Estou escrevendo, porque estou mudando de vida. Já tenho 15 anos. Já sou um homenzinho. Acho que você merece que eu lhe diga isso, porque você me agüentou muito nas minhas molequices.
Lembra quando você chegava da faculdade no sábado à tarde e tinha que ir ao terreno da vizinha buscar todas as suas coisas que eu jogava lá: batom, perfume, pente...? Você ficava uma fera e me dava umas palmadas. A minha mãe num gostava muito das palmadas que você me dava, porque, na verdade, acho que ela não gostava de concorrência.
E o dia que eu derrubei a professora com uma rasteira e coloquei fogo na despensa do meu avô. Tudo no mesmo dia.
Ria do meu tio que era vesgo. Perguntava pra ele para onde ele estava olhando. E...bingo... apanhava de novo.
Meus colegas da escola logo que notaram que eu era danado, mas muito covarde, começaram a me dar umas lições e me ameaçavam dizendo que eu ia me arrepender se eu contasse para alguém.
É. Eu não era mesmo alguém a quem se deve chamar de santo.
Mas agora, minha tia querida, eu sou outro. Muito comportado. Ajudo minha mãe em casa. E .... preste bem atenção: arrumei um emprego. Graças a sua ajuda com minhas dificuldades em Português. Trabalho meio horário, ou meio período, como se diz aí em São Paulo. Ganho 300 Reis por mês, fazendo “cartazis e faxas”.