Minha bisavó costumava dizer que, para as pessoas que gostam de aparecer, só lhes falta pôr uma baita melancia na cabeça. Realmente. A vontade de se exibir, "aquela coisa do holofote", é inerente ao ser humano. Não tem jeito. Existem os que procuram se sobressair de uma maneira mais "light", sem ofender ou machucar ninguém. Usam roupas extravagantes, discursam até em festinha de criança, dão qualquer dinheiro por uma foto no jornal e outras coisas do gênero. Outros, em contrapartida, preferem apelar para a crueldade, mas nem sempre mostram a cara em público. Contentam-se apenas em fazer intrigas ou provocar polêmica. No fundo, o que todo mundo quer é chamar a atenção.
Se o objetivo for divulgar uma idéia de jerico, nada melhor do que a Internet para realizar o sonho do "gênio incompreendido". No final do ano passado, por exemplo, andou circulando pela Grande Rede uma novidade de um tremendo mau gosto: o tal do Bonsai Kitten. Para quem teve a sorte de não tomar conhecimento do assunto, explico. O bonsai do nome faz alusão à arte oriental de cultivar árvores anãs por meio de métodos especais (como a poda das raízes). Já a palavra "kitten" significa gato jovem ou filhote, em inglês. Portanto, um certo Dr. Michael Wong Chang, suposto autor da idéia infeliz, inventou uma técnica que consistia em manter gatinhos, a partir de um mês de vida, no interior de um recipiente de vidro transparente e fechado. Sim, era exatamente isso! O requinte de crueldade do camarada chegava ao ponto de detalhar os procedimentos necessários para que os bichanos se desenvolvessem ali dentro e adquirissem o formato do pote que os continha. Pensaram em tudo. Desde o tipo de vasilhame mais apropriado, de acordo com o "gosto" do consumidor, até a manipulação do animal enclausurado no frasco, com tubos especiais que pudessem alimentá-lo, permitir a troca de ar e remover seus dejetos. Havia até fotos no referido site mostrando o "produto pronto", já em fase adiantada. O internauta também poderia, inclusive, fazer encomendas do material utilizado e pegar informações passo-a-passo de todo o procedimento. Um horror! Alegavam que os gatos eram transmissores de doenças e que mereciam tal destino.
Resultado: causaram uma enorme polêmica. Milhares de internautas morderam a isca, já que o objetivo era, certamente, evocar a piedade e ao mesmo tempo a revolta dos apaixonados e até dos simpatizantes de animais, especialmente dos felinos. Surgiram, então, fervorosas listas de discussão, abaixo-assinados quilométricos, correntes intermináveis e todas aquelas velhas e manjadas formas de repasse de e-mails em forma de protesto.
Moral da história: tudo não passou de uma brincadeira. O tal Dr. Chang nunca foi visto mais gordo, a empresa jamais existiu e ninguém comercializou um Bonsai Kitten sequer. Quem desmascarou a farsa foi a entidade norte-americana protetora dos animais, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). Eles descobriram que a página www.bonsaikitten.com fora desenvolvida por um grupo de estudantes do Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. Ao que consta, um dos responsáveis pela brincadeira garantiu que as fotos eram montagens e que nenhum gatinho havia sido submetido a tratamentos cruéis. Será? Recentemente o FBI entrou na briga para investigar mais a fundo a façanha.
Torço para que os autores da proeza recebam algum tipo de punição. Não só pela iniciativa de incitar pessoas mais perversas a maltratar os animais, mas também porque essa praga de apelos veementes, oriundos de informações falsas, precisa ter um fim. Ou diminuir, que seja. O que não falta é internauta abraçando causas nobres sem jamais averiguar a procedência da informação apelativa ou escandalosa. O pior é que nossas caixas postais vão se entupindo de e-mails sensacionalistas e desnecessários.
Pensando bem, a técnica do Bonsai Kitten talvez não tenha sido totalmente inútil. Para os que realmente querem chamar a atenção e manter uma visão mais moderna de exibicionismo, seus problemas acabaram! Em vez de um gato, usar-se-ia uma melancia dentro do vidro. O ideal seria providenciar um recipiente avantajado e com formato anatômico, para uma perfeita acomodação do extravagante objeto na cabeça dos indivíduos que buscam loucamente a fama. Teríamos, então, um sensacional e prático Bonsai Watermelon! Já que tornei pública minha idéia, só me resta agora esperar que Organizações Tabajara queiram patenteá-la... Quem sabe?
