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Textos_Religiosos-->DIÁRIO ABERTO DE UM PADRE CATÓLICO -- 27/12/2007 - 11:55 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DIÁRIO ABERTO DE UM PADRE CATÓLICO*
(2007 DEZEMBRO 27)


Depois do natal de calendário que - mais uma vez ficou bem à vista de toda a gente - não tem nada a ver com o natal de Jesus, vem agora aí, por proposta do Papa Bento XVI, o Dia Mundial da Paz de calendário que também não tem nada a ver com a Paz de Jesus. O primeiro Dia Mundial da Paz nasceu na mente e no coração do Papa Paulo VI, precisamente, há 40 anos (1968). Recordo-me como se fosse hoje. Estava então, como capelão militar, no coração da Guerra Colonial, em África, concretamente, em Mansoa, Guiné-Bissau. O "Momento" mundial e eclesial que então se vivia fez acontecer na mente e no coração do Bispo de Roma aquela iniciativa que teve um grande impacto junto dos povos e fez estremecer os respectivos Executivos, tanto os grandes como os pequenos, inclusive, o Executivo português em Lisboa. A mim, trouxe-me a alegria da expulsão de capelão militar, já que, em Mansoa, fiz minha a iniciativa papal e anunciei, com lucidez e audácia, a Paz de Jesus aos soldados do meu Batalhão que, juntamente com os soldados dos demais batalhões portugueses, estavam em África a fazer a Guerra contra os povos africanos que se batiam denodadamente pela sua autonomia e independência. A minha homilia da paz desse dia foi entendida pelo comando do Batalhão como um acto de subversão e de conspiração, o que perfazia um crime de alta traição à pátria. Não me surpreendeu, porque já então começava a perceber que a paz de Jesus é absolutamente incompatível com a paz do Império. Mas já me surpreendeu e até escandalizou, quando vi os meus superiores hierárquicos nas Forças Armadas, institucionalmente meus irmãos na Fé, desde o capitão-capelão que chefiava o serviço de capelães em Bissau, ao Bispo castrense, em Lisboa, a subscreverem, todos à uma, a tese do comando do meu Batalhão 1912, quando o legitimamente esperado por mim é que todos eles fizessem corpo comigo e com a Paz de Jesus que eu havia anunciado. A verdade é que, poucas semanas depois, fizeram-me regressar à diocese do Porto, na condição de capelão militar expulso do Exército e de "padre irrecuperável" (esta última classificação é do próprio Bispo castrense, então, António dos Reis Rodrigues). Ora, entre a iniciativa do Papa Paulo VI e a do Papa Bento XVI há um abismo de 40 anos e de História feita de aceleradas transformações. Aquela nasceu na mente e no coração do Papa que havia prosseguido e encerrado o Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII. O "Momento" mundial e eclesial de então assim lho exigiu. E ele não lhe soube resistir. A iniciativa aconteceu. Como um kairós, um Momento de Graça e de Verdade, por isso, uma Acção histórica com Espírito Santo. Já a iniciativa do Papa Bento XVI acontece, hoje, por imperativo do Calendário. Por isso, sem inspiração. Sem Sopro, o de Jesus. O "Momento" mundial e eclesial, em 2008, é totalmente outro, do de há 40 anos. E está a pedir/exigir uma outra iniciativa, absolutamente inaudita, não a simples repetição da mesma, ano após ano. Bento XVI tinha obrigação de perceber isso, até porque, ao tempo de Paulo VI, já ele era (tido como) um eminente teólogo europeu. Pelos vistos, deixou-se disso e passou a preocupar-se mais com a sua carreira eclesiástica. O teólogo que era, com muito de profeta - não há Teologia do Deus de Jesus, sem Profecia - deu lugar ao burocrata, ao funcionário eclesiástico, ao escriba, ao doutor da lei, ao teólogo do sistema eclesiástico, ao anti-profeta. Em lugar de "descer" na escala hierárquica, até a fazer implodir, "subiu" por ela. E hoje, está no vértice da pirâmide eclesiástica. Para seu mal. E mal da Igreja, que perdeu um teólogo com Espírito Santo e não ganhou um "servo dos servos de Deus", mas um papa-chefe-de-estado, um Inquisidor, um monarca absoluto, um Executivo eclesiástico que está a fazer regredir a Igreja do Concílio Vaticano II para a Cristandade Ocidental que ela foi durante 16 séculos e que o Concílio quis que deixasse definitivamente de ser. O mais grave é que ninguém dos muitos que o rodeiam e subservientemente o acolitam, tem a audácia de lho dizer olhos nos olhos. E ele lá vai, cego e guia de cegos, para o abismo. Os bispos que se encontram com ele e têm acesso a ele poderiam adverti-lo e corrigi-lo, como manda o amor fraterno. E como Paulo, no princípio da Igreja, paradigmaticamente advertiu e corrigiu Pedro. Infelizmente, a relação entre o papa e os bispos deixou de ser de fraternidade, para ser de poder, de autoritarismo. E até os bispos, perante o papa Ratzinger, comportam-se como meninos de coro, como seminaristas, como assustados putos de catequese. Está a fazer falta na Igreja católica uma Insurreição. Da periferia para o centro. A Insurreição da Lucidez e da Audácia. A Insurreição do Espírito Santo. Da Fé cristã jesuânica. Das fiéis leigas e dos fiéis leigos. Das mulheres e dos homens baptizados e crismados no Espírito Santo. Da base eclesial, onde Deus, o de Jesus, está e vive para o vértice, onde está e vive o Poder, sempre demoníaco. Numa palavra, uma Insurreição do Povo de Deus que faça implodir o sistema eclesiástico. O "Momento" mundial e eclesial está a exigir