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Cronicas-->Falou Bicho -- 18/02/2001 - 00:27 (Maria Antonieta Figueiredo Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FALOU BICHO...

Maria Antonieta Figueiredo Mello

Antes de pegar meu carro no estacionamento do Clube Pinheiros, passo sempre pelo viveiro das araras. Um sucesso de várias gerações de crianças que aprendem a falar com as araras vermelhas e azuis. Há tempos não escuto a "cala a boca", uma arara brava que não gosta muito de barulho. Quando passam falando alto perto do viveiro ela não tem dúvidas, solta um sonoro "cala a boca". Quem não conhece a vermelha mal humorada, leva um susto.

Hoje, ao passar pelo viveiro, vi um tapume cobrindo a parte mais baixa e uma placa: "araras em quarentena por causa de stress". Entrei no estacionamento para pegar meu carro, já estressada com o papelzinho e com a chave sumida na bolsa. Paguei, entreguei o maldito papelzinho e liguei uma música. Chico Buarque cantando seus versos sobre pássaros. Todos os nomes de passarinhos do Brasil, avisando que "o Homem vem aí". Que coincidência engraçada!

Na marginal lotada de carros vim pensando: que bom seria se pudéssemos nós também ficar de quarentena. Pendurar uma placa no pescoço: "não falo, não vejo, não ouço". Sem ter que fazer compras, pagar o cartão de crédito, contas de água, luz, telefone, encher o tanque do carro (e nos dias de rodízio o tanque dos carros dos filhos!). E depois de duas horas no supermercado, ouvir a empregada avisar que acabou o pó de café. Sem ter que atender o telefone que insiste em tocar o dia inteiro. Sem ter que entrar na Internet e ficar muitos minutos ouvindo o computador discar, e esperar se minha senha está correta. Depois entrar em todas as contas de banco para imprimir o extrato. Isso quando a impressora está de bom humor... Sem ter que ir a reuniões da escola dos filhos e escutar os mesmos "objetivos pedagógico-construtivistas" e os "novos métodos de avaliação" (que quase nunca são seguidos, valendo no final a nota das provas). Sem ter que preparar aulas e corrigir centenas de trabalhos e provas de alunos-anjos-adolescentes que pensam que Sócrates é o irmão feio do Raí. Sem ter que sofrer depois que deixa o filho para fazer o vestibular. E sofrer ainda mais quando sai a lista. Sem ter que ouvir as queixas de que "faz tempo que não tem bife" e "nessa casa só tem frango" ou "quem pegou minha calça jeans nova?" ou "por que a faxineira tem que tirar tudo do lugar?". Esse "tudo" são os tênis espalhados pela casa, as revistas pelo chão, as mochilas jogadas perto da porta de entrada, os CDs fora das caixinhas, as toalhas molhadas em cima das camas. Sem ter que sofrer todo fim de semana de madrugada para ouvir os filhos abrindo a porta do quarto devagarinho: "mamãe, já cheguei" ( e são apenas cinco!).

Ai que vontade de apertar um botão e aparecer numa ilha deserta, longe de tudo.

Uma moto maluca quase arranca o espelho do meu carro e me traz de volta ao mundo dos loucos. Esse bem real. Não é permitido sonhar mais. E quando a gente sonha, melhor guardar bem guardado. Podem achar que é loucura. Viajar só com o marido e conhecer as ilhas gregas, assistir uma sessão da tarde bem água com açúcar comendo pipoca. Isso não pode. Nem em sonho.

Amanhã vou fazer uma visita às araras estressadas. Depois de uma hora de ginástica mais meia hora correndo na esteira, talvez uma delas tenha bons conselhos para uma mãe estressada...
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