Eu falo muito aos meus alunos que a educação depende mais do próprio aluno e não se o professor é eficiente, simpático, conservador ou revolucionário.
Todo professor tem muito a oferecer, pois possui conhecimento, basta apenas que o aluno saiba buscar isso nele. Assim é na Vida e na Natureza.
Eu particularmente acho que aquele que realmente se aprofunda em algum assunto tem mais possibilidade de vencer na vida. Prefiro um advogado que trata de assuntos exclusivamente esportivos do que um advogado generalista. Sempre digo que o importante é estabelecer um nicho, concentrar-se num foco e ser um especialista. Lembro agora de um salão de beleza que vi em Recife que só cuida de crianças. O ambiente era todo decorado com motivos infantis e eu pensei...que lindo é a especialidade e como são vulgares aqueles canivetes do tipo faz tudo...nunca gostei deles.
Neste sentido, o pintor que mais admiro, entre todos, é Michelângelo Merisi da Caravaggio, o pai da pintura barroca. Este imenso mestre italiano, ao contrário dos ícones da Alta Renascença – Leonardo, Rafael e Michelângelo Buonarroti – não se perdeu em outras atividades, seja artística ou científica, para se dedicar exclusivamente à pintura.
Caravaggio foi o pintor mais revolucionário de todos os tempos e conseguiu algo que admiro mais ainda num gênio; ser a síntese maior de um período anterior e atual e dar início à uma época totalmente nova. Sebastian Bach seria um deles, pois foi a síntese maior do barroco na música e abriu os horizontes da música futura. Beethoven seria outro exemplo, pois sintetizou Mozart e Haydn de forma inteligente e ampliou a linguagem, dando impulso ao que viria a ser a música romântica. Entretanto Caravaggio ( 1571-1610 ), devido ao tempo em que viveu, deve ser eficientemente comparado com outro gênio revolucionário do mesmo período: Monteverdi ( 1567-1643 ), que, assim como Caravaggio, foi a síntese maior de tudo que foi descoberto pela Renascença e deu o impulso inicial para a arte barroca. O que um é para a pintura, o outro é para a música.
Monteverdi praticamente inventou a ópera e sintetizou toda a música feita antes, criando o novo. Caravaggio fez o mesmo; absorveu todos os elementos da pintura da Alta Renascença, aproveitou algumas regras do Maneirismo – escola que surgiria para combater as regras fixas da Renascença, já em decadência - e mesclou tudo de forma inteligente, realista, comovente, natural, mas ainda assim, dramática ao extremo. Criou o foco exagerado nos personagens. Trouxe o humanismo para a pintura de uma forma nunca antes tão convincente, natural e dramática ao mesmo tempo.
Foi, sim, aos meus olhos, mais revolucionário que Rafael, Leonardo DaVinci ou Michelângelo na pintura, seu único e exclusivo ofício. Sendo um homem que negou o Maneirismo, foi o último grande artista renascentista e o maior deles, fazendo a Pintura Renascentista “pular” para algo maior e mais completo. Sua obra dá sentido a tudo que fora inventado antes dele. Caravaggio, com sua arte sincera, fez a Renascença transbordar para algo nobre: a pintura barroca, missão que o Maneirismo não conseguiu realizar.
Isso tudo porque Caravaggio foi teimoso, estabeleceu um nicho, concentrou-se num foco e foi um especialista.
Texto: Prof. Denison – História da Arte
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