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cronicas-->CRÓNICA DO AMOR POSSíVEL - Parte 1 de 2 -- 03/07/2008 - 15:47 (A.Lucas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era uma vez um tempo, há não muito tempo atrás, no qual todo amor só era belo se fosse impossível. Os exemplos que logo me saltam da memória emocional são Romeu e Julieta, D. Quixote e Dorotéia, Abelardo e Heloísa...

Não gosto do primeiro par. Romeu e Julieta são clássicos demais, trágicos demais, jovens demais... trazem marcas que não podem ser apagadas nem esquecidas, já são quase arquétipos empoeirados da nossa cultura ocidental/cibernética. Nada contra os clássicos, mas fica sempre um ranço de coisa já por demais vista, falada e discutida. Nada também contra tragédias clássicas, mas são sempre trágicas demais, quase tão trágicas quanto a vida de verdade. Nada ainda contra a pouca idade dos infortunados Montecchio e Capuleto, mas faz-lhes falta uma certa maturidade, aquela maturidade dos trinta ou quarenta, aquela que dá ao amor um sabor especial (beeem... nem a todos! Amores são como vinhos: com a idade alguns melhoram, outros avinagram!) D. Quixote e sua Dorotéia são um caso a verificar mais profundamente, mas de Dorotéia pouco sei e do Cavaleiro dos Moinhos de Vento o que me vem à lembrança é o eterno sinónimo de insanidade... Só que é insanidade demais prá ser só insanidade de amor, é insanidade de muito sol no elmo, isso sim.

Por mim, apenas Abelardo e Heloísa ficam imunes ao desmonte do "Mito de Amor que é Eterno porque é Sofrido" (para saber mais desses dois procure assistir "Em Nome de Deus": é um filme e tanto). Caso real, gente de verdade e não de imaginação de poeta, tragédia vivida e sentida, testemunhada por amigos e parentes, com direito ao túmulo mais visitado no cemitério de Paris (ao menos pelos casais que lá vão fazer sabe-se lá o quê: penso que é um tanto mórbido levar a namorada ou amante prá passear num cemitério, por mais que pareça romàntico à primeira vista.)

O fato é que anda por aí uma certa loucura, um certo "stress" geral. Loucura digitalmente globalizada, financeira e apressada, graças à qual todo mundo não tem mais tempo prá nada, só prá correr atrás ninguém sabe bem do quê. No fundo, no fundo, o que todo mundo quer é trabalhar feito uma mula prá poder ficar à toa mais tarde... em vez de aproveitar logo de uma vez o que se pode... Nada demais, só mais um dos muitos paradoxos desse fim/reinício de milênio e de era. No amor, relação prazerosa entre duas pessoas de sexos quase sempre opostos, isso se reflete de maneiras diversas.
No "Amor Novo e Semanal" o reflexo é o constante desejo de estar, de ver, de sentir, de ser uno com o ser amado e a total falta de condições de tempo e de espaço/distància para isso. São horários de trabalho incompatíveis, estradas e pontes em congestionamento permanente, são contas a pagar e documentos, colégios, shoppings, jeans e tênis, todos exigindo atenção 25 horas por dia. Não há mais a saudade paciente, aquela que se compraz em saber que em algum lugar alguém nos espera nos amando e sentindo a mesma saudade de contar horas e minutos . No "Amor Estabelecido e Diário" o que acontece não é tão diferente. A única diferença no fim das contas é que, sem a distància cotidiana, escovas de dente no mesmo armário, as contas a pagar são integradas numa única e grande dívida, a ser resgatada com os saldos dos bancos e com o tempo para sono e sonho juntinhos no mesmo sofá, eventualmente até na mesma cama, mas raramente no mesmo travesseiro, sem direito àquele ombro dormente que não mexemos prá não acordar a amada.

Há momentos em que é bom se deixar levar pela correnteza. Voltar a ser criança. Viver somente o que se sente.
Ouvir as ondas como sussurros no ouvido, dizendo:
- "Deixa, deixa eu te levar... Deixa... Deixa acontecer..."
- "Se já chegamos até aqui prá que recuar?"
- "Morrer e ficar sem saber se teria sido bom...?"
Pessoas incríveis, não se encontram todos os dias...
Pessoas incríveis são feitas para serem conhecidas.
Você é a pessoa que eu estava procurando... e nem sabia!
Preciso! Quero! te conhecer!!!
[Extraído de uma página recebida via Internet, sem identificação de autor]

