BRASíLIA - Poucas enganações são tão repetidas quanto a suposta genialidade da condução do Brasil a um lugar ao sol no mundo. Fosse o Brasil de Lula um filme de Hitchcock, a política externa seria seu MacGuffin - aquele truque narrativo que parece ser de importància fundamental, o foco do enredo que assombra a todos, mas que no fundo é vazio de sentido real.
Há sucessos e fracassos, como em qualquer governo, mas a importància dos últimos até aqui vem superando a relevància dos primeiros. Independentemente do que for parido pelas conversas da Rodada Doha, a inabilidade mostrada nas negociações é suficiente para colocar a "prioridade" (que já foi Mercosul, união latino-americana, Conselho de Segurança etc.) no rol dos processos mal conduzidos.
Mas nem se trata de analisar casos pontuais. Cada vez fica mais evidente que não é clarividência, ousadia ou, como gostam os itamaratecas, "altivez" o motor que leva o Brasil ao maior destaque nos assuntos mundiais. A conta fica para a inexorabilidade do desenvolvimento de um mundo em que os emergentes deixaram de ser espectadores anódinos. E esse movimento ocorreria com ou sem Itamaraty.
Nós devemos mais à fome por commodities de Pequim e à consciência do desastre geopolítico do petróleo por Washington do que a qualquer arroubo setentista dos "barbudinhos" de plantão. Mas mesmo essa relevància é relativa, já que como potência regional não conseguimos nem sequer projetar influência local. Na hora do vamos ver, o Brasil continua periférico.
Se pode brilhar em algo, é justamente nas áreas em que se destacaria por vocação. Inovação e pensamento estratégico moderno não combinam com a empáfia e o neoestatismo vigentes. Ainda assim, você irá ouvir "ad nauseum" que a nossa política externa é a melhor do mundo. Como Goebbels ensinou, não é?