Sentada no alpendre da frente, apos a ceia, eu, meninota ainda, fazia meu dever de casa. Minha Vo , na cadeira ao lado, observava o velhinho a se aproximar e ao ouvir a saudacao "Me da uma esmola, pelo amor de Deus", sempre dizia para mim: "Se voce nao vai dar esmolas a quem pede, deve pedir perdao!"
E as vezes bem mais facil dizer: "Perdao!" e os esmoles se vao... essa era minha opiniao, mas Vovo insistia, com seu olhar austero e bondoso:
"Levante! va buscar nem que seja um pedaco de pao." E eu ia.
Muitas vezes eu resmungava que ja vira este pedinte ontem, ante-ontem e outro dia... e Vovo em sua suprema sabedoria a me lembrar: "E seu estomago esteve satisfeito em cada ocasiao, nao negue ao pobre uma simles refeicao."
Eu pequenina e impaciente, aprendiz ainda no livro do viver, obedecia por respeito.
Apos uma duzia de vezes, eu ja sabia que era direito. O esmole se achegava ao portao, Vovo me olhava, e eu seguia pra cozinha, em busca de alguma coisinha. Era um pouco de sopa (no caneco azulao), duas bananas, qualquer agrado. "nem que seja um pedaco de pao".
"Que Deus te abencoe!", eu sempre ouvia o brado.
E no peito, um calorzinho bom, a testemunhar que havia feito uma boa acao, Vovo a aprovar.
Assim aprendi a licao do dividir que multiplica,
pois "Deus realmente nos abencoa a cada dia,
e amor ao proximo".
Vovo explica.
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Do livro Retalhos de caminhos.
Rosalice de Araujo Scherffius
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