Há quem culpe o microcomputador, a Internet e até o Sr. Bill Gates por essa loucura maior da época em que estamos descobrindo como usar máquinas para "reduzir" [sic] o esforço cerebral humano, ao invés do esforço [apenas] muscular, como foi feito nos últimos cento e poucos anos. Usamos essa maquininhas espertas como parceiros de trabalho, de diversão e/ou meros cúmplices para matar o tempo e nem prestamos atenção à armadilha na qual podemos estar [in]voluntariamente entrando. Graças a essa inofensiva invenção, e sempre quando menos esperamos, o destino nos prega uma peça... E que peça! O computador, de repente, torna-se um elo fundamental numa corrente de idéias, sonhos e medos, ligando sentimentos, vidas, pessoas...
Pessoas às vezes inteligentes, outras nem tanto, mas que sempre tem muito a compartilhar, muito a aprender e a ensinar. Pessoas que subitamente são arrastadas num turbilhão que seria inimaginável e incompreensível apenas seis meses antes, pessoas que se deixam levar por essa corrente, conscientes do nado des-sincronizado da vida... É loucura, insanidade, carência, falta de cuidado...? Moinhos de vento, como os do Homem de La Mancha? Claro que não! São "apenas" sonhos... Sonhos não vividos, sufocados mas ainda com um sabor de "por viver" (depois de sabe-se lá quanto tempo) e que explodem na ànsia de ser compartilhados... O sonho de ser dois, de fazer e sentir junto... O sonho de [re]viver... Saudade do que não foi visto...

De Abelardo e Heloísa, que são gente de verdade, é claro que poder-se-ia esperar reações "normais". Quem conhece a história poderia perfeitamente argumentar que o que lhes aconteceu não foi exatamente "normal"... Mas aí é que está: prá época FOI normal... Tão normal quanto é hoje a "desidealização" do ser amado, ou seja, o mergulho consciente na realidade humana das imperfeições próprias e alheias. A descoberta, e rápida e pacífica aceitação, dos defeitos do outro talvez seja a maior dádiva de tudo que a psicologia e outras ciências afins deixaram para as relações amorosas, o que também de nada adiantaria se não tivesse havido, simultaneamente, uma grande transformação na forma que cada ser humano vê o mundo, o outro e a si mesmo.
Talvez qualquer relação seja, hoje em dia, mais agradável depois que o lindo traje de gala dos primeiros encontros começa a ser despido e os "relacionantes" começam a usar pijamas e chinelos sem muita cerimónia... Porque não se tratam apenas de "grandes defeitos" no sentido estrito da palavra, mas de imperfeições (algumas até bem grandinhas sim, e daí?). Essas coisas, quando descobertas, debatidas, analisadas, dissecadas etc. etc. levam não só à auto-descoberta mas também a uma visão muito clara e suave do outro. O outro perde uma parte do seu encanto mas ganha dez vezes isso em realidade. Ganha assim a relação, que pode se assentar em pilares mais concretos (perdão... o trocadilho era inevitável aqui!) Nesse sentido a relação cresce, e muito: ganha contornos de sensatez, perdendo um pouco das surpresas desagradáveis (infelizmente algumas das agradáveis também se vão, mas o que se há de fazer - esse é um bom preço para uma coisa que desejamos duradoura). Não demora nada e uma conhecida mecànica aparece: pode ser na forma de competição perversa, pode ser na forma de jogo saudável, jogado por dois cérebros. A face corrosiva dessa moeda é facilmente percebida por aqueles que estão mais ou menos pelo meio da vida: se eu estou bem você está mal e vice-versa... É a mais comum, sádica e dolorida forma de se relacionar. É preciso espezinhar o outro para estar bem, para estar por cima, para mostrar quem manda, atestando incompetência em lidar com as próprias fraquezas... No jogo saudável há o complemento, a cumplicidade que, mesmo sem necessidade de chegar a extremos, faz da dor do outro a própria dor, do prazer do outro o próprio prazer e o próprio objetivo... e talvez, só talvez, no fim das contas se descubra que esse é o sentido maior da vida toda... talvez seja exatamente disso, desse tipo inusitado de altruísmo egoísta, que profetas e filósofos diversos tenham sempre nos falado. E foi preciso inventarem a Internet prá que descobríssemos uma verdade tão na nossa cara quanto as nossas sobrancelhas.

P.S.: Abelardo e Heloísa tiveram vida sofrida com fim trágico mas, por ser real, o caso deles é no mínimo mais fácil de esquecer...
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