MANDEI OMAR SHARIFF PASSEAR
Pela primeira vez entrei numa sala repleta de alunos do colegial, uns quarenta. Comecei, então, pelas apresentações. Depois, passei à chamada. Fulano, Beltrano, Sicrano... e eles respondendo. Até que chamei uma tal de Irani, e aí o impasse aconteceu, aquela voz grossa me surpreendeu. Fingi não ter escutado e repeti. A mesma voz outra vez respondeu. E agora?
Olhei pra todo lado, pra descobrir o safado, mas todo mundo tinha jeito inocente. Afinal, quem é a Irani, perguntei. Sou eu, insistiu o rapaz, valente. É culpa da minha mãe!
Com cara de tacho aprendi mais esta: Irani também pode ser macho. Assim como Ivani, Iraci ou Darci.
E o nosso Irani, moreno, de olhos grandes e belos bigodes, mais parecia o doutor Jivago. Omar Shariff dos pobres. Como o filme fazia sucesso, aproveitando a semelhança, ele incorporou algo a mais na sua personalidade: sentia-se Shariff, Omar. E não dispensava lambanças. Passou o resto daquela aula a piscar. Pra mim, jovem professora de Latim.
Nas semanas seguintes, pra me desvencilhar, fiz dele meu auxiliar. Precisava de giz, mandava Irani buscar. Estava com sede, pedia um copo d嫇gua ao rapaz...
Tantas e tais fiz, que Irani se cansou e passou a paquerar suas colegas de classe, deixando-me, enfim, sossegada pra trabalhar.
Mandei Omar Shariff passear.
Beatriz Cruz
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