uma iniciativa assim. Só uma uma iniciativa assim será capaz de abalar de novo este nosso Mundo do século XXI, abalar os povos e os Executivos dos povos, tanto os Executivos nacionais, como os Executivos mundiais. O Dia Mundial da Paz, proposto pelo papa Bento XVI é mais do mesmo. É coisa morta, que já cheira mal. Só serve para desmobilizar as Igrejas locais, para as distrair do Essencial, retirá-las ainda mais da História. Neste particular, a própria mensagem do papa assinada por ele para esse dia, é um confrangedor vazio teológico. É um aborto teológico. Um nado morto. Um moralismo rançoso. A começar pelo título: "Família humana, comunidade de paz". Vê-se logo que o papa não vive neste nosso mundo. Nunca a família, concretamente, no modelo que ele descreve na sua mensagem, esteve tão em guerra, foi tão pouco exemplar, esteve tão em crise, foi tão pouco comunidade de paz. E nunca como hoje a Humanidade foi tão pouco família. Como se pode então falar de "família humana, comunidade de paz"?! A realidade contemporânea não é a negação deste enunciado? E que interesse há em falar de família, se nem Jesus se bateu por a defender, pelo contrário, fê-la implodir? Então não sabemos que Jesus nasceu numa família, pelo menos, teologicamente irregular, e não para a conservar como "sagrada família", mas para a fazer implodir? Não acabou escandalosamente sem família, para que o seu projecto político do Reinado de Deus pudesse progredir e desenvolver-se na História? Aliás, para que haja paz, a de Jesus, a única que brota do coito entre a Justiça e a Verdade, entre a Liberdade e a Sororidade/Fraternidade, a família de sangue não tem de implodir e, com ela, o egoísmo institucionalizado que ela é e alimenta? Nascemos numa família, mas não é para a fazermos implodir e, finalmente, podermos ser irmãs, irmãos universais? A fatalidade do nascimento que faz uns nascidos em berço de ouro e outros em estábulos de animais e outros em ambulâncias de bombeiros, uns ricos e outros pobres, uns-com-tudo, outros-sem-nada, não tem que ser vencida, destruída, superada, para nos reconhecermos todos irmãs, irmãos, com efectivo direito aos bens produzidos pelo trabalho, segundo a capacidade de cada qual? Pode haver paz na terra sem fazermos implodir todos estes mecanismos de opressão, estes esquemas ideológicos, estes modelos de família, esta segregação estrutural, esta fatalidade do nascimento biológico? Não somos mais do que o simples biológico? Não somos mais do que simples Natureza? Não somos essencialmente Consciência, seres-em-relação, seres-em-comunhão, irmãs-irmãos-uns-dos-outros? Não é então preciso romper com a família biológica para sermos universais? A Abraão, o da Bíblia, não foi exigido que deixasse a família, a casa dos pais, para ser homem-irmão-universal? Não exige Jesus a quem o queira seguir e prosseguir o seu Projecto político do Reinado de Deus que rompa com a família? A família biológica não é o egoísmo institiucionalizado? Não é ela que faz com que uns vivam em palácios e outros, mesmo ao lado, em barracos? Uns com mesas fartas e outros ao lado sem nada para comer? Não é isto intrinsecamente perverso? Universalizar isto pode conduzir à paz entre os seres humanos e entre os povos? Não é "isto" universalizado que está na origem de todas as guerras? O "Momento" mundial e eclesial está, pois, a pedir uma iniciativa outra que não esta que Bento XVI propõe. Esta que ele propõe é mais do mesmo. É sal sem força. Nem para a esterqueira serve. Em verdade, em verdade vos digo: Está aí a chegar o "Momento" das grandes Insurreições da História. Dos "Tsunamis" políticos dos povos. Mas dos povos desarmados. Dos "cordeiros", não dos "lobos". A Paz de Jesus vem/resulta destes levantamentos massivos e desarmados. Os povos empobrecidos e das periferias avançarão para os centros. Ocuparão os centros, as grandes cidades. Farão implodir a Ordem Mundial do Dinheiro, intrinsecamente perversa, mentirosa e assassina, assente na família estruturalmente egoísta e nos seus múltiplos sucedâneos, cada qual o mais egoísta e inumano. O papa, se fosse profeta, em lugar de Executivo eclesiástico todo-poderoso, mobilizaria os povos para este feito histórico que está já às portas. Assim, com esta sua iniciativa de calendário, o mais que ele consegue é atrasar este "Momento". Por isso, havemos de lhe resistir em Igreja. E estimularmos, como pudermos, os povos para as grandes Insurreições desarmadas que eles hão-de protagonizar, e das quais nascerá uma Nova Ordem Económica Mundial desarmada, tecida de paz, assente na Justiça e na Verdade, na Liberdade e na Sororidade/Fraternidade. Sem nenhuma pessoa e sem nenhum povo de fora da Mesa Comum. Todos incluídos. Todos iguais. Todos diferentes. Todos irmãs, irmãos. Preparemo-nos em Igreja e fora dela para este Momento mundial. Apressemos a sua chegada! Porque só essa paz de Jesus é também a paz dos povos. Será ela que fará implodir a falsa paz do Império, do Dinheiro e da Religião/Templo que sempre conhecemos desde o princípio da Humanidade, e que, se a deixarmos à solta, depois de nos matar a todos, ainda fará das próximas gerações, coisas, não pessoas! Robots, não povos!


*Transcrito do site do padre português, Padre Mário de Oliveira, conhecido como PADRE MÁRIO DE MACIEIRA DA LIXA.


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