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Cronicas-->ALBERTO CAEIRO NO PARQUE ECOLÓGICO -- 23/05/2008 - 20:58 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ALBERTO CAEIRO NO PARQUE ECOLÓGICO DE OLHOS D´ÁGUA EM BRASíLIA
Jan Muá
23 de maio de 2008

Parece incrível, mas é verdade. Alberto Caeiro terminou por interferir nesta história. O Giusto Io, que é o artista literário que gosta de tecer linhas surrealistas nas letras portuguesas, estava acompanhando, na hora, toda a epopéia maravilhosa e natural desse parque candango que é nominalmente o Parque Ecológico Olhos d´Água. O repórter já tinha passado pelo laboratório artístico de Nemm, na asa Norte, e mergulhado com a maior alegria e admiração nas criações artísticas originais desse genial criador pop, quando resolveu aproveitar a tarde bonançosa e entrar no parque para uma caminhada. Logo começou a olhar tentando organizar sua cabeça, intelectualizando, em seguida, não sabendo ainda se isso seria sua melhor atitude de repórter. O que parece é que a espontaneidade jamais deve ser riscada do mapa. E por isso parece que o mais recomendável era caminhar e abrir-se à novidade espontànea. Iria aparecer o campo, certamente e também as árvores expandidas em sua estética expressiva de tronco, de ramos e de cores. Aparecerá o sol e raiará direto no rosto espreguiçando-se benevolente por entre a ramaria e confortando a natureza vegetal em expansão. Também o ar puro tão mal reconhecido mostrará sua força purificadora que a todos beneficia invisivelmente. Não há como deixarmos de reconhecer que o ar, além de ser o elemento mais imediato que nos prende a vida ao universo, é aquele ente que faz nascer nossa voz, aquele que deixa que as pessoas ouçam rádio que entendam a palavra do outro, que ouçam o ruído do avião ou o canto do passarinho. O ar é o grande tapete mágico através do qual as ondas sonoras se expressam e criam os milagres registrados pelo ouvido. Tem que haver calma portanto, esperando que chegue a hora de cada coisa. Chegará. É preciso que você aguarde o momento exato, que você a veja, a escute, a perceba, a analise e a valorize. Porque afinal, até as sombras têm sua personalidade, seu perfil e compõem no quadro universal aquela mancha silenciosa e triste que chora a ausência do sol. E seria aqui que entraria o Alberto Caeiro, o heterónimo sensacionista de Fernando Pessoa. Aquele que dizia: "Eu não tenho filosofia/Tenho sentidos". Aquele que proclamava: "Amar é a eterna inocência/E a única inocência não pensar". Tudo isto vem no livro "O Guardador de rebanhos", sua bíblia filosófica de estética sensacionista.Para ele, as coisas são elas mesmas pela sua presença, pelos seus traços físicos, pela sua apresentação. A rosa vale pelo espetáculo físico da sua cor e do seu perfume. Não pelo que pensamos dela ou pelo que nos dizem dela. Agora imagine o leitor, esse repórter apenas centrado em seus sentidos! É claro que ele vai privilegiar seus olhos e não vai permitir que deles se retire nada que possa ofuscar sua capacidade de irmanação com a natureza, com cada detalhe, com cada milagre revelado em seu olhar, em sua capacidade de analisar e identificar sons, em cada fibra de sua sensibilidade. Ele vai querer aprender de Alberto Caeiro, sim. E vai deixar a filosofia propriamente dita para depois. Vai relacionar as belezas do parque com correntes estéticas, com estudos de botànica, com estudos de ornitologia e outros. Sim, mas agora, não. Agora é o momento do impacto sensorial. Entrar no parque tão preservado, tão puro, tão espontàneo é o mesmo que entrar num santuário privilegiadamente onde as coisas mostram seu rosto de origem. Quem sabe se esse repórter vai concordar com Caeiro que lhe dirá de frente que "a luz do sol vale mais do que os pensamentos"? Guardará a filosofia para depois, certamente. Por agora vai aceitar caminhar apenas, abrir os olhos, ver, contemplar, ter prazer de experimentar. Parará um pouquinho e sintirá a nascente e a água borbulhante brotando límpida do ventre da terra. Caminhará e abrirá os olhos para essa avenida jovem de ipês ou tabebuias verdes, amarelas, brancas e roxas, que já crescem para se abrirem em flor na próxima primavera. Parará junto do ribeirão e das raízes expressivas de árvores que buscam no seio da terra a sustentação na vida. Aos poucos o repórter abrirá seus olhos para esta luz e para este sol que ilumina todo o painel silvestre e faz conjuntos e cintilações individuais nos troncos, nos ramos, nas folhas, no solo, nas trilhas. E aos poucos a sensação o fará voltar à história dos pré-socráticos e para dirigir-lhes de novo a grande pergunta sobre a origem do filosofar. Voltará aos primeiros enunciados e de novo se encontrará com a surpresa, o espanto e a admiração para relembrar que as coisas serenas da criação são nossa primeira movimentação de aprofundamento das questões que acodem ao nosso pensamento. Só que isso noutra hora, ao repensar o universo em seu conjunto. No momento, não. No universo de um parque ecológico, e ainda por cima tropical e pleno de vida, o mais prudente é ficar com Alberto Caeiro que disse:"Creio no mundo como num malmequer, porque o vejo".Não deixa de ser uma filosofia sensacionista, interiormente fundamentada em sensações. Mas é válida no que avalia e observa. Caminhando, teremos a realidade de troncos gigantes de eucaliptos que assombram os olhos. Neste assombro o que domina mesmo são as sensações profundas do canto singularizado de cada passarinho, alguns deles, em plena lua de mel, e as sensações objetivas e visuais e auditivas de cada coisa.. No caminhar, o repórter vai dar razão a Alberto Caeiro de que "não é hora de pensar". "É hora de ver", de observar, de admirar, de olhar, de presenciar. Na lagoa do sapo, os patos fazem quá- quá, e o sapo está mergulhado em qualquer canto de seu território. Abrindo-se aos pés aparecem as trilhas orientadoras do traçado global e os caminhos do parque. Espalhada por entre o arvoredo, a grama verde, ao lado dos caules tenros e das jovens árvores recém-plantadas. Como grande rainha do universo da vida, lá na cúpula, as folhas biologicamente carregadas de clorofila, responsável pela coloração verde das plantas. E também as sombras penetradas por divinos raios de sol. Uma tarde de convívio com a natureza. Natureza mãe que jamais poderemos esquecer ou abandonar. Esta crónica vale por isso como um ato de fé na vida natural de que carecemos para nossa harmonia e integração no cosmos.
Jan Muá
23 de maio de 2008
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