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Infanto_Juvenil-->Poema para Galileo = Declamo-o infatigavelmente... -- 10/08/2005 - 20:16 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





POEMA PARA GALILEO

Estou olhando o teu retrato
Meu velho pisano
Aquele teu retrato
Que toda a gente conhece
Em que a tua bela cabeça
Desabrocha e floresce
Sobre um modesto
Cabeção de pano

Aquele retrato
Da Galeria dos Ofícios
Da tua velha Florença

Não
Não... Galileo!
Eu não disse Santo Ofício
Disse Galeria dos Ofícios

Aquele retrato
Da Galeria dos Ofícios
Da requintada Florença

Lembras-te?
A Ponte Vecchio
A Loggia
A Piazza della Signoria

Eu sei
Eu sei
As margens doces do Arno
Às horas pardas da melancolia
Ai que saudade
Galileo Galilei!

Olha...
Sabes?
Lá em Florença
Está guardado um dedo
Da tua mão direita
Num relicário
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
Que entraste no calendário

Eu queria agradecer-te
Galileo
A inteligência
Das coisas que me deste
Eu
E quantos milhões de homens
Como eu
A quem tu esclareceste

Ia jurar...
Que disparate
Galileo!
E jurava a pés juntos
E apostava a cabeça
Sem a menor hesitação
Que os corpos
Caem tanto mais depressa
Quanto mais pesados são

Pois não é evidente
Galileo?

Quem acredita
Que um penedo caia
Com a mesma rapidez
Que um botão de camisa
Ou que um seixo da praia?

Esta era a inteligência
Que Deus nos deu

Estava agora a lembrar-me
Galileo
Daquela cena
Em que tu estavas sentado
Num escabelo
E tinhas à tua frente
Um friso de homens doutos
Hirtos
De toga e de capelo
A olharem-te severamente

Estavam todos
A ralhar contigo
Que parecia impossível
Que um homem da tua idade
E da tua condição
Se tivesse tornado num perigo
Para a humanidade
E para a civilização

Tu
Embaraçado e comprometido
Em silêncio
Mordiscavas os lábios
E percorrias
Cheio de piedade
Os rostos impenetráveis
Daquela fila de sábios

Teus olhos
Habituados à observação
Dos satélites e das estrelas
Desceram lá das suas alturas
E poisaram
Como aves aturdidas

Parece-me que estou a vê-los

Nas faces grávidas
Daquelas reverendíssimas
Criaturas

E tu foste dizendo
A tudo que sim
Que sim senhor
Que era tudo tal qual
Conforme
Suas eminências desejavam
E dirias que o Sol
Era quadrado
A Lua pentagonal
E que os astros
Bailavam e entoavam
À meia-noite
Louvores à harmonia universal

E juraste
Que nunca mais repetirias
Nem a ti mesmo
Na própria intimidade
Do teu pensamento
Livre e calma
Aquelas abomináveis heresias
Que ensinavas e descrevias
Para eterna perdição
Da tua alma

Ai Galileo!
Mal sabiam
Os teus doutos juízes
Grandes senhores
Deste pequeno mundo
Que assim mesmo empertigados
Nos seus cadeirões de braços
Andavam a correr
E a rolar pelos espaços
À razão
De trinta quilómetros
Por segundo...

Tu é que sabias
Galileo Galilei

Por isso
Eram teus olhos
Misericordiosos
Por isso era teu coração
Cheio de piedade...
Piedade pelos homens
Que não precisam de sofrer
Homens ditosos
A quem Deus dispensou
De buscar a verdade

Por isso
Estoicamente
Mansamente
Resististe
A todas as torturas
A todas as angústias
A todos os contratempos
Enquanto eles
Do alto inacessível
Das suas alturas
Foram caindo
Caindo
Caindo
Caindo
Caindo sempre
E sempre
Ininterruptamente
Na razão directa
Do quadrado dos tempos...

António Gedeão

E continuam caindo
Caindo
Caindo
Caindo aquém de si mesmos
Além de todos os esmos
Persuadidos ainda
Que estão a subir...
Galileo Galilei !...

António Torre da Guia
Som = Ernesto Cortazar em "All the Way"
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