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Cronicas-->MENSAGEM PARA AMIGO -- 13/02/2001 - 22:59 (Marta Rolim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Caro Amigo, não é estranho que eu possa lhe confidenciar os meus mais íntimos segredos? Agora mesmo, sem temor, sem espera, apesar de nunca tê-lo visto, apesar de não saber se você efetivamente é compreensivo e empático para comigo, se você é realmente meu amigo. Se há uma lei intuitiva no estabelecimento das boas relações afetivas, eu acho que a sigo acertadamente ao confiar em você. Quando você escolheu o "nick" Amigo, senti que sua aura humana de bom companheiro se expandia e invadia agradavelmente o "chat".

Antes de lhe revelar as vicissitudes de minha alma e os acontecimentos porque tenho passado, quero desde já lhe agradecer muitíssimo por sua disponibilidade de coração, por sua capacidade de acolher o outro, ainda que este outro seja um completo desconhecido como eu. Quero lhe dizer que, imitando sua generosa atitude, também disponho minha amizade, singela e sinceramente, a quem dela quiser desfrutar.

Amigo, minha vida está um caos. Hoje pela manhã olhei a pia na cozinha e percebi que a pia era a minha vida: atrolhada de pratos sujos, panelas engorduradas e talheres lambuzados. Tudo estaria bem se eu lavasse a louça e arrumasse a bendita cozinha e a ordem e a higiene imperassem por pelo menos duas ou três horas, mas eis que mal termino de limpar o que está sujo e as crianças já depositaram meia dúzia de copos sobre a mesa; eis que mal seco as mãos, aliviada de terminar o serviço, e meu marido derrama o leite no piso de lajotas e espalha ao vento farelos de bolo. Não é preciso dizer que se passam apenas alguns minutos antes que tudo volte à bagunça inicial. Probleminha caseiro, não? Coisa pouca, pra que esquentar a cabeça? Acontece que, histórica e culturalmente, recai sobre minha figura feminina a responsabilidade pela harmonia do lar. E se eu abandonasse a pia a sua própria sorte? E se eu deixasse que os canos se entupissem, dos tantos restos de arroz e feijão lançados despreocupadamente? E se eu permitisse que a fome da família batesse forte e o caos da cozinha transbordasse? Até que não seria má idéia, mas o problema é que eu teria que arcar com velhos paradigmas entranhados em mim mesma: "mãe que é mãe cuida de tudo e de todos"; "mulher cuida da comida e da cozinha, homem só faz isso de vez em quando". Essa história da cozinha até que não chega a ser o pior na minha vida, embora não me deixe ter tempo pra pensar em mim e nem me permita desenvolver outras atividades e talentos. Pra mim a cozinha é minha via crucis, exalando cheiros de temperos e detergentes, manchada de vermelho-sangue, cujas nódoas são manchas de "ketchup".

Querido Amigo, agora chegou a hora mais difícil para mim, a hora de lhe falar de algo totalmente íntimo. Falarei a você de minha vida sexual. Meu marido é um homem bom, apesar de não perceber quem sou em muitos aspectos, inclusive no sexual. Ele mal sabe sobre minha anatomia e eu mesma pouco sei lhe instruir. O fato é que não nos entendemos na cama. Nunca senti o tal do orgasmo e chego a duvidar de sua existência entre as mulheres. Talvez eu seja uma ignorante nessa área, uma reprimida por excelência, porém o que me interessa lhe dizer, amigo, é que assim como não sei dar um basta à rotina na cozinha, também não sei mudar o curso de minha vida sexual com meu marido. Confesso a você que não tenho muita esperança de que essa situação mude, mas quem sabe você tem algo a me dizer. Se tiver, por favor sinta-se à vontade.

Amigo, pensei em lhe falar meu nome, mas no momento não consigo abdicar do "nick". Me chame de Mensagem. Uma mensagem anónima para você, chegando via um "chat" qualquer, mas uma Mensagem sincera como nunca, para você Amigo.

São 23:00 horas. Deixo a cozinha com as mãos murchas e úmidas e venho sentar-me a frente deste micro, entro na sala virtual de bate-papo e vejo seu "nick" na lista de participantes. Te escolho Amigo para ser meu amigo esta noite e quem sabe por muito tempo mais.


Um abraço,
Mensagem



Por Marta Rolim











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