Você sabe muito bem que quando um casamento não funciona mais, não convém nem tentar corrigir os possíveis desníveis.
Bem,naquele dia dei-lhe um sopapo no alto da testa, que neguinha ficou assim meio que cambaleante.
Depois das formalidades legais tipo procurar a delegacia das mulheres para oficializar suas queixas, tive que leva-la pro hospital, com nosso carrão verde gosma. Lá o senhor professor doutor lhe sapecou um daqueles coletões em que se imobiliza o pescoço. Minha neguinha, ficou com o olhar assim como que meio parado, distante. Mas não creio que tenha sido por causa do tapinha.
Sabe, mano, depois que nossa filha adolescente encontrou aquele corintiano safado que lhe inalgurou o placar antes da hora, fiquei meio que pasmo com a natureza humana. Manja o tipo mauricinho, que leva tudo certinho, bonitinho, corretíssimo, sem uma vírgula prá fora da tigela? Então cara, esse era eu. Pô, Tico, Cansei de ser mané. Todo mundo me pegando no pé. Sabe como é? Me desconjuntei todo quando soube que a invicta corria perigo de gravidêz.
Nunca fui nego de bater em mulher. E hoje em dia essa história de violência pega mal prá caramba!
A doutora delegada me "pagou um sapo" terrível. Fiquei super envergonhado.
Mas depois que terminou aquele furacão todo, eu e minha neguinha voltamos a navegar em mares calmos novamente.
Eu lhe disse enfaticamente que deveria estar mais atenta às diabruras da menina moça. Falam por aí que ser humano com mais de quinze anos e virgem pode ser caso de patologia. Mas eu não creio nisso.Eu ainda acho que a mulher deve se resguardar para o seu consorte, assim como era dantes. Rezei bastante para Nossa Senhora. Creio que alcancei algumas graças. Uma delas foi poder perceber que os tempos não são iguais. Os costumes mudaram. Não se pode espancar mulheres ou quem quer que seja. E em assim sendo, joguei fora aquele meu chicote que mantinha guardado dentro do guarda-roupas. É claro que deveria alforriar todos quanto meus escravos eu achava que eram.
E assim foi.
