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Contos-->teatro pelos pés -- 31/03/2000 - 17:15 (wilson h sagae) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De repente, quando menos esperava, as cordas soltaram e eu me vi preso pelo pé. Meu tornozelo - o esquerdo - berrou de dor ao sentir que todo meu peso pendia invertido sobre ele. A sensação apenas foi pior aos meus olhos. Eles, os dois, quando viram o mundo de ponta cabeça quase descarrilharam de suas órbitas.~Qause não podia ser pior, só o era por exatamente o instante em que as cortinas se abriam para o primeiro espetáculo da peça que eu dirigia: "As noites infelizes de Julieta ".
O barulho de minha queda do andaime foi abafado pelo som do abrir do veludo e, meu grito, inexistente, calou-se sufocado pelo medo de causar qualquer transtorno aos já nervosos atores. Foi algo assim como Buster Keaton rolando pela lateral o prédio sem que a platéia pudesse, em momento algum, perceber seus desconexos sons agoniados.
Jeremias, meu Romeu, pisou no palco vacilante. Contra tudo o que eu havia orientado, ele insistiu em caminhar até a frente da cena antes de dizer a primeira palavra:
- Caguei!
Apesar de minha fúria por vê-lo ir contra minhas palavras devo dizer que - não sei se foi tontura ou a mudança do ponto de vista - eu gostei; assim como o público. Houve, com aquela pequena palavrinha, uma risada longa e gostosa escapando de todas as bocas e enchndo o teatro com aquela energia positiva capaz de erguer do túmulo King Kong estropiado.
Aquilo tudo, apesar de ser surreal, deu a meus sentidos uma sensação nova. Com a dor no tornozelo, a tontura e a ansia de vômito que se seguiu quando subiu o cheiro da bananada - idiota eu por ter exigido comida de verdade no palco ( "sim, assim, com os atores comendo o realismo será maior e os papéis crescerão! O calor do fogo irá transofrmas as cores e as cenas!"), ainda mais feita naquele fogão industrial conseguido por Gisele, minha chefe de produção. Com os movimentos daquela imensa colher de madeiras o vapor de banana cozida subiu luzes acima e me atingiu em cheio o estômago. Tyson não teria sido tão eficiente. Foi preciso uma força de vontade hercúlea para impedir que o vômito, expresso em três gotas contíguas, não se tornasse um jorro escandaloso. Independente de meus líquidos intestinais terem respingado no interior do tacho, devo me parabenizar por ter me detido a tempo.
As cenas foram passando e, a cada uma delas pude perceber uma série de erros de colocação e outros desvios na movimentaçao de cena. Foi muito instrutivo mesmo. Daquele local dava para entender perfeitamente porque Bob Wilson conduzia seus atores a aquele centro polarizador de toda magia. Era como se dali, quando os atores se punham a falar, uma onda de impropérios fosse gerada e definisse todo o conceito daquele teatro de absurdos. sim, era uma comédia mas, ao final do último ato, os aplausos eram para o impalpável irreal...
Eu gostaria de dizer que minha história teve um final feliz. Aplausos? Foram aos montes. Risadas? Fluiram como o Amazonas rumo ao mar. Elogios? Eram nuvens diantes de minha cama de hospital.
Se não fosse minha queda tragicomica sobre a mesa do baquete final, eu seria, com certeza, considerado mais uma estrela do olimpo teatral. Talvez maior que o próprio Geraldo Tomás.
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