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Humor-->LEITOA À FANTASIA -- 22/11/2001 - 19:17 (Gil Capanema) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Leitoa à Fantasia

O primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi: “Devo estar sonhando!”. O segundo foi: “Não acredito... campainha a esta hora!!!”. Olhou para o relógio digital na cabeceira da cama e só conseguiu ver os dígitos das horas, já que os minutos estavam tampados por uma calcinha de renda vermelha. Parou por alguns segundos e tentou lembrar de quem era. Cerrou um pouco os olhos para ler a inscrição na parte da frente da peça feminina: “Preparada para GRANDES desafios!”. Olhou para a palavra “grande” em maíuscula e, automaticamente, levantou o lençol e olhou para seu herói adormecido. Pensou: “Quem diria... grande heim...!” Lembrou de quem era a calcinha. Diaba loira. A vizinha do 610. Começou a relembrar a loucura. A campainha tocou novamente e o trouxe para a realidade.
Levantou da cama. Deu o primeiro passo. Rodopiou e caiu na cama novamente. A cabeça pesava uma tonelada. A boca não estava mais seca, estava pastosa. “Maldito Pepeu!!! Bem que eu desconfiei daquele whisky... Black Label com o homenzinho sentado e não andando... Só faltava tocar Guarânia quando saísse da garrafa” Tentou levantar novamente, e desta vez teve sucesso. Deu um passo. Caiu. Olhou para os pés e viu um sutiã preso neles. “Maldita diaba loira”.
Ao sair do quarto a cena que viu foi inominável. Todos os copos da casa deviam ter sido usados e pelo jeito aos poucos pois tinha pedaço deles por todo o lado. A mesa da sala estava de pernas para cima. A três pernas, já que a quarta, ele se lembrará, fora retirada pelo Gleison que, fantasiado de Bam Bam tinha esquecido sua clava e precisava de uma improvisada para não descaracterizar a fantasia. Sentiu algo pegajoso sobre as costas que caiu do teto. Bolo Floresta Negra. A cena lhe veio à cabeça: De um lado a Paula jogava bolinhas de bolo delicadamente enroladas e de outro o Bam Bam, quer dizer o Gleison, acertava-as com sua clava comprada em suadas prestações na Atlântica Móveis.
A poltrona grande de couro estava de lado. Resultado da guerra entre os vizinhos Apaches do 301 e o namorado da Paula que estava vestido de Zorro. “Anta!!! Aonde já se viu Zorro de capa e espada brigar com índios...” Um calafrio percorreu todo o seu corpo quando olhou para o freezer aberto. Caminhou vagarosamente até ele, olhou para dentro e não encontrou a leitoa congelada que sua mãe trouxera do interior. Com cabeça e tudo. Era para o Natal e ele, gentilmente, emprestara o freezer. Olhou em volta lentamente com medo do que poderia encontrar. Mas não viu a leitoa. Em compensação achou dois frangos congelados pendurados no lustre da sala, um mobile feito de nuggets de frango ornamentando a arandela da cozinha, e uma trilha de camisinhas não usadas.
Ficou intrigado e começou a seguir a trilha. Passou por vários pratos no chão, uma peruca de palhaço, duas fitas de vídeo pornô, uma ferradura, “Será que o Zorro veio a cavalo?”. No fim da trilha, que terminava no lavado, encontrou uma boneca inflável murcha e sem cabelo, e uma camisinha usada no chão. Neste momento ele entendeu a razão do Gordo, totalmente bêbado gritar “Consegui colocar... agora eu consegui... calma boneca... já coloquei... agora vai...” Só não lembrava de quem era a boneca inflável.
Sentou no chão desanimado. Por alguns momentos se comoveu com as singelas palavras que leu “Nando você dá vida à palavra amizade!” Em seguida chorou ao pensar no quanto ia gastar para tirar aquela declaração escrita com catchup na cortina da sala. Pensou em ligar para sua mãe para pedir uma ajudinha. Descartou. “Como explicar o seqüestro da leitoa?” . Ponderou várias hipóteses para por ordem na bagunça. Ficou em dúvida entre duas: Gasolina, fósforo e uma lira, ou a eutanásia.
Pegou a chave do carro para ir buscar a gasolina e a campainha tocou de novo. Abriu a porta quase no mesmo instante. Seus olhos brilharam. Era da Diaba Loira, quer dizer a vizinha do 610, quer dizer a Erika. Abriu um sorriso enorme e ouviu um sonoro “Palhaço... rindo do que??” Ele ficou sem ação. Ela se desviou dele e entrou apartamento adentro batendo pé e chutando tudo. Bateu a cabeça no mobile de nuggets e ficou mais irritada ainda. Saiu do quarto em segundos com a calcinha, o sutiã e um estojo de maquiagem.
Olhou para ele e disse: “Cachorro... não sabe começar o que termina...?? tinha que querer aparecer para o bando de degenerados dos seus amigos...? não dava para ser normal...? e fria é a leitoa da sua mãe!!!!!!!!!!” Saiu espumando. Entrou no apartamento do lado e bateu a porta com tanta força que um dos frangos congelados do lustre caiu e, pior de tudo, sobre a saladeira de cristal da tia Augusta, espólio da falecida avó que, embora tenha sido usada pelo Pastel na hora do sorteio das calcinhas e de suas donas, ainda estava, até então, intacta.
Ficou puxando pela memória o que havia acontecido com a Erika. Lembrava do beijo apaixonado no quarto. Na dança sensual durante a qual ela se despiu. Lembrava do cheiro doce do seu corpo. Da sensação de embriaguez de ambos. Sabe que, a pedido dela, preparou um banho na banheira, colocou-a dentro, acendeu uma vela, e ficou esperando na cama, tomando, o que ele pensava, fosse scotch 12 anos.
Daí em diante havia só flashes. O Gordo, o Bam Bam e um desconhecido com máscara do Bush entrando no quarto com uma gordinha maquiada. Uma sensação fria. A Erika saindo do banheiro pelada e gritando “Depravado... depravado....” Uma torcida enorme gritando “Come! Come! Come!”. Dai veio a campainha, a calcinha o sutiã e tudo mais. “Quem diabos era a gordinha baixinha!?” Não se lembrava. Decidiu tentar recompor a coisa toda depois. Precisava de um banho, isto é, se alguém não tivesse roubado a banheira.
Passou pelo lado da cama e foi para o banheiro. Voltou assustado e viu um volume na cama coberto pelo lençol. “Baixinha e gordinha” Pensou. Lentamente levantou o lençol que, por sinal, estava molhado. E lá estava ela. Ainda de baton, com a peruca da boneca inflável, tridente de diabinha na pata.
Agora ele podia ligar para a mãe. Tinha achado a leitoa.

Gil Capanema

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