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Cronicas-->POÉTICA DO HINTERLAND -- 17/05/2008 - 18:12 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POÉTICA DO HINTERLAND
Jan Muá
17 de maio de 2008

É isso mesmo. O título escolhido para esta crónica é o de "Poética do Hinterland". Traduzido, poderíamos dizer que se trata de uma Poética de Entrelugares, de uma escrita que vai falar de algum lugar que está entre lugares. Terra interiorana situada entre outras terras. Ele voaria mais tarde para o Norte. Chegou com muita antecedência ao aeroporto para pegar um vóo da TAM para Manaus. E a primeira coisa que fez, já de passagem na mão, foi programar seu tempo livre aproveitando beneficiar-se culturalmente e turisticamente das instalações do aeroporto. Havia muita coisa a ver e aconhecer.
Logo de entrada, passou pela Sodiler, pegou o Jornal Correio Braziliense e Folha de S. Paulo. Comprou a revista Veja Brasília com os melhores restaurantes, melhores bares e melhores comidinhas da capital. Como estava já morrendo de fome, foi até à Praça de Alimentação e escolheu como cardápio, no Giraffas, um Grill Filé. Eram dois medalhões de filé mignon, brócolis americano, purê de batata, e molho Madeira. Foi sentar-se na última mesa, com uma vista boa para os hangars. Trazia segredos dentro dele e queria apenas curtir aqueles momentos de solidão. Mostrava em sua curiosidade aquele instinto de criança de antigamente. Mostrou que gostava de se movimentar à vontade e de ver o movimento e tudo o que acontecia no local aeroportuário. Espraiou a vista e aproveitou a lonjura e o encanto colorido do panorama para fazer um repouso mental. Em sua movimentação íntima procurava ater-se a si próprio e reviver uma imagem de seu "mundo". Tinha dentro de si um mundo que o possuía, mas, fora, tinha, frente a frente, outro universo que era objeto de seus olhos observadores. Distribuindo-se pelos dois mundos, curtia momentos livres assim. Era uma forma de reviver. Sabia carregar o que de mais íntimo vivia e distribuir-se calmamente pelo universo externo dos sentidos, se detendo no que achava curioso e interessante. Enquanto comia, ia pensando mil coisas. O cérebro e a emoção são estas máquinas maravilhosas que movimentam, criam, fantasiam e pensam o mundo! Ele fazia parte deste jogo interior e exterior. Estava sozinho e fazia destes momentos uma forma própria para se sentir bem, obedecendo à filosofia prática de saber estar no mundo. Os grandes aviões que estacionavam no pátio do aeroporto acionavam as turbinas preparando novas rotas. Mas havia, a toda a hora, outros que desciam e partiam, entre Boeings e Airbus. Eram esses pássaros metálicos que sobrevoavam cidades e terras longínquas para transportar pessoas, levando-as a conhecer e a participar de negócios, de seminários e de viagens turísticas. Ele tinha desde criança uma afeição especial pelos bichos voadores representados pelos pássaros. Lembrava-se dos pintassilgos, dos canários, dos periquitos, dos pombos, dos gaios, dos patos, das águias e dos milhafres. Pássaro era para ele um ser especial. Pela categoria de quem demanda algo mais do que a terranteza. Pássaro, escreveu ele um dia, tem seu bico apontado para os céus. Voa numa direção e tem asas que tornam mais leves seus sonhos e suas vidas. Era poeta. E por isso, olhando estes pássaros metálicos ali estacionados, curtia sonhos. Gostava de se comparar a um passarinho que voa livre, escolhe sua rota, pousa no ramo que escolhe de uma árvore, aproveita a ação da brisa que o balança de graça e lhe dá saúde e desce no tempo certo para beber água fresca e límpida nas cachoeiras douradas da natureza. Este sentido de pássaro lhe deu o sentido de asa. E de vida. Gostava desta simplicidade. A muita etiqueta inventada pelos homens de salão o cansava um pouco.
Enquanto o barulho das turbinas dos Boeings e dos Airbus ensurdeciam o ambiente, ele se mostrava observador atento aos movimentos dos passageiros comuns e passageiros exóticos. Havia crianças que pulavam de alegria porque iam voar pela primeira vez. Havia o velhinho de bengala e também os casais que rumavam em direção aos vários pontos do Brasil. Ele iria para a Amazónia, terra dos grandes rios, do Amazonas-oceano e do Rio Negro, terra da castanha do Pará detentora do medicinal selênio. Terminou seu grill bife e encostou no balcão de uma das lanchonetes para tomar um café expresso. Enquanto conversava, soube pelo placar que seu avião vinha atrasado de S. Paulo três horas. Se era assim, iria curtir o tempo, sem interrupção. No Cineacademia pesquisou os títulos e os horários dos filmes. Entre Pecados inocentes e Paixão proibida, a serem exibidos mais tarde nos cines 2 e 3, respectivamente, optou pelo "Homem de ferro" que iria ser passado naquele horário no cine 1. Pagou apenas a entrada e quando chegou à sala, o filme estava começando. A história contava a saga de um homem de ferro que entre aventuras, talento criativo e ar de guerras pela posse de um segredo inventivo construiria uma máquina para voar. No fim a história pode até se confundir com a história do Homem pássaro, mas é mais um Pássaro-máquina de ferro, inicialmente máquina destruidora, cujos efeitos arrasadores ele pensa mais tarde em anular. Este homem de ferro, inventor da máquina, é Tony Stark. Um homem decidido que sabia o que queria e que traduzia dentro de si o axioma do que vale a pena e do que não vale a pena fazer.Depois que descobriu que poderia favorecer o coração das trevas com seu invento, recuou em nome do amor e quis anular toda a ferocidade destruidora de seu invento. Stark que termina por ser o homem que tem tudo, pelo seu invento, e também o homem que não tem nada, porque é frio, sem amor, irá descobrir a importància do amor, ao fim.
Nosso passageiro que rumava para Manaus saiu do cinema. Teve ainda um tempinho para deambular pelas lojas vendo as novidades do aeroporto. Sentou numa cadeira azul, em espera. Um pouco pensativo lançou seus olhos para o pátio onde estavam estacionados os aviões Boeing da Gol, logotipo cor de laranja e os Boeings e Airbus da TAM, logotipo em vermelho.
Já a meio da tarde, o pátio se modificou. Havia uma novidade. De Lisboa chegou o Airbus batizado com o nome de Padre António Vieira. Verde e vermelho. Se reabastecendo para seguir uma hora mais tarde reiniciando a rota atlàntica de retorno a Lisboa
No ambiente a estridência das turbinas de um Boeing da GOl, testando a potência máxima do motor.
Nosso passageiro, solitário, pensa em avião. Por dentro pratica bem íntimo monólogo interior. Pensa em pássaro. Asas. Motores. Sustentação.
Ele vai até ao Norte. Faz de pássaro. Leva suas asas poéticas. Leva sua alma forte, seu motor de sustentação. Sabe o que quer. Sabe onde mora. Está tranquilo. No momento do embarque puxa do talão de embarque, entra, vai para a sala de espera. E pouco tempo depois estava subindo as escadas do avião que o levaria até Manaus, onde visitaria o comércio local e veria o Amazonas e o abraço que ali mesmo dá ao seu afluente Rio Negro. Embarca e tenta manter sua alma bem alta, no Olimpo, sabendo que os deuses lhe darão a taça dos eleitos. Embarca em paz mantendo vivas suas antenas poéticas de emoção.
Jan Muá
17 de maio de 2008
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