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Humor-->AS 28 PRIMAVERAS DA TIA CRIS -- 19/09/2005 - 11:59 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS 28 PRIMAVERAS DA TIA CRIS


Fernando Zocca


Chuma, naquela manhã, sentia-se mais por baixo que barriga de cobra coral. Com a bituca do cigarro a queimar-lhe o vão entre os dedos indicador e médio da mão esquerda, ele perambulava claudicando, pelo bairro a procura de um boteco aberto.
Quem achava que o Chuma, por ser bebum não pensava, estava redondamente enganado. Naquele momento ele cogitava no seguinte tema, que expunha em mussitação, aos vizinhos do quarteirão, ocultos e sonolentos: "É possível que algumas mulheres tenham aversão aos gatos, por ser costume entre as famílias pobres, explicar a ausência do pipi nas meninas com a frase o gato comeu . A genética faz das suas e o gato leva a fama."
As 6h Chuma encostou-se à porta do botequim esperando o inicio das atividades comerciais. Ele pressentia que algo novo estava pra acontecer.
Quando a cansada tia Cris abriu o bar as 7 da matina, ele pediu a cambraia costumeira, ingerindo-a; seria a primeira duma série inumerável, naquele dia que se mostrava já cedo, bastante calorento.
Tia Cris, ao sair do recinto, pediu ao Chuma que cuidasse, por alguns momentos, da direção do negócio. Logo depois ela voltou e, já no salão com as mãos envoltas num guardanapo branco, foi notada pelo biriteiro que viu nela algo novo.
Ele se aproximou e aspirando o perfume que emanava, daquele cangote cândido, tentou balbuciar um elogio. A língua travada impediu. porém que o ébrio dissesse qualquer coisa. Uma gorda passou defronte ao bar balançando a banha. Chuma ensaiou um assovio, mas foi contido pelo olhar de reprovação da tia Cris. Chuma, no seu íntimo, agradeceu a censura da proprietária, "afinal", pensou ele: "a gordura faz mal pro coração".
Quando varria o salão, evitando os pés do único freguês presente, tia Cris percebeu a entrada de um dos irmãos do Edbar B.I. Túrico. Era o Edbar Bante, muito conhecido na terra Tupinambiquence. O rosto afogueado, os pés inchados e, feridas espalhadas por toda pele, indicavam que a cangibrina consumida por ele, causava mais estragos do que proporcionava prazer.
Edbar Bante ao entrar, fitando tia Cris nos olhos disse: "Ó Tupinambica das Linhas onde estão as tais tuas virgens castiças, as donzelas pubecentes? Ora verão, por certo, que propagaste engano."
Tia Cris, num arroubo incontido, passou a vassoura na cabeça do Bante. Os cabelos remexidos do cachaçudo lembravam um emaranhado de capim seco próprio dos ninhos dos pardais. Tia Cris disse: "Nada de bagunça por aqui. Hoje eu quero sossego. Estamos entendidos? Sossego!"
Edbar Bante, sentindo-se ofendido com aquele comportamento da proprietária, falou ao Chuma usando um tom rude: "Mas olha!... Mas veja!... Mas sinta a nhaca da nhambiquara!"
O ofendido nem sequer pensou em confrontar a tia, mandando-a plantar batatas. Afinal, não poderia deixar de ser servido com aquele néctar que o mantinha vivo. Cogitou em agir como agia Jarbas o caquético testudo, prefeito de Tupinambica das Linhas: usaria alguns membros da seita maligna do pavão-louco, para lançar "laranjas" contra a malfeitora.
Cris resolveu tratar o assunto usando a conversa de viés, disse então para o Chuma: "A prefeitura não está levando mais o lixo pro aterro. Eles agora vão fazer reciclagem". O Chuma percebeu que as indiretas eram pro Bante e sentiu-se dividido. Afinal, se mostrasse simpatia pela dona do boteco, estaria a desprezar seu melhor amigo. Mas se pendesse para o Bante, atrairia as antipatias da tia Cris, a verdadeira dona da pinga.
Naquele momento, em que vigia o impasse no ambiente, entrou porta adentro, esbaforido, suado e cansado, o Bança. Ele trazia as seguintes notícias, que despejou aos presentes, antes mesmo de ser servido, por tia Cris, com a pinga, num copo americano: "Os vereadores da cidade terão que devolver o dinheiro que receberam como pagamento extra. Tá o maior sururu lá na câmara. Tem nego unhando parede. Dizem que a justiça mandou os caras devolverem o cacau. Imagine, onde já se viu essa negadinha receber extras? Eles embolsavam 45% do que recebiam os deputados estaduais nas seções extraordinárias. Mas pode haver interpretação da lei de forma mais mesquinha do que essa?"
Na verdade ninguém estava nem ai com as ocorrências na câmara. O pessoal desejava mesmo era saciar aquela sede implacável que desmilingüia a todos.
Percebendo não haver despertado interesse o Bança mandou outra: "Uma praga atacou um canavial e alguns cortadores de cana, ontem aqui na periferia. Dizem que os trabalhadores perderam o ânimo pra trabalhar. Ficaram assim como que hipnotizados. Parecia que salivavam. Eles repuxavam, com insistência, as braguilhas. Ficaram perturbados."
Notando que as informações não provocavam tanto frisson nos presentes, Bança lançou sua última cartada: "Hoje é dia do aniversário da tia Cris!"
O novidadeiro observou a reação que suas palavras causaram: espanto no Bante, a confirmação da expectativa daquilo que o Chuma esperava acontecer (ele disse: "Ah, então era isso!") e, o enrubescimento na tia Cris.
Com o queixo enfiado no tórax, rosto rúbido, e enxugando sem jeito um copo, ela teve que confessar. "É verdade. Gente: hoje faço 28 primaveras!"
A partir daquele momento, para o gáudio das esponjas reunidas, ninguém mais pagou as pingas que beberam naquele dia.

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