O vóo, especialmente fretado para os bolsistas do governo francês, saiu do Rio de Janeiro com muito atraso por causa de uma greve na Argentina. Na hora do embarque todo mundo correu, querendo pegar logo seu lugar. Eu fui das últimas a entrar no avião. Os lugares restantes estavam na 1a classe e então viajei confortavelmente instalada, confirmando o ditado: os últimos serão os primeiros.
Fomos muito bem tratados pela tripulação e tivemos até o direto a uma taça de champanhe para comemorar a chegada na França, o que se deu já bem tarde da noite.
Algumas pessoas nos esperavam no aeroporto e começaram a nos separar. Santinho pra cá, fumacinha pra lá, moças de um lado, rapazes do outro. Cada grupo entrou num ónibus e seguiu para destinos diferentes. As moças foram levadas para o "foyer" Des Carmes, no Quartier Latin.
A distribuição dos quartos foi demorada e quando pudemos nos recolher, de duas em duas, estávamos mortas. Só comecei a tomar contato com minha companheira no dia seguinte. Por coincidência, ela também se chamava Beatriz. Gaúcha de Pelotas, tinha cara de boa gente e nos simpatizamos logo.
Começamos a arrumar nossas coisas e, de repente, ela me surpreendeu:
_ Eu trouxe dois quilos de erva, onde será que posso guardar?
Ai, meu Deus! Esta moça com cara de santinha, quem diria?... Sem perceber minha aflição, ela continuou a falar. Nunca tinha saído de Pelotas, estava temerosa de passar tanto tempo sem tomar sua bebida preferida...
Respirei aliviada. Aquele pacote continha dois quilos de erva-mate! A cuia estava em outro embrulho.