A VERDADEIRA ESSÊNCIA DE UM POVO
Regina Frazão
Quando falo em essência busco aquele ponto de convergência ou melhor, busco semelhanças no pensamento humano. Seremos realmente todos iguais e fruto de uma só mãe Terra? Às vezes penso que não.
Forma estranha de começar uma crónica, mas a estranheza tem a ver com o que vivi recentemente e que de alguma forma quero dividir com vocês.
Viajei para China e lá estive durante duas semanas, breves duas semanas que bastaram para eu conhecer um outro lado do comportamento humano. Foram dias suficientes para entender o que é civilização com civilidade e descobrir onde está a verdadeira essência de um povo .
Pessoas interessadas no estudo da alma e do comportamento humano precisam e devem ir ao oriente. Viver no paràmetro ocidental é real, simples e condicionante. Vivemos da forma que nos foi ensinada e pronto, não buscamos uma evolução positiva do pensamento e do comportamento.
Conviver com o pensamento oriental e entender a sua complexidade, realidade e expectativas é uma experiência inédita.
O que mais despertou minha atenção nesses dias foi o interesse dos chineses pelo significado das coisas. Suas vidas são pautadas por isso. Para eles tudo tem um significado filosófico e, quase sempre, com repercussões em seu cotidiano. Para o povo chinês, e falo de povo mesmo não de uma elite, o "significado" está em seu dia a dia ,faz parte da sua essência. Por exemplo a alimentação e as cores dizem muito, o modo de caminhar ou sentar dizem outras tantas coisas, o ato de presentear alguém, o tom da voz é fundamental, o azar e a sorte são irmãos, e por aí vai. É uma sociedade voltada para a observação do outro e,principalmente, da natureza humana, buscando aí a harmonia através dos diferentes significados.
Só eles poderiam ter representado o "yin e yang", onde o bem não vive sem o mal, para determinar a dualidade e o equilíbrio das coisas.
Como entender um povo que faz da sabedoria e da observação um comportamento e o uso da filosofia uma necessidade diária? Todo chinês é um pouco filósofo, recita provérbios, acredita neles e vive de acordo com muitos deles.
Sei de todas as dificuldades históricas e sociais pelas quais os chineses passaram e ainda passam: governos tiranos,superpopulação, terremotos, pobreza extrema, exploração da mão de obra, pouco acesso à s informações, e até mesmo o cerceamento da liberdade do cidadão, em algumas situações. Mas não é disso que estou falando. Falo da essência de um povo e isso, nenhum regime político ou económico foi ou será capaz de mudar.
A China milenar que inventou o papel e a pólvora, China dos grandes imperadores que construíram um dos impérios mais antigos do mundo, não mudou na essência de seu povo. Encontrei lá o povo Chinês que Marco Polo descreveu no século treze.
Nós ,os ocidentais, somos o oposto do povo chinês. Acreditamos no que vemos, somos materialistas, e religiosos apenas por necessidade medo ou imitação. Não somos de filosofar sobre a vida, deixamos isso para os "verdadeiros" filósofos, e raramente buscamos na observação do outro e da vida significados para as nossas próprias vidas. Somos um povo que vive dia após dia, e a razão predomina sobre a emoção.
Filosofar sobre o cotidiano,na nossa cultura, é tarefa para os fracos, sentimentais e pouco intelectuais. Filosofia é para poucos !
Na maioria das vezes, enxergamos a história de nosso país pelo lado negativo. Aliás, nosso povo não conhece nada de história, muito menos a do país em que vive.
Fica aí a explicação para o que eu senti ao pisar em solo Chinês. Senti o impacto e o efeito de um povo que mesmo lutando pela sobrevivência não deixa de lado a preservação de sua verdadeira identidade e valores. Identidade de bilhões de seres que estão ligados através de uma única essência. A essência da sabedoria em saber equilibrar razão e emoção e de honrar suas tradições históricas e sociais, mesmo caminhando para a modernidade imposta pelo século vinte e um.
Cultuam suas tradições, investem na filosofia de vida, honram seus antepassados, saboreiam os primeiros passos de liberdade após anos de fechamento para o mundo, porém mesmo assim conservam e vivem de acordo com valores que realmente têm significado para eles.
É um povo que , mesmo intuitivamente, sabe que a grandeza de uma nação está na certeza de saber-se única em pensamento, ainda que fazendo parte de um todo. Todo esse, que nem sempre pode corresponder à s suas expectativas, porém isso nunca será motivo para abdicarem de sua essência.
Quisera fossemos assim...
RJ, 25 de junho de 2008
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