de chorar. Não sei que idéia foi aquela... eu nunca ficaria com uma criança que tem um braço e não dois.
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