Fernando Zocca
Sim, meus amigos, Tupinambicas das Linhas também tinha seus ETs. Luísa Fernanda a gerente carimbadora do Brafresco, sabia da existência desses seres, cujo objetivo principal era o de controlar os pensamentos, as emoções e as ações das pessoas.
Os ETs vinham de longe, desciam com seus discos voadores, e instalavam-se em determinados locais, de onde só saíam, para missões especialíssimas. Para se manterem praticamente invisíveis, ocultavam-se impedindo que os pobres mortais da vizinhança pusessem-lhes os olhos.
Os extraterrestres buscavam uma fórmula que garantisse a maior imobilidade dos habitantes da cidade. Parecia que tudo estava travado, os ónibus não cumpriam seus horários, o trànsito caótico mais enervava do que causava satisfação.
Por serem limitadíssimos, os tais ETs desejavam estender suas características, aos demais componentes da sociedade tupinambiquence. Então como agiam há algum tempo na cidade, podia-se ver as consequencias das suas influências: o caos e o congestionamento crónico nas ruas principais da urbe.
Mas Tupinambicas das Linhas não contava com a astúcia do destino: eis que surgiu, assim, como que num passe de mágica, Taissa a verdadeira defensora dos cidadãos oprimidos. Ela apareceu disposta a, mesmo distribuindo tapas e beliscões, a torto e a direito, restituir a honra manchada dos laboriosos moradores da cidade.
Taissa não era muito alta, nem tampouco baixa. Tinha a estatura mediana, a tez alva e os cabelos negros. Quem a conhecia podia afirmar ter ela a mesma índole do pai: impulsivo e inconsequente.
Além dos tais atributos, os observadores poderiam também colocar na lista de traços que a definiam, a tendência para a bebida alcoólica.
Quando Luisa Fernanda concientizou-se de que sua filha poderia conduzir os processos persecutórios excludentes, libertadores da cidade, temeu pela segurança da menina, mas diante dos conselhos da psicóloga do banco em que trabalhava, resolveu deixar que o destino operasse, conduzindo a jovem por seus desígnios.
Naquela manhã de setembro, Taissa desejando acabar de vez com a ousadia dos ETs invasores e percebendo que o maior deles não tinha mais do que 1,64m de altura, disse para a mãe que os atacaria com um golpes de capoeira.
Diante da expressão assustada da mãe, a menina acalmou-a dizendo que se não tivesse sucesso na empreitada, poderia dançar diante daqueles seres toscos que pousaram o disco voador naquele bairro conhecido como El toco Del loco.
Mas Luisa Fernanda, de jeito algum poderia permitir uma insanidade daquelas praticada pela filha. Por isso a gerente carimbadora, tomando o telefone, conclamou Célio Justinho para que "deixasse imediatamente o que fazia e viesse com a máxima urgência para casa, porque Taissa possuída por um surto justiceiro, desejava espancar os ETs do toco Del loco".
Célio Justinho queixando-se de que não poderia ser interrompido por qualquer razão, afirmou que iria, mas garantiu que se a menina quisesse avançar mesmo sobre os ETs, ninguém a impediria.
Célio Justinho chegou em casa e foi logo dizendo:
- Você não sabe ó Luísa, que essas coisas são assim mesmo, que ninguém segura, isso é que nem o fogo morro acima ou enxurrada morro abaixo. Não tem condição. Chegou a hora, minha nega, tchau e bênção.
Com o espírito deprimido Célio voltou para o trabalho, não sem antes, pedir para a mulher que não o incomodasse mais durante as horas de expediente.
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