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Artigos-->A manipulação da história -- 31/03/2003 - 15:19 (Paulo Eduardo Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É incrível e surpreendente até que ponto se chega a fim de manter o poder. Sendo o governo de um país ou nação uma das expressões máximas do poder nas sociedades humanas – senão a maior expressão – é de se esperar que seja este um dos campos onde se encontrem os maiores exemplos de excessos cometidos em nome do poder. Desde as mais antigas civilizações conhecidas até a idade contemporânea, inúmeros são os métodos utilizados pelos governantes para assegurar suas posições, que com variantes e combinações resultam numa infinidade de estratégias aplicáveis as mais diversas situações. Exemplos não faltam, muitas vezes tão incorporados as próprias tradições da comunidade que chegam a confundir-se com as mesmas. A título de exemplo tome-se os países do islã, marcadamente no inicio da expansão islâmica, onde os ritos e tradições religiosas se colocavam como ferramentas de controle, adaptáveis a casos específicos, conforme conviesse à dinastia no poder, bastando para isso enfatizar ou suprimir trechos da fala do profeta, ou ainda permitir um maior grau de sincretismo entre as populações árabes e os territórios conquistados. As adaptações e variações do método ficam a cargo do país onde ele é aplicado. No Japão feudal a religião é apenas um dos vértices de um complexo código de conduta que inclui honra, lealdade ao imperador, responsabilidade para com a família e os antepassados, além de outros conceitos, tão mutáveis quanto o clã que prepondera sobre o governo, na medida em que cada clã, ao ascender ao poder tende a exaltar as próprias realizações e menosprezar seu antecessor imediato, por vezes buscando no passado do país exemplos que foram feitos esquecer por dinastias anteriores.

Neste contexto, as escolas, o ensino em geral assume uma importância fundamental, não importando se o caráter nacional do ensino tende ao religioso ou ao laico, pois é através do mestre que se repassam as informações necessárias e convenientes, e mestres com opiniões divergentes da oficial representam perigo, dado que o ensino é ministrado somente a uma minoria de nobres e privilegiados, o que torna mais fácil a expansão de novas idéias devido ao pequeno número de pessoas a que era preciso converter. Esses mestres são, portanto, bem gratificados quando de uma boa prestação de serviços e exemplarmente punidos quando passam a tornar-se inconvenientes ou perigosos. Eis um sinal de sua importância.

Estes exemplos podem, talvez, parecer distantes a quem os observe de nossa era, porém, revelam em si as estratégias de garantia de poder utilizadas até hoje por nossos governantes. O caso é que com o advento de novas tecnologias passam a ocorrer relevantes modificações nas sociedades, exigindo assim modificações na aplicação das estratégias para adequá-las à nova realidade que se apresenta. Os já clássicos exemplos da imprensa, do rádio e da televisão dispensam longas explanações, bastando relembrar que repercutiram enormemente nas relações de poder, por ampliar, cada um a sua maneira, o acesso e a qualidade da informação recebida pelas pessoas. Retomemos os exemplos já citados para ilustrar:

O Japão contemporâneo é uma terra de avançada tecnologia, onde se encontram ao alcance da população aparelhos eletrônicos que na maioria dos países do resto do mundo são apenas conhecidos “de ouvir falar”. A base da relação entre o governo e o indivíduo continua, porém, a mesma. Os vértices do código de conduta social continuam quase os mesmos, sendo apenas substituída a fidelidade ao imperador pela fidelidade à pátria, num efeito claro de adequação a uma nova realidade social, onde não cabe mais a noção de um ser humano escolhido pelos deuses para governar, mas onde se encaixa perfeitamente a idéia de uma terra superior as demais, que produz seres humanos diferenciados dos demais, seja por suas características inigualáveis de salubridade, seja por seu relevo ou qualquer outra peculiaridade, que mesmo ao dificultar a vida de seus habitantes os torna mais fortes, aptos, resistentes, fundamentalmente superiores em algum aspecto qualquer. A grande modificação produzida pela tecnologia não apenas no Japão passa a figurar então na velocidade do repasse da ideologia, na ação direta do poder – tanto estatal como comercial – sobre o indivíduo, bem como na enorme massa humana afetada diretamente por esta ação, e ainda na possibilidade de, na maioria dos casos, dispensar-se o uso de intermediários. Esses intermediários no repasse da informação serão necessários apenas em escala mínima e ainda assim apenas para assegurar o desenvolvimento técnico. Não foi o discurso acadêmico que fez com que a sociedade japonesa apoiasse em massa a militarização e a entrada do pais na corrida imperialista, e sim a mídia. Foi a propaganda radiofônica, cinematográfica, jornalística, que, utilizando como ideal o passado guerreiro do Japão no tempo dos clãs Minamoto, Taíra, etc..., e da época do Shogunato, e “esquecendo” da época do clã Fujiwara, influenciou a opinião da população, fazendo-a pender definitivamente para o lado da guerra. E pouco tempo após a derrota, não foi tampouco o discurso acadêmico que fez a nação aderir a uma noção capitalista de sociedade, tornando-se o bastião do capitalismo contra o avanço comunista na Ásia.

Não seria exagero afirmar que o mesmo ocorre em todas as nações do mundo, de forma aberta, comprovada e aceita. Se nos E.U.A. a mídia é utilizada de forma a satisfazer os interesses econômicos das grandes corporações, a educação é utilizada de forma a justificar esta política, e à história cabe o papel de demonstrar como no decorrer do tempo as coisas se encaminharam para tal direção, escondendo as evidências em contrário encontradas no passado e deturpando as reações contrárias esboçadas no presente, na antiga U.R.S.S. cabia à mídia, à educação, à história e aos cidadãos unicamente colaborar com o partido e com a revolução, como se tudo o que tivesse existido antes fizesse sentido apenas em função destes fenômenos e os mesmos fossem o ápice, o clímax para o qual tudo na Terra se houvesse preparado desde o gênesis.

Tudo leva a crer que poder corrupção e falta de ética sejam indissociáveis. Mas talvez esta mesma concepção seja fruto das distorções originadas por um sistema extremamente falho. De qualquer modo talvez caiba a história encontrar provas de que isto foi ou não sempre assim. E uma vez encontradas estas provas, apontando para onde apontarem, é uma certeza que cabe a história relatar os fatos com o máximo de fidelidade possível. Não falo aqui sobre relatar o passado como aconteceu, nem em esforços impossíveis para ser neutro ou coisas do gênero. Falo apenas em não manipular ou esconder propositalmente dados obtidos com pesquisa, mesmo que apontem apenas para possibilidades. Isto é necessário para que se possa esclarecer pontos ainda obscuros da história da humanidade, muitos dos quais permanecem obscuros apenas em nome dos mesmos interesses pessoais disfarçados de interesses nacionais que acabaram por arruinar tanto as possibilidades científicas quanto as sociais de diversas descobertas e projetos. Nisto contaram com a colaboração tanto das redes deficientes de ensino, quanto com a incompetência cega dos meios de comunicação e com a conivência corrupta de homens de negócios de visão curta, que, em nome de um lucro imediato ás vezes nem tão grande assim, comprometem não só seu futuro comercial, como também o futuro de várias outras pessoas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:





1 – A MANIPULAÇÃO DA HISTÓRIA NO ENSINO E NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. Ferro, Marc, 1983. São Paulo, 1983.

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