AS AEROMOÇAS
Outro dia, ao ler uma crónica do Matthew Shirts sobre "As Aeromoças de Pinheiros", lembrei-me daquela história das bolinhas que perseguiam o personagem de Kafka pelas ruas da cidade. E comecei a imaginar o Mathew, fascinado como ficou da primeira vez que as viu andando pelo bairro de Pinheiros... Convenhamos, aeromoças circulando por travessas da rua Teodoro Sampaio é mesmo estranho, parece que algo está fora do lugar. Os aeroportos de São Paulo ficam longe dali. Poderia ter sido uma visão, fruto de sua imaginação criativa. Mas como ele mesmo disse, era de manhã e neste horário nossa tendência é de ser mais realista.
Em todo caso, fiquei pensando no efeito que a visão teria causado nele: passou o dia todo lembrando-se delas e, à noite, sonhou com as duas servindo-lhe aperitivos num longo vóo transatlàntico. E nos dias que se seguiram, sempre a postos em sua varanda, começou a vê-las novamente. Só que agora, para seu prazer, elas se multiplicavam. Uma noite, então, depois de avistar vários magotes daquelas moças impecavelmente trajadas, indo em direção à Teodoro, resolveu descer e segui-las. Foi andando como quem não quer nada e, de repente, ao olhar para trás, notou outros grupos vindo em sua direção. Esfregou os olhos e apertou o passo. Aquelas que iam a sua frente pararam na esquina e as outras aproximavam-se cada vez mais. Todas olhavam fixamente para ele e sorriam, mas havia algo de estranho naqueles sorrisos. Como num pesadelo, ele começou a sentir-se acuado, não teria como escapar...
Bem, o final não foi terrível como imaginei, ao contrário, nosso amigo conseguiu remeter-nos a outros tempos, Ã época charmosa da profissão destas "anfitriãs do ar" ou "estrelas do céu". Além de esclarecer que ali, naquele bairro, havia uma escola para quem quisesse se candidatar a esta profissão.
Ele conseguiu também fazer com que eu me lembrasse de um dos sonhos dourados da minha adolescência. Tive vários, e o de "ser aeromoça" foi um deles...
Beatrtiz Cruz
|
