AMOR CIGANO
© Inkla
Em noite de lua cheia arde a fogueira,
acalora os corações
daqueles que a rodeia.
O povo celebra a vida com música e alegria.
- Tem festa na aldeia!
Das saias, voam babados coloridos.
Filhos do vento: a sorte é marcada
por caminhos percorridos,
percalços revividos do grupo perseguido.
- Tem festa na aldeia!
A mulher de alma incandescente
tem amor latente, suas cartas não mentem.
Dança e canta para espantar
a dor que não consente.
- Tem festa na aldeia!
Com a lembrança das andanças
ela gira como criança.
Entra e sai da roda a toda hora
e troca de par sem demora.
- Tem festa na aldeia!
De repente avista um homem
e um calor a consome.
Levanta a saia, dá uma passada.
Trejeito faceiro, lança um olhar certeiro.
- Tem festa na aldeia!
Corrupia, corrupia a Cigana,
às voltas do eleito fazendo efeito.
Ele, magiado, sente-se tonteado.
Num gesto impensado, dá-lhe um beijo apaixonado.
- Tem festa na aldeia!
Do outro lado está seu ex-amado, irado.
Cruza a roda sem tempo nem hora.
Nada mais importa, quer vê-la morta.
Entra na dança mas o que quer é vingança.
- Tem festa na aldeia!
No vai e vem da faca afiada, ela cai.
Ainda sorrindo, sente sua vida esvaindo.
O sangue pungente comove toda a gente
e, a sua volta, começam a dançar.
- Tem festa na aldeia!
Seu espírito vai saindo
espiralando no ar...
De tanto procurar, quase sucumbindo,
encontra o seu lugar durante o vagar :
- Tem festa na aldeia!
|