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cronicas-->Meu presente -- 07/07/2008 - 15:18 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu presente

Aroldo Arão de Medeiros

Hoje sou um cara pacato, caseiro, que nunca saio para as festas.
- Por quê?
- Não sei.
Tenho algumas desculpas, umas esfarrapadas e outras, talvez, convincentes.
Uma delas é a idade. Já passei dos cinquenta e estou cansado da noite. Outra, com a qual tento enganar a mim e a quem me lê, é a consciência pesada. Estou arrependido de tudo o que fiz de errado durante meu tempo de casado. Passei a verificar melhor os bons exemplos, como os de meu pai, que jamais traiu minha mãe e, provavelmente, nem em pensamento a trocou por outra. Mas a que mais me convence é que depois de muito tempo descobri que minha mulher é tudo que de belo existe para mim. Sem contar os meus filhos que, junto dela, são a razão de eu viver feliz. E quieto. Enfim, sei e, ao mesmo tempo, não sei por que parei com a vida notívaga e cheia de mulheres.
O que vou contar é uma das coisas das quais me arrependo. Como defesa costumo comentar: o que passou, passou.
Eu sou representante, o que antigamente era conhecido como vendedor. Nessas viagens eu aproveitava o tempo ocioso na noite para ir aos restaurantes e, de preferência, àqueles que tinham música ao vivo. O motivo está mais do que óbvio, conquistar alguma gata para me aninhar por uns momentos.
Certa vez, estava em Rio do Sul trabalhando e, já pensando no que faria à noite, lembrei-me de uma namorada que vez ou outra eu visitava na minha cidade, Florianópolis. Telefonei para o Tino, amigo de festas, e combinei com ele para que levasse o Schumacher e as nossas namoradas na Oktoberfest. Lá faríamos a festa.
Estava casado há quatro anos e minha esposa me pedia um carro para que ela pudesse se deslocar com mais facilidade, pois eu vivia viajando e ela estava condenada a andar sempre de ónibus. Como minhas reservas financeiras eram modestas, eu só tinha capacidade de comprar um fusca usado. Encontrei um, de um amigo de boteco em Rio do Sul, que embora não quisesse se desfazer do carro de jeito nenhum, acabou convencido pelo meu bom papo a vender-me por um preço dentro das minhas possibilidades.
Mandei lavar e encerar o fusqueta para deixá-lo uma tetéia, pois era o mais caro presente dado por mim a uma mulher. E não era uma mulher qualquer, é a mulher que até hoje amo verdadeiramente.
Para não viajar sozinho de Rio do Sul a Blumenau, carreguei dois outros vendedores a quem propus rachar a gasolina. Sacana que sou, chegando a Blumenau levei-os à rodoviária e anunciei que a viagem acabava ali, e menti que ficaria para visitar um tio que não via há muito. Os caras, depois de muita discussão e contrariados pela cobrança da viagem se foram. Até hoje nunca mais falaram comigo.
Tenho a consciência pesada com o que fiz. Hoje isso jamais aconteceria. Vamos continuar a contar o que aconteceu depois. Entrei em contato com o Tino e ele disse que tentou, mas não conseguiu arrancar o Schumacher de casa e que estava levando as três gatas. Procurei hotel e com muito custo consegui um quarto numa espelunca. Lá seria o local de descanso do corpo que estaria estragado por horas de festas.
Fui dar uma volta com o fusca no centro da cidade, para preparar o espírito para a noite. Comprei caneco de chope, chapéu para ficar parecendo o mais germànico possível e tudo que era badulaque para enfeitar minha fantasia pomerana. Parecia uma penteadeira andante.
Bebi algumas cervejas nos bares animadíssimos que existem na beira-rio, ansioso à espera das gatas. Esqueci de conseguir um quarto para o Schumacher e quando ele chegou foi aquele corre-corre. Só encontramos um apartamento num motel. Para não perdermos o embalo, aquecemos nossos corpos na maior festa proporcionada por aquelas mulheres, que sem vergonha nenhuma iam fazendo o que pintava nas suas cabecinhas pecaminosas.
À noite fomos para os pavilhões da maior festa de chope do Brasil e a segunda maior do mundo. Bebemos exageradamente e dançamos até fatigarem-se as pernas. Era só alegria. Só fui para o hotel dar uma descansada no corpo estragado antes de seguir viagem. Ao levantar, tirei do carro tudo que era beresgodel que pudesse lembrar a Oktoberfest e, antes de chegar em casa, passei num posto de gasolina e dei uma geral no presente para a minha esposa.
Cheguei louco para a surpresa, mas a decepção começou quando vi que a mulher não estava em casa. Joguei-me na cama e descansei mais um pouco. Perto do meio dia fui à casa dos pais dela. Era o lugar mais provável que estivesse.
Lá chegando, fui preparando o ambiente. Dei um beijo e, pela reação, notei que não estava sendo correspondido.
- Meu amor, vai ali na frente e veja o que eu te trouxe de presente.
Ela foi, viu e nada comentou. Não entendi e exclamei:
- Aquele fusca é teu!
A resposta, cada vez mais fria:
- De onde vieste?
- De Rio do Sul, é claro. Sabias que eu estava trabalhando lá. Por que essa pergunta agora?
- Seu vagabundo, istepó. Tu não me enganas mais. Estavas na Oktoberfest.
- Eu? Quem disse uma asneira dessas para ti. Passei a noite toda dirigindo esse presente que estou dando com tanto bom gosto e tu me tratas desse jeito.
- Seu salafrário, tu só serves para fritar bolinho. Pensas que não te vi na televisão, brincando de trenzinho com uma sirigaita. Estavas vestido a caráter e com esta cara de bobo. Pode ir para casa que vou ficar com o papai por uns tempos.
- Meu bem, me perdoe. E o presente? Que faço com ele?
- Enfia essa merda no ... e não me procure de jeito nenhum.